Em uma maratona de encontros com sindicatos, movimentos populares, educadores e lideranças políticas, Gleisi reorganizou a militância, fortaleceu o palanque de Lula e transformou a redução da jornada e o fim da escala 6×1 em pauta nacional
Por Ronald Stresser — Sulpost ·
| Ministra Gleisi (SRI) - Joédson Alves/Ag. Brasil |
As conversas partiram da UGT e passaram por sindicatos bancários, por atos culturais e por lançamentos de livros. Em cada parada, uma pauta emergia clara: trabalho digno. No centro — o fim da escala 6×1 e a redução da jornada para 40 horas semanais sem perda salarial — bandeiras que a ministra colocou como política de Estado, e não mero discurso eleitoral.
UGT: pesquisa, pressão e reconhecimento
A tarde começou com um diálogo franco com lideranças da UGT Paraná. Entre pedidos e relatos, Gleisi insistiu numa ideia que repete como fio condutor: as grandes mudanças não caem do céu — nascem da pressão organizada. “A isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil só aconteceu por causa da pressão organizada dos trabalhadores”, disse, olhando nos olhos dos sindicalistas.
O presidente da UGT, Manassés Oliveira, entregou à ministra a pesquisa da Paraná Pesquisas que mostra: 52% da população reconhece a importância dos sindicatos para a defesa de direitos. O número foi recebido como confirmação de um caminho — de que a organização sindical tem ressonância junto às famílias que acordam cedo para trabalhar.
Da UGT ao Sindicato dos Bancários: pluralidade, cultura e luta
A movimentação seguiu para o Sindicato dos Bancários de Curitiba, onde um ato ampliado reuniu movimentos sociais, setores da educação, lideranças do PT e partidos aliados. Foi ali, em meio a discursos técnicos e relatos pessoais, que a política se fez festa e firmeza: a bateria da Escola de Samba Rosa do Povo reafirmou que o tom do encontro era popular — e que política se constrói com corpo e memória.
Presenças como a do vereador Angelo Vanhoni e da superintendente Regional do Trabalho, Regina Cruz, marcaram a pluralidade do encontro. Em tom de escuta ampliada, Gleisi colocou o Paraná no mapa estratégico do governo: a construção de um palanque estadual, com Requião Filho (PDT) como pré-candidato ao governo, e a projeção de nomes para o Senado, como o do dirigente Enio Verri, são parte da articulação que visa consolidar o desempenho de Lula num estado onde o PT historicamente enfrenta resistência.
O fim da escala 6×1 como questão de dignidade
As federações — FECEP, Fetracoop, Fenarte, Vigilantes, Sigmuc e Sindacs — trouxeram projetos e demandas concretas. Entre elas, a que mais inflamou o debate: o fim da escala 6×1. Para trabalhadores e trabalhadoras que suportam ciclos extenuantes, a proposta não é técnica; é humana.
Gleisi não tratou a pauta com cautela retórica: afirmou que a redução da jornada e o fim da escala são parte de um projeto nacional de recuperação da vida cotidiana, de respeito às famílias e à saúde do trabalhador. Falou de política social com o tom de quem conhece a dor em que a falta de tempo se converte.
Ponta Grossa: cultura, memória e peso institucional
À noite, em Ponta Grossa, a ministra conferiu peso institucional ao lançamento do livro Melodia de Uvaranas, do ex-prefeito Péricles de Holleben Mello. No Cine-Teatro Ópera, o público mesclou artistas, acadêmicos, lideranças e moradores — e a presença de Gleisi transformou o lançamento em exemplo de como cultura e política se alimentam. O reitor Miguel Sanches Neto apresentou a obra; Gleisi, atenta, ouviu e conversou até o fim.
Preparando 2026 com urgência e afeto
No sábado, os diálogos continuam no Sindipetro: planejamento estratégico do PT, reuniões internas e a avaliação de que a visita devolveu ânimo à militância. Dirigentes locais repetem a mesma percepção: a passagem da ministra reorganizou prioridades e devolveu à luta um senso de missão compartilhada — pela defesa do trabalho digno, pela educação pública valorizada e pela cultura como tecido social.
A agenda política ganhou ainda mais contorno diante das declarações do senador Flávio Bolsonaro, que falou em um “preço” para desistir da candidatura. Gleisi reagiu com veemência: classificou a fala como chantagem e alertou que a anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro seria uma afronta à democracia e ao Parlamento.
Um recado que é convite
O que ficou da passagem por Paraná não é apenas um calendário adiantado: é um recado que mistura convite e cobrança. Gleisi acelerou discussões, costurou alianças e deixou claro que 2026 já começou — não como data distante no horizonte, mas como processo imediato que exige organização, escuta e coragem.
A política que ela trouxe ao chão paranaense confirmou algo simples e profundo: quando a disputa se dá em torno de direitos — do trabalho, da educação, da cultura — a batalha não é por poder apenas; é por futuro.
Jornalista responsável: Ronald Stresser · Sulpost

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