quarta-feira, 23 de abril de 2025

Minérios do futuro: o Pará na corrida global por recursos estratégicos

Na corrida global por minérios estratégicos, o Brasil corre o risco de virar zona de sacrifício climática

Por Ronald Stresser*

 
Imagem: Observatório da Mineração
 

Em um mundo sedento por energia limpa e tecnologias sustentáveis, a corrida pelos chamados "minerais de transição" – essenciais para turbinar a economia verde – virou uma disputa de gigantes. China, Estados Unidos, Europa. Cada qual com sua estratégia, suas ambições. Mas sob os trilhos dessa locomotiva geopolítica de alta velocidade, há territórios e populações que podem estar sendo esmagados.

O Brasil, que abriga algumas das maiores reservas de terras-raras do mundo, figura como peça-chave nesse novo tabuleiro. Do lítio ao nióbio, do cobre ao grafite, nosso subsolo virou ativo estratégico. Mas a que custo?

Um relatório inédito do Observatório da Mineração, em parceria com o Mission Climate Project, da Inglaterra, joga luz sobre os impactos cumulativos da mineração no país. O documento traz uma revelação inquietante: o Pará – justamente o estado que sediará a COP 30 em 2025 – é hoje a região mais vulnerável aos riscos climáticos entre os principais polos mineradores do Brasil.

“A combinação entre atividades extrativistas em larga escala e a intensificação das mudanças climáticas está comprometendo a segurança hídrica, acirrando os desastres ambientais e expondo comunidades inteiras a riscos extremos”, alerta Gabriela Sarmet, consultora do Observatório. “Estamos criando zonas de sacrifício no Brasil para atender à demanda de descarbonização do Norte global.”

O paradoxo é brutal: enquanto Belém se prepara para receber líderes do mundo inteiro em uma conferência voltada à preservação do clima, no interior do estado, frentes de mineração seguem empurrando a floresta para o chão. O desmatamento avança, os rios secam, os ecossistemas se fragilizam.

O estudo também aponta outros estados em situação crítica, como Minas Gerais, Goiás e Bahia. Mas no caso do Pará, a situação é mais simbólica – e mais alarmante. Em um estado que já concentra parte significativa da devastação amazônica, a pressão sobre os chamados “minerais do futuro” pode ampliar tragédias já anunciadas.

A corrida pelos minérios não é apenas técnica ou econômica. É política, estratégica, civilizatória. E está sendo disputada a tapa. A China, por exemplo, lidera com folga o domínio da cadeia global de produção de terras-raras. Já os Estados Unidos, de olho em alternativas, têm buscado ampliar sua influência sobre reservas da Ucrânia e até da Groenlândia.

O Brasil é tímido e parece indeciso,  em meio a didputa internacional por minérios raros. Precisamos fazer duas perguntas. Vamos nos posicionar aoenas como fornecedores de matéria-prima bruta, ou nos colocaremos como protagonistas de uma transição justa, visando uma exploração sustentável das nossas jazidas, respeitando as pessoas e o meio ambiente?

Até 2028, há pelo menos US$ 64 bilhões em investimentos previstos no setor brasileiro de mineração, incluindo novos projetos de exploração de minérios estratégicos. É uma cifra tentadora, mas que pode sair cara – ambiental e socialmente.

O relatório recomenda uma guinada urgente: regulamentações mais rígidas, estratégias efetivas de adaptação climática, proteção aos direitos das comunidades locais e uma reavaliação profunda do modelo minerador. O recado é claro: não há futuro sustentável com extrativismo predatório.

Enquanto o mundo se reúne em Belém para debater caminhos para salvar o planeta, o Brasil terá diante de si um espelho. E a pergunta não poderá ser evitada: queremos mesmo ser protagonistas da solução climática global – ou continuaremos sendo cúmplices do problema?

*com informações do Observatório da Mineração.

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