O mundo à beira do abismo: Brasil condena ataques e pede diplomacia em meio à escalada de guerra entre Irã, Israel e EUA, que pode acabar envolvendo outros países muçulmanos
Por Ronald Stresser | SulpostUma nova noite caiu sobre o Oriente Médio — mas não com silêncio. No lugar das estrelas, mísseis cruzaram o céu. Em Teerã, Tel Aviv, Esfahan e Nova York, o mundo prende a respiração diante de uma guerra que já não respeita fronteiras e ameaça não apenas os povos diretamente envolvidos, mas toda a estabilidade internacional. Do outro lado do Atlântico, o Brasil se manifestou neste domingo (22) com preocupação e firme condenação aos ataques.
Em nota oficial, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) declarou ver “com grave preocupação” os ataques coordenados de Israel e dos Estados Unidos contra instalações nucleares no Irã. Para o governo brasileiro, as ações violam a soberania iraniana e o direito internacional. “Ações armadas contra instalações nucleares representam uma grave ameaça à vida e à saúde de populações civis, ao expô-las ao risco de contaminação radioativa e a desastres ambientais de larga escala”, afirma o Itamaraty.
A nota vem à tona após uma escalada sem precedentes. No último sábado (21), bombardeiros B-2 norte-americanos atacaram três centros estratégicos do programa nuclear iraniano — Fordow, Natanz e Esfahan. O presidente Donald Trump, em pronunciamento triunfal, confirmou que os pilotos retornaram com segurança à base no Missouri. Poucas horas depois, em retaliação, o Irã lançou dezenas de mísseis contra cidades israelenses, incluindo Tel Aviv e Haifa. Sirenes de ataque aéreo voltaram a soar em solo israelense — sons que já fazem parte da rotina de milhares de famílias.
Um conflito que não tem dono — nem inocência
A guerra já havia se expandido semanas antes, quando Israel, alegando informações de inteligência sobre a iminente fabricação de uma arma nuclear, acabou mais recentemente lançando um ataque surpresa ao território iraniano. Desde então, a retórica de vingança tomou forma real. O embaixador do Irã na ONU, Amir Saeid Iravani, foi enfático em seu pronunciamento ao Conselho de Segurança neste domingo: “A escala da resposta será definida por nossas Forças Armadas, no tempo e da forma que considerarem adequados”.
Enquanto isso, os estragos se multiplicam. Hospitais, escolas, zonas residenciais — alvos “colaterais” em um conflito onde as regras da guerra parecem mais frágeis do que nunca. O Irã insiste que seu programa nuclear tem fins exclusivamente pacíficos. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), embora sem provas definitivas sobre a existência de um arsenal em desenvolvimento, vinha alertando para o descumprimento de obrigações do país. Para Teerã, a AIEA age sob influência das potências ocidentais.
O Brasil, por sua vez, reafirmou sua defesa histórica do uso pacífico da energia nuclear e rejeitou com veemência qualquer forma de proliferação. Mas também foi claro ao condenar ataques mútuos em áreas civis. O apelo do Itamaraty é por contenção. Pela diplomacia. Pela paz.
Efeitos que chegam dobram a esquina
Nos postos de gasolina do Brasil, o conflito já se faz sentir. O preço do barril de petróleo ultrapassou os 100 dólares, arrastando junto o valor do gás liquefeito de petróleo (GLP), o gás de cozinha. Em comunidades mais vulneráveis, famílias se veem obrigadas a improvisar entre o fogo e a lenha. A guerra que explode a milhares de quilômetros de distância chega sem aviso, como uma sombra silenciosa, na rotina dos brasileiros.
O impacto geopolítico também é profundo. Alemanha, França e Espanha, ainda abaladas pelos ataques do fim de semana, clamaram por diálogo. O Papa Leão XIV apelou para que “a diplomacia silencie as armas antes que o abismo nos devore”. E, na ONU, a China pediu cessar-fogo imediato, exigindo o fim do uso da força em nome da estabilidade mundial.
O fio tênue que resta
Se ainda existe algo entre o caos e a razão, é a esperança. A esperança de que, mesmo nas salas escuras onde se costuram guerras, possa haver espaço para o gesto humano. Para a escuta. Para o acordo.
“Estamos diante de uma encruzilhada histórica”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres. “Ou escolhemos a destruição mútua garantida, ou escolhemos a reconstrução mútua possível.”
No silêncio dos bastidores diplomáticos, cada palavra pesa mais do que uma bomba. No campo de batalha, a cada hora que passa, o preço da demora se mede em vidas — e em um planeta que se sente cada vez mais à beira do abismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário