sexta-feira, 25 de abril de 2025

O dia da prisão de Fernando Collor de Mello

Brasil à beira de um novo capítulo histórico: prisão de Collor se torna símbolo de alerta para Bolsonaro

Por Ronald Stresser, da redação.

 
Collor apoiou o governo Bolsonaro - Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
 

Na manhã desta sexta-feira, 25 de abril de 2025, o Brasil amanheceu diante de um daqueles momentos que misturam choque e memória. É como se o tempo tivesse dado uma volta amarga: Fernando Collor de Mello, primeiro presidente eleito pelo voto direto após a redemocratização, está prestes a ser preso. Aos 75 anos, o alagoano entrará para a história — mais uma vez — como o terceiro ex-presidente brasileiro a ser encarcerado desde 1988. E, tudo indica, não será o último. Em Brasília, o clima é de tensão abafada. Jair Bolsonaro, dizem aliados, está em pânico. Entre adversários, o sentimento é de que ele já se reconhece no destino do ex-colega de palanque — e de farda, agora manchada.

A ordem de prisão foi assinada e emitida pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Collor foi condenado a 8 anos e 10 meses por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Moraes, o mesmo que vem conduzindo com mão firme o inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023 — e que se tornou o maior pesadelo de Bolsonaro —, deixou claro mais uma vez: o Brasil pode até ter memória curta, mas ele não tolerará impunidade. Nem para quem já ocupou o mais alto cargo da República.

A prisão de Collor é simbólica. Vai além dos R$ 20 milhões em propinas que ele recebeu entre 2010 e 2014, quando era senador. O que se tem diante dos olhos é o peso de décadas de impunidade vindo à tona com a força de uma maré tardia, mas inexorável. E o que assusta Bolsonaro é exatamente isso: o timing.

O fantasma da cela vizinha

Nos bastidores do PL, partido do ex-presidente, a sensação é de cerco fechado. Bolsonaro já foi indiciado pela Polícia Federal por tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. A expectativa é de que a Procuradoria-Geral da República apresente a denúncia ainda neste primeiro semestre. E com Moraes como relator, poucos duvidam de uma condenação célere.

Para aliados mais íntimos, Bolsonaro tem alternado crises de irritação e momentos de silêncio absoluto. Seu entorno evita mencionar o nome de Collor. A ordem é minimizar a gravidade da situação, mas os sinais são visíveis: há semanas o ex-presidente tem evitado eventos públicos, reduzido aparições nas redes sociais e, segundo fontes próximas, chegou a consultar criminalistas experientes sobre prisões em regime fechado. O “mito” que já se dizia perseguido agora teme ser preso como criminoso comum.

O peso da história

Com a eventual prisão de Bolsonaro, o Brasil passará a ter dois ex-presidentes presos simultaneamente — uma marca inédita no período republicano. Desde a redemocratização, quatro dos seis homens que vestiram a faixa presidencial foram parar atrás das grades: Lula (preso entre 2018 e 2019), Michel Temer (duas passagens curtas em 2019), Fernando Collor (agora, em 2025) e, possivelmente, Bolsonaro.

Na prática, isso significa que dois terços dos presidentes pós-ditadura foram alvos de investigações, processos ou condenações. Um retrato contundente da relação do poder com o crime no Brasil. Mas, para além da estatística, a prisão de Collor reacende outra ferida nacional: a crença — ou descrença — na justiça como redentora de um país sistematicamente saqueado por suas lideranças.

O último ato de um homem que já caiu duas vezes

Collor deixará sua mansão em Maceió nesta manhã, escoltado pela própria história. O mesmo homem que, em 1992, renunciou para escapar de um impeachment, agora se entrega à Justiça para cumprir uma pena por crimes cometidos décadas depois. É como se o Brasil, 33 anos após sua queda, finalmente fechasse o ciclo iniciado com os “caras-pintadas” nas ruas.

Na decisão que determinou a prisão, Alexandre de Moraes foi cirúrgico: considerou os recursos da defesa “protelatórios” e reafirmou que não há mais margem para manobras jurídicas. O julgamento no plenário virtual do STF começa hoje e, embora o rito exija confirmação da Corte, a prisão pode ocorrer a qualquer momento — o que torna esta sexta-feira um divisor de águas na política nacional.

O Brasil que emerge

Enquanto Collor se entrega, Bolsonaro observa. E teme. Porque diferente de Collor, que teve quase 30 anos entre a presidência e a cadeia, o capitão reformado pode não ter nem três. E caso o STF mantenha a firmeza que tem demonstrado nos processos derivados do 8 de janeiro, o futuro poderá lhe reservar o mesmo destino — com mais rapidez, mais repercussão e menos clemência.

É irônico que o país que lutou tanto pela democracia desde 1985 veja hoje metade de seus ex-presidentes presos ou processados por corroer justamente os pilares desse regime. Mas talvez, no meio dessa tragédia democrática, haja uma esperança silenciosa: a de que o Brasil esteja, enfim, aprendendo que ninguém está acima da lei — nem mesmo aqueles que, um dia, mandaram nela.

Hoje, Collor cai, Bolsonaro entra em pânico, com uma prisão que também parece eminente, e o Brasil observa, dessa vez confiante em dias e em escolhas melhores. Afinal o STF parece deixar muito claro um recado, que serve para todos os brasileiros: o crime não compensa e o colarinho branco não anistia criminosos. Poder não pode ser sinônimo de impunidade.

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