terça-feira, 22 de abril de 2025

Os olhos do mundo voltados para a chaminé da Capela Cistina

Sete brasileiros e um conclave decisivo: o voto verde-amarelo na escolha do próximo papa

Por Ronald Stresser*
 
Chaminé solta fumaça branca na tarde nublada: Habemus Papam - Arquivo/Sulpost
 

A chaminé da Capela Cistina ainda não soltou a fumaça branca para anunciar o novo líder máximo da Igreja Católica, mas os olhos do mundo já se voltam para um grupo seleto de homens notáveis, vestidos de vermelho.

Assim que o Papa Francisco morreu, aos 88 anos, na manhã de ontem (21), na Casa Santa Marta, onde ele morava, o Vaticano entrou em estado de Sé Vacante, do latim: Sede Vacante. O termo é usado há muitos séculos para denominar o momento em que a Cátedra de Pedro, posto máximo da Igreja Católica Apostólica Romana, permanece vago. A vacância ocorre até a eleição do novo sucessor de São Pedro como novo Sumo Pontifíce.

Assim que todos os ritos fúnebres de Francisco forem concluídos, e o Vaticano respeitar os nove dias de luto previstos na Sé Vacante, vai ocorrer a escolha do próxima liderança máxima da Santa Sé. A eleição, que só chega ao fim quando existe consenso, é feita pelo Colégio Cardinalício, que já foi convocado e têm a responsabilidade de organizar o conclave. Os trabalhos são cordenados pelo carmelengo, posto ocupado atualmente pelo cardeal Kevin Farrell, irlandês que ocupa interinamente a chefia de Estado do Vaticano.

O conclave é uma eleição indireta, realizada por um colégio eleitoral  que reúne 135 cardeais eleitores — dos quais sete são brasileiros. É a maior representação do país em uma eleição papal.

Esse cenário tem um peso simbólico e político: 108 desses eleitores foram nomeados pelo próprio Francisco, o que significa que sua visão pastoral e missionária ainda ecoa dentro do Colégio Cardinalício. Entre os brasileiros, há nomes com trajetória ligada à Amazônia, à periferia, à educação e ao diálogo com outras culturas. Todos eles, embora votantes, também são elegíveis. Sim, é possível que o próximo papa tenha nascido em solo brasileiro.

O Brasil no coração do Vaticano

Hoje, o Brasil conta com oito cardeais vivos — homens que chegaram ao mais alto posto da hierarquia da Igreja antes do papado. Desses, sete ainda têm direito a voto na escolha do novo papa. O único que não participará do Conclave já passou dos 80 anos, idade-limite para ter voz ativa nesse momento decisivo da Igreja. Essa regra, como tantas outras, é seguida à risca, conforme determina a constituição apostólica Universi Dominici Gregis, documento que orienta todo o processo de sucessão papal com a solenidade e o cuidado que o momento exige.

Os cardeais brasileiros aptos a participar do Conclave são:

  • Dom Odilo Pedro Scherer, com 75 anos de idade, é o atual arcebispo do estado de São Paulo. Dom Odilo foi nomeado cardeal em 2007, pelo Papa Bento XVI;
  • Dom João Braz de Aviz, com 77 anos é ex-arcebispo de Brasília e foi nomeado cardeal em 2012, também por Bento XVI;
  • Dom Orani João Tempesta, com 74 anos, Dom Orani é o e atual arcebispo do Rio de Janeiro, ele foi o primeiro cardeal brasileiro ordenado pelo Papa Francisco, em 2014 (segundo fontes do Sulpost, ele é um 'papável', e pode surpreender o mondo);
  • Dom Sergio da Rocha (65), arcebispo de Salvador, criado por Francisco em 2016;
  • Dom Paulo Cezar Costa, arcebispo de Brasília, cardeal desde 2022;
  • Dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, também cardeal desde 2022;
  • Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre e atual presidente da CNBB, criado cardeal em dezembro de 2024.

Desses sete, cinco foram elevados ao cardinalato pelo Papa Francisco, o que sinaliza não apenas confiança, mas também afinidade com seu projeto pastoral de uma Igreja próxima dos pobres, das periferias e da natureza.

Quem são esses homens?

Dom Odilo, figura conhecida por seu perfil doutrinário e firme, já esteve entre os cotados no conclave de 2013. Dom João Braz de Aviz, nascido em Mafra (SC), é respeitado por seu trabalho no Vaticano à frente da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada. Dom Orani foi anfitrião de Francisco na Jornada Mundial da Juventude de 2013, no Rio, e tem profundo trânsito entre movimentos populares.

Já Dom Leonardo Steiner é um símbolo da Igreja na Amazônia. Franciscano, foi secretário-geral da CNBB durante o pontificado de Bento XVI e hoje lidera a arquidiocese de Manaus, no coração das discussões sobre ecologia integral. Dom Sergio da Rocha, de perfil conciliador, é o único brasileiro no seleto Conselho de Cardeais que auxilia o governo central da Igreja.

Dom Paulo Cezar e Dom Jaime representam a nova geração do episcopado. O primeiro vem se destacando pelo trabalho na capital federal; o segundo tem dado novo fôlego à CNBB, com uma liderança dialogal e missionária.

A fumaça que fala

O processo do conclave permanece envolto em uma liturgia antiga e fascinante. Os cardeais eleitores se reúnem na Capela Sistina, fechada ao mundo exterior, e votam em sucessivas rodadas até que um nome alcance dois terços dos votos. Após cada escrutínio, as cédulas são queimadas: se a fumaça é preta, não houve consenso; se branca, habemus papam — temos um novo papa.

Enquanto esse momento não chega, é tempo de oração, especulação e expectativa. A CNBB convidou as comunidades católicas brasileiras a se unirem em preces pela alma de Francisco e pelo discernimento dos cardeais. Durante a Oitava da Páscoa, missas são celebradas com paramentos brancos e incluem uma intenção especial ao pontífice falecido.

O testamento espiritual de Francisco, redigido em 2022, também emocionou fiéis: pediu um túmulo simples, sem adornos, na Basílica de Santa Maria Maior, com a inscrição “Franciscus”. Um pedido humilde, como foi sua vida.

Um filme, um espelho

Para quem deseja entender a complexidade do que está por vir, fica a sugestão: assista ao filme Conclave (2024), o longa transmite a tensão, o sigilo e os dilemas morais de um conclave — um espelho atemporal para o que ocorre hoje no coração da Igreja Católica.

O filme ganhou um Oscar de melhor roteiro adaptado na cerimônia de 2025. A obra, inspirada no livro de mesmo nome, mistura fatos e licenças criativas sobre a eleição papal.

Na ficção e na realidade, o que está em jogo não é apenas a liderança de 1,3 bilhão de fiéis, mas o rumo espiritual e geopolítico de uma instituição milenar. E dessa vez, sete vozes brasileiras ajudarão a moldar esse futuro.

Que sopre o Espírito Santo. E que o Brasil, mais uma vez, tenha sua fé e seu povo representados no centro da cristandade.

*com informações da CNBB. Ronald Stresser é sacerdote religioso no Brasil, tendo sido feito Pai de Santo na Umbanda, religião brasileira que possui sincretismo religioso com a Igreja Católica.

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