segunda-feira, 19 de maio de 2025

Os bastidores do escândalo no INSS

Por que o Brasil precisa de investigação, e não de espetáculo: os bastidores do escândalo no INSS

Por Ronald Stresser, da redação.
 
 

Na fila de um posto do INSS, na Praça Santos Andrade, em Curitiba, dona Maria, 74 anos, acaricia um envelope plástico com seus documentos. Ela veio tentar entender por que, mês após mês, parte de sua aposentadoria sumia sem explicação.

“Disseram que era contribuição voluntária pra uma associação que nunca ouvi falar”, lamenta.

A voz embargada, porém, ganha firmeza ao falar da recente operação da Polícia Federal: “Finalmente estão fazendo alguma coisa”.

Cleonice é um dos milhares de brasileiros que podem ter sido vítimas de um esquema bilionário que atravessou gestões e sobreviveu na sombra das instituições.

A fraude, hoje investigada pela Polícia Federal em parceria com a Controladoria-Geral da União, tem raízes profundas, com registros de denúncias desde 2016 — ainda no governo Michel Temer — e atravessando o período Bolsonaro.

Mas é agora, em 2025, sob o terceiro mandato do presidente Lula, que a investigação finalmente avança com a seriedade e independência que o caso exige. E isso não é um detalhe. É uma virada de página.

A podridão sob o tapete

As denúncias começaram tímidas. Um servidor do INSS, ainda em 2016, levou à Polícia Federal suspeitas de repasses irregulares de verbas públicas para uma associação de peritos médicos presidida pelo marido de uma diretora do órgão.

Ele também alertou a presidência do INSS na época. Como resposta, foi afastado, transferido para um setor marginal, um cemitério profissional de quem ousava questionar. “Queriam me apagar”, contou sob anonimato.

Outras denúncias viriam, mais contundentes, em 2020. Aposentados rurais começaram a relatar descontos indevidos nos contracheques. A Polícia Civil do DF e o Ministério Público local apontaram um aumento alarmante de repasses à Conafer — uma confederação que, em um ano, multiplicou seus ganhos em mais de 16 mil por cento. Mas a tentativa de operação foi barrada na Justiça. Os autos subiram para instâncias superiores e... silêncio.

A mudança de cenário

Essa história poderia continuar a ser varrida para debaixo do tapete — como tantas outras. Mas no governo atual, a Polícia Federal tem carta branca.

A Operação Sem Desconto, deflagrada em abril, até agora já cumpriu 211 mandados e levou à prisão seis envolvidos. O presidente do INSS foi demitido, e o ministro da Previdência, Carlos Lupi, deixou o cargo.

Não houve blindagem. Não houve interferência. Diferente dos anos de inércia e dos sigilos de 100 anos, a estrutura de investigação ganhou autonomia, recursos e respaldo político. A prioridade agora é apurar, responsabilizar e, sobretudo, ressarcir os lesados.

A tentativa de transformar justiça em palanque

No rastro da operação, vozes do Congresso passaram a articular a criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre o INSS. Mas a quem interessa essa comissão, quando a Polícia Federal e os órgãos de controle já atuam com total liberdade? Quem ganha com o espetáculo, enquanto as vítimas esperam por justiça?

A resposta parece evidente: a CPMI não nasce da indignação com os fatos, mas da conveniência política. É instrumento de quem mira 2026 e vê no tumulto uma escada. De quem flerta com o caos como método e quer transformar o Congresso em ppalanque eleitoral — mesmo que isso custe a estabilidade institucional duramente reconquistada.

Como lembrou um deputado governista, “CPMI agora só serve para tumultuar, desacreditar a PF e dar palco para oportunistas. É política da terra arrasada”.

Um país que começa a sorrir outra vez

Depois de anos de ataques à ciência, às instituições e à própria democracia, o Brasil reencontra o prumo. A economia dá sinais de retomada, os indicadores sociais melhoram, a imagem internacional se reabilita. Há diálogo, há estabilidade. E há esperança — ainda frágil, ainda desigual, mas real.

Não há mais espaço para aventuras golpistas disfarçadas de zelo. A fraude no INSS precisa, sim, ser investigada a fundo. E será. Mas no foro certo, com os instrumentos certos — e com a responsabilidade que o momento exige.

Porque o Brasil já sangrou demais por conta de quem apostou no “quanto pior, melhor”.

Agora é hora de reconstruir. Com justiça, com transparência — e com serenidade. É o que a dona  Maria, de Curitiba e tantas outras Marias e Josés do nosso país esperam. E eles, que tanto já contribuiram com o progresso do Brasil, sim, merecem ser ouvidos.

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