segunda-feira, 19 de maio de 2025

Você tem medo da IA? Espere até a SIA

Computação quântica pode inaugurar nova era de vulnerabilidades digitais — e o tempo está correndo

Por Ronald Stresser*
 
 

Na virada para o ano 2000, o mundo prendeu a respiração. O chamado “bug do milênio” parecia prestes a causar um colapso digital global, fruto da limitação dos sistemas em lidar com a mudança de data para quatro dígitos. No fim, o susto passou com menos estrago do que se temia — mas deixou uma lição: quando a base tecnológica que sustenta o mundo começa a dar sinais de obsolescência, é melhor correr. Agora, um novo alerta ganha força nos bastidores da computação global. E ele tem nome e sobrenome: Super Inteligência Artificial (SIA) turbinada por computação quântica.

Durante o Summit Tecnologia e Inovação, promovido pelo Estadão no último dia 14, a engenheira sênior da IBM e embaixadora de Computação Quântica da empresa, Ana Paula Appel, não economizou no tom ao prever o que pode estar por vir. “Estamos diante de um possível novo bug do milênio, só que ainda mais grave”, afirmou. “Se não agirmos agora, a computação quântica poderá quebrar os sistemas de criptografia mais seguros do mundo até 2030.”

A previsão já é reconhecida pela comunidade científica. E não se trata de ficção científica, mas de matemática aplicada e engenharia em evolução acelerada.

Chaves quebradas, cofres abertos

A ameaça gira em torno da capacidade dos computadores quânticos de quebrar algoritmos de criptografia hoje considerados invioláveis — como o RSA, base de segurança para bancos, sistemas militares, redes de e-mails e até o blockchain que garante a integridade de criptomoedas como o Bitcoin. Para quem ainda vê o blockchain como inquebrantável, vale lembrar: pesquisadores chineses já conseguiram violar uma chave criptográfica com um computador quântico comercial, acendendo o alerta vermelho.

“Ainda não é o fim da linha para o Bitcoin, mas a pergunta certa é: por quanto tempo?”, provoca Appel. A resposta, ao que tudo indica, é: menos do que imaginamos.

O cérebro de Deus (em estágio beta)

A computação quântica, ao contrário da tradicional, não opera com bits que representam 0 ou 1. Ela trabalha com qubits, que podem estar em múltiplos estados ao mesmo tempo graças ao fenômeno da superposição. Essa estrutura permite que o computador processe milhões de possibilidades simultaneamente — uma vantagem brutal para tarefas como quebra de códigos, simulação de moléculas e otimização de sistemas complexos.

Mas a virada de chave não virá sozinha. Ela está intimamente conectada à ascensão da chamada Super Inteligência Artificial, ou SIA — um estágio onde a IA não apenas aprende, mas evolui sozinha, sem supervisão humana. O ex-CEO da Alphabet (dona do Google), Eric Schmidt, foi direto: “Em menos de seis anos, a IA terá rompido com a inteligência humana”.

Se a SIA utilizar a computação quântica como alavanca, o cenário será de ruptura — com o risco de que essa inteligência ultrapasse o controle de seus próprios criadores. Uma espécie de HAL 9000, a IA onipotente e impiedosa do filme 2001: Uma Odisséia no Espaço, mas fora das telas.

Quantum safe: corrida contra o tempo

“Não é mais uma questão de se, mas de quando”, diz Appel. “A migração para sistemas ‘quantum safe’, resistentes ao poder da computação quântica, precisa começar já.” E não é tarefa fácil: envolve reprogramar aplicações, redes, sistemas bancários, cadastros médicos, redes militares. Cada migração pode levar anos. “Estamos em 2025. Em seis anos, já será 2031. Vai ter passado o prazo”, ela alerta.

Empresas como IBM e Nvidia estão investindo pesado para liderar essa transição. A IBM anunciou um aporte de US$ 150 bilhões nos Estados Unidos para acelerar o desenvolvimento da computação quântica.

A Nvidia, por sua vez, negocia investimento em startups quânticas para garantir presença no novo ecossistema digital.

O que está em jogo? Tudo.

Privacidade, finanças, soberania digital, defesa nacional. A computação quântica é uma chave mestra capaz de abrir todas as portas. Em mãos erradas, pode se tornar uma arma cibernética sem precedentes. Em mãos certas, uma ferramenta revolucionária para curar doenças, criar novos materiais e avançar a ciência.

A engenheira da IBM deixa uma última reflexão: “A computação quântica não vai substituir a clássica, mas vai reconfigurar o que entendemos como segurança. E, quando a SIA chegar, é melhor que estejamos prontos”.

No ano 2000, o bug do milênio foi contornado. Em 2030, talvez não tenhamos a mesma sorte. É melhor começarmos a escrever os códigos do futuro — enquanto ainda somos nós que estamos no comando.

*com informações dos portais Estadão, Forbes Brasil, Teletime, Gizmodo e entrevistas públicas com Ana Paula Appel (IBM) e Eric Schmidt (Alphabet).

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