A farra acabou: com PF livre para agir, Lula desmonta esquema bilionário contra aposentados iniciado em governos anteriores
Por Ronald Stresser| Operação Sem Desconto, da Polícia Federal, em vários estados brasileiros contra fraudes no INSS — Foto: Polícia Federal |
Quarta-feira passada, 23 de abril de 2025, uma cena emblemática selou o fim de uma era de impunidade no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Foi com a caneta firme e o coração atento que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou, ainda na manhã de quarta-feira, a exoneração de Alessandro Stefanutto da presidência do INSS. A decisão veio assim que Lula soube, pelos próprios chefes da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União, que Stefanutto estava no centro de uma trama bilionária que atingiu em cheio quem menos podia se defender: aposentados e pensionistas.
O esquema, revelado pela operação Sem Desconto, não nasceu ontem. Começou lá atrás, no governo Temer, criou raízes no governo Bolsonaro — quando nada foi feito para freá-lo — e só agora, com a autonomia reconquistada dos órgãos de controle, começa a ser desmontado. Estima-se que R$ 6,3 bilhões tenham sido arrancados do bolso dos mais vulneráveis por meio de descontos indevidos, feitos sem consentimento, mês após mês, em nome de associações que muitos sequer sabiam que existiam. A farra só teve fim quando o governo deixou claro: ninguém, por mais alto que esteja, será poupado se trair a confiança do povo.
Mais do que números, trata-se de vidas. Milhões de idosos — gente que trabalhou a vida inteira e vive com benefícios muitas vezes inferiores a um salário mínimo — tiveram parte de seus vencimentos drenada por associações e sindicatos que descontavam, sem autorização, mensalidades “fantasmas” diretamente da folha do INSS.
A investigação revelou o que muitos beneficiários já suspeitavam ao conferir seus contracheques: uma cobrança que não era solicitada, que ninguém sabia ao certo de onde vinha, mas que, mês após mês, subtraía alguns reais preciosos do sustento de famílias inteiras. A prática foi tolerada e aprofundada entre 2019 e 2022, no governo Bolsonaro, segundo o deputado Zeca Dirceu (PT-PR). “Ninguém fez nada, pois não havia independência da Polícia Federal nem ação da Controladoria Geral da União para investigar esses governos”, afirmou o parlamentar.
Com Lula, a virada
Mas os tempos mudaram. Com Lula de volta ao Planalto, a Polícia Federal — antes aparelhada e usada politicamente — voltou a ter liberdade para agir, doa a quem doer. A CGU foi reestruturada, ganhou musculatura e voltou a exercer seu papel de guardiã dos recursos públicos. “Lula acabou com a farra do INSS”, reforça Zeca Dirceu.
O presidente foi informado logo no início da manhã de quarta-feira sobre o teor da investigação. Ao tomar conhecimento dos fatos, Lula não titubeou. Determinou, ele próprio, a demissão de Stefanutto. O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, relatou a jornalistas a postura firme do presidente: “Ele demonstrou preocupação e pediu detalhes. Assim que compreendeu o tamanho da fraude, mandou afastar”.
Stefanutto, que havia sido indicado para o cargo pelo ministro da Previdência, Carlos Lupi, é um dos seis servidores públicos investigados. Antes de assumir a presidência do INSS, ele já era diretor de Orçamento, Finanças e Logística da autarquia — justamente a área envolvida na autorização dos descontos suspeitos.
Autonomia e reparação
Diferentemente do que ocorria em administrações anteriores, a nova gestão não tentou blindar aliados nem protelar medidas. Ao contrário: o governo Lula anunciou a suspensão imediata de todos os acordos de cooperação técnica que permitiam às entidades fazerem descontos diretamente nos benefícios do INSS. O ministro da CGU, Vinicius Marques de Carvalho, informou que será feito um pente-fino nas cobranças e que o governo irá garantir a restituição dos valores descontados indevidamente.
“Não temos como dar prazo agora, mas quem foi lesado será ressarcido”, afirmou. Já a diretora Débora Floriano garantiu que um plano detalhado está em elaboração para devolver o que foi tirado injustamente dos segurados. “Vamos tratar todas as informações com responsabilidade e trabalhar em uma força-tarefa conjunta para o ressarcimento integral.”
O peso do exemplo
A operação foi contundente: 211 mandados cumpridos em 13 estados e no Distrito Federal, com sequestro de bens que ultrapassam R$ 1 bilhão — incluindo Ferraris, joias, um Rolls-Royce e mais de US$ 200 mil em espécie. Cinco pessoas já estão presas. Entre os crimes investigados estão algumas das práticas mais perversas contra o interesse público: corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e formação de organização criminosa. Atos que, longe de serem meras palavras jurídicas, representam escolhas conscientes de enganar, desviar e lucrar às custas de quem já vive com pouco.
Para além da punição, o caso serve como um marco: não há mais espaço para esquemas silenciosos contra a população mais vulnerável. A PF, que já foi chamada de “engavetadora” em governos passados, age agora com independência. “Essa é a diferença que um governo sério faz”, como disse Gilberto Carvalho ainda em 2012, quando a autonomia da corporação começou a ser consolidada sob Lula.
Se antes a proteção aos poderosos era regra, agora ela dá lugar à transparência e à justiça. A Operação Sem Desconto não é só sobre fraudes — é sobre dignidade. É sobre respeitar quem já contribuiu com o país e agora precisa apenas viver com tranquilidade.
E, principalmente, é sobre mostrar que, num Brasil que volta a se levar a sério, ninguém está acima da lei.

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