terça-feira, 13 de maio de 2025

Fentanil: o alerta silencioso que bate à porta do Brasil

O fentanil já chegou no Brasil: a nova droga, que mata em minutos e ameaça calar vidas no Brasil, já está circulando, mas ainda há tempo de evitar o pior

Por Ronald Stresser*

 
 

O mundo já perdeu a guerra contra as drogas. Essa constatação, ainda incômoda para muitos, precisa ser o ponto de partida para qualquer conversa séria sobre o assunto. Há décadas, assim como acontece com outros países em desenvolvimento — inclusive em alguns desenvolvedos —, nosso país aposta na repressão e na criminalização. O problema é que os dados, as ruas e as famílias escancararam o óbvio: o combate violento só multiplicou o sofrimento. Hoje, o que se impõe, por se mostrar eficaz, é um caminho mais humano — orientar, educar, acolher. E quando o uso se transforma em abuso, só uma política realmente prática tem se mostrado efetiva: a redução de danos.

É nesse contexto que um novo e assustador capítulo começa a se desenhar: a chegada do fentanil.

O perigo tem nome e sobrenome

O fentanil é uma droga sintética, da família dos opioides, inicialmente criada para uso hospitalar. No ambiente médico, salva vidas ao aliviar dores intensas, como as causadas por câncer ou por cirurgias complexas. Fora dali, no entanto, o mesmo medicamento se transforma em um veneno mortal. Bastam dois miligramas — o equivalente a dois grãos de sal — para provocar uma overdose. É até 50 vezes mais potente que a heroína e cem vezes mais forte que a morfina.

Nos Estados Unidos, essa substância devastou comunidades inteiras. Milhares de jovens morreram dormindo, acreditando ter consumido um comprimido de ecstasy ou uma carreirinha de cocaína, quando, na verdade, o que havia ali era fentanil — muitas vezes misturado sem o seu conhecimento. O risco não é apenas o vício extremo e quase imediato, mas a letalidade silenciosa. Em poucos minutos, o corpo para de respirar.

E agora, o Brasil já começou a registrar os primeiros sinais de que o mesmo pesadelo pode estar batendo à nossa porta.

Um país ainda despreparado

As primeiras apreensões da droga em território brasileiro ligaram o alerta. Foram frascos, cápsulas e ampolas desviadas de hospitais ou trazidas por rotas clandestinas. O que antes parecia distante agora já faz parte da realidade das periferias e centros urbanos do país.

A diferença é que aqui ainda não há estrutura suficiente para lidar com o problema. Poucos profissionais de saúde estão capacitados para identificar ou tratar overdoses causadas por fentanil. A naloxona — antídoto eficaz contra opioides — é praticamente inacessível fora dos hospitais. E, pior, a população em geral sequer sabe que essa droga existe, muito menos que ela pode estar disfarçada em outras substâncias mais conhecidas.

Enquanto isso, traficantes e atravessadores já enxergam no fentanil uma “nova mercadoria” poderosa e barata para aumentar o efeito de outras drogas e fisgar novos consumidores.

Redução de danos: a escolha possível

Diante dessa ameaça, a única resposta realista é abandonar o discurso moralista e abraçar a redução de danos como política pública. Isso não significa incentivar o uso — significa salvar vidas. É fornecer informações claras, distribuir antídotos em pontos estratégicos, garantir que usuários tenham acesso a atendimento digno e seguro, e criar campanhas que falem abertamente sobre o risco real do fentanil.

Mais do que nunca, precisamos ouvir quem está na ponta: profissionais da saúde, agentes comunitários, famílias que já perderam alguém. O que eles dizem, quase em uníssono, é que o acolhimento salva. O julgamento, não.

Ainda dá tempo de agir

O Brasil tem a chance de evitar uma epidemia — como acontece nos EUA. Mas o tempo é curto. O fentanil já está aqui, circulando pelas mãos de quem vende e de quem consome sem saber. Fingir que o problema não chegou só vai antecipar tragédias.

Essa é uma escolha que precisa ser feita agora — não nos gabinetes, mas nas ruas, nas escolas, nas unidades de saúde, nas conversas entre pais e filhos. O futuro pode ser diferente do que se viu lá fora. Mas só se olharmos para o presente com coragem.

A guerra está perdida. Mas a vida, essa ainda pode ser salva.

*com informações do Conselho Federal de Farmácia, BBC e CNN.

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