O último adeus começa: corpo de Papa Francisco chega à Basílica de São Pedro e fiéis já prestam suas homenagens
Na manhã desta quarta-feira, 23 de abril (Dia de São Jorge), os sinos da Cidade do Vaticano não anunciaram apenas o início de mais um dia — eles dobraram em sinal de luto. Às 9h no horário local (a diferenca de fuso-horário da Itáliapara o Brasil é de cinco horas), sob uma procissão carregada de silêncio e reverência, o corpo do Papa Francisco chegou à Basílica de São Pedro, onde ficará exposto até sexta-feira para a visitação pública dos fiéis. É o início do último adeus ao homem que, por doze anos, foi pastor do mundo e voz dos esquecidos.
O caixão aberto de Francisco deixou a capela da Casa Santa Marta — onde viveu e morreu — conduzido entre preces e aplausos. Antes da saída, uma oração íntima foi presidida pelo cardeal Kevin Farrell, marcando o começo de uma despedida que já se desenha como uma das maiores cerimônias fúnebres da história recente da Igreja Católica.
O cortejo atravessou a Praça de Santa Marta e a dos Protomártires Romanos, passando entre cardeais, religiosos e fiéis visivelmente emocionados. O caixão com o corpo do papa foi colocado no chão, em frente ao altar da nave central da Basílica de São Pedro, entre colunas milenares, afrescos renascentistas, relíquias sagradas e vitrais que testemunharam os séculos de história da fé católica. O velório do papa, cercado por flores, lágrimas e orações vindas dos quatro cantos do mundo, continua agora a visitação pública. Calcula-se que mais de 1,5 milhão de pessoas decem passar pelo velório até a manhã de sábado (26), quando acontecerá o funeral oficial, às 10h (5h no horário de Brasília).
Do Brasil, a comoção atravessa o oceano. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou presença na cerimônia, acompanhado da primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja. Mais do que um gesto de protocolo, a viagem é expressão de um laço real: o Brasil aprendeu a amar Francisco como se fosse um dos seus. Em nota oficial, Lula o chamou de “o mais brasileiro dos argentinos”, destacando seu sorriso, sua alma popular e o compromisso firme com os humildes.
“O mundo se despede de um homem que fez da fé um ato de resistência e compaixão. Francisco foi o papa dos excluídos, dos sem voz, dos que caminham à margem. Sua grandeza foi viver como viveu: ao lado dos últimos”, afirmou Lula, que decretou luto oficial de sete dias no país.
Junto a Lula e Janja, embarcam também o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e o presidente do STF, Luís Roberto Barroso. É mais que uma comitiva de Estado — é um cortejo de afeto, de um povo que, mesmo distante, se sentiu tocado pela coragem e doçura de um papa que fez do Evangelho carne e gesto.
O funeral e o desejo final de Francisco
O funeral será presidido pelo Decano do Colégio Cardinalício, Giovanni Battista Re, e reunirá chefes de Estado, líderes religiosos e autoridades de todo o mundo. Mas, como já se viu nesta manhã, ali ninguém terá status. Serão todos peregrinos diante da memória de um homem que viveu com os pés no chão e o coração entregue.
Francisco também quebrou tradições na morte. Em testamento, deixou claro o desejo de não ser sepultado nas criptas da Basílica de São Pedro, mas sim na Basílica de Santa Maria Maggiore, seu santuário de devoção à Virgem. É ali, entre mosaicos milenares e o fluxo constante de anônimos, que ele fará sua morada final. Pediu apenas uma lápide simples, com a inscrição: Franciscus.
“Desejo que minha última viagem terrena se conclua justamente neste antiquíssimo santuário Mariano, onde costumava rezar no início e no fim de cada Viagem Apostólica”, escreveu, num pedido que resume toda a sua humildade.
Sede vacante e o silêncio que antecede o novo
Com a morte de Francisco, a Igreja entra em estado de *sede vacante*. O Colégio Cardinalício, agora sob os holofotes do mundo, prepara-se para o conclave. Dos 252 cardeais vivos, 135 têm direito a voto. Entre eles, sete brasileiros. A escolha do novo papa ainda levará alguns dias, talvez semanas, mas enquanto isso o mundo observa — e reza.
Na noite desta quarta-feira, enquanto multidões silenciosas entram na Basílica para se despedir, a pergunta que paira no ar não é apenas “quem será o próximo?”, mas “quem continuará sua missão?”. E talvez, entre as vozes que ecoam em São Pedro, a resposta venha não com palavras, mas com o exemplo: o de um papa que não teve medo de sujar as sandálias do pescador no barro do mundo.
*com informações do jornal O Globo e Vatican News.

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