Comitê interministerial é mobilizado, empresários são chamados à mesa e Alckmin defende reciprocidade econômica para proteger economia, negócios, empregos e soberania nacional
Por Ronald Stresser | Sulpost© Lula Marques/Agência Brasil |
Na manhã de ontem, terça-feira (15), as cadeiras do Palácio do Planalto não estavam apenas ocupadas — estavam carregadas de expectativa. Empresários da indústria brasileira chegaram em silêncio, muitos com pastas repletas de relatórios, planilhas e incertezas. À tarde, seria a vez dos representantes do agronegócio. O motivo da mobilização não era pequeno: a taxação de 50% imposta pelos Estados Unidos a produtos brasileiros.
O governo federal, representado pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, abriu os trabalhos com um discurso firme, mas conciliador. “Vamos buscar a negociação com tranquilidade, mas com todo empenho”, afirmou. “O Brasil não tem superávit com os Estados Unidos. Aliás, o contrário. E não há justificativa técnica ou comercial para essa medida.”
Alckmin fez questão de frisar que a diplomacia seguirá seu curso institucional, sem ceder a pressões que desrespeitem os poderes da República — uma referência indireta à fala recente de Donald Trump, que sugeriu ao Brasil medidas contra o Supremo Tribunal Federal (STF) como forma de retaliação. O governo brasileiro rechaçou prontamente qualquer ingerência nesse sentido.
Chamado à união nacional
Mais do que pedir paciência, Alckmin convocou os setores produtivos à ação. “É importante a participação de cada um de vocês, nas suas áreas específicas, para fazermos um trabalho em conjunto”, disse. Em um momento em que a política internacional ameaça atravessar a porta das fábricas e das fazendas brasileiras, o apelo do vice-presidente é claro: é hora de o Brasil agir com unidade.
Na plateia, empresários escutavam atentamente. Alguns faziam anotações. Outros trocavam olhares discretos, conscientes de que a reunião não era apenas uma formalidade, mas o início de uma estratégia conjunta.
O agronegócio, tradicionalmente mais alinhado aos mercados norte-americanos, chega à mesa com receios específicos. A elevação das tarifas pode comprometer a competitividade de produtos como soja, carne bovina e celulose — pilares das exportações brasileiras. Já a indústria teme perder fôlego justamente quando dava sinais de recuperação, especialmente nos setores siderúrgico e automobilístico.
Resposta à altura
A iniciativa do governo marca a primeira grande ação do Comitê Interministerial de Negociação e Contramedidas Econômicas e Comerciais, recém-criado para lidar com a crise. Composto pelos ministérios do Desenvolvimento, da Fazenda, das Relações Exteriores e da Casa Civil, o comitê terá a missão de articular respostas políticas, econômicas e diplomáticas à taxação norte-americana, prevista para entrar em vigor em 1º de agosto.
Segundo o governo, uma proposta de negociação já havia sido enviada aos EUA em maio, de forma confidencial, mas não houve resposta. “Até sexta-feira [11], antes do anúncio, ainda estávamos em conversas técnicas”, revelou Alckmin. O silêncio do governo norte-americano, no entanto, foi seguido de uma medida unilateral.
Agora, com o decreto que regulamenta a Lei de Reciprocidade Econômica publicado nesta terça-feira, o Brasil se prepara para adotar contramedidas, caso a negociação fracasse. A nova legislação permite ao governo impor tarifas semelhantes a produtos de países que adotem medidas comerciais consideradas hostis ou desproporcionais.
A íntegra do decreto pode ser consultada no site da Agência Brasil: Governo publica decreto regulamentando Lei de Reciprocidade Comercial.
A economia real no centro da crise
Apesar do tom técnico das discussões, o pano de fundo é eminentemente humano: empregos, renda, segurança alimentar e industrial. É por isso que Alckmin insistiu tanto na cooperação com empresas brasileiras e também norte-americanas. “A taxação encarece e prejudica a economia dos dois países”, alertou. “Temos uma relação de reciprocidade consolidada, especialmente no setor siderúrgico. Romper esse equilíbrio é ruim para todos.”
Na prática, o governo brasileiro se prepara para enfrentar semanas intensas de diplomacia, articulação com o Congresso e aproximação com o empresariado. Não será uma missão simples. Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, e qualquer estremecimento nas relações pode ter efeitos profundos em toda a cadeia produtiva.
Pacto pelo Brasil
Se há algo que essa terça-feira deixou claro é que o Brasil pretende reagir com maturidade, sem abrir mão da firmeza. “Não se trata de uma guerra, mas de uma defesa”, sintetizou um dos empresários presentes, que preferiu não se identificar. “Precisamos preservar a dignidade das nossas exportações sem perder a razão. E o governo está nos ouvindo.”
Na medida em que os próximos dias se desenham, o que está em jogo vai além das cifras: trata-se da posição do Brasil no mundo, de sua capacidade de dialogar sem se curvar, de proteger seu povo e seu futuro.
📝 Matéria de Ronald Stresser para o Sulpost, com informações da Agência Brasil. Para sugestões de pauta ou comentários, escreva para 41992814340
Nenhum comentário:
Postar um comentário