quarta-feira, 23 de abril de 2025

Fé nas ruas: sincretismo e devoção marcam o Dia de São Jorge no Brasil

Fé nas ruas, bênçãos no corpo: o Rio e Curitiba celebram São Jorge com devoção e sincretismo

Por Ronald Stresser*
 
 

23 de abril, dia de São Jorge – No coração fervilhante do centro do Rio de Janeiro, a imagem do santo guerreiro une multidões sob o sol escaldante. Um mar de fiéis de vermelho e branco toma conta das ruas, carregando nas mãos rosas, espadas simbólicas e pedidos silenciosos. É dia de São Jorge – ou Ogum, para os que o reverenciam nos terreiros de umbanda e candomblé. O sincretismo religioso que molda a alma carioca pulsa vivo neste 23 de abril.

Logo cedo, ainda com a cidade acordando, a artesã Maria Rosa, moradora de Vista Alegre, já estava na fila que contornava a Igreja de São Jorge. Entre uma oração e outra, ela confidenciava seus motivos: “Venho todo ano. Peço força, saúde e trabalho. Meu pai está com câncer de pele, minha mãe vive com dores... é aqui que eu renovo minhas esperanças”.

A poucos passos dali, a bênção não vinha apenas em latim. Vestido de branco e cercado por ervas, o babalorixá Luiz Alberto de Oxóssi estendia as mãos sobre cada cabeça que se aproximava. “Hoje São Jorge e Ogum caminham juntos. A rua vira templo. A gente traz o axé para quem não pode pagar por um banho completo, para quem precisa de energia positiva. Isso aqui é o Brasil”, disse ele, sorrindo sob o peso dos colares coloridos.

O funcionário público Leonardo Nascimento, 36, desceu as escadas da igreja com lágrimas nos olhos. “É uma emoção que não dá pra explicar. É minha mãe que me ensinou essa fé. Toda vez que venho, volto mais forte”, conta. Na saída, um seminarista aspergia água benta com uma escova encharcada. O calor não intimidava o jovem Marcos Paulo Telles, 22, em plena jornada para se tornar padre. “Eles vêm buscar bênçãos, mas também nos abençoam com sua fé”, disse, com o rosto suado e expressão serena.

Ali, na esquina entre o sagrado católico e as tradições afro-brasileiras, a manicure Julia Firmino Rosa, de 27 anos, dava a receita do dia perfeito: “Primeiro a missa, depois a igreja, e por fim o banho com ervas. Fazemos isso todo ano. São Jorge nos dá livramentos, saúde. Ele é nossa força”.

 
Paróquia em Curitiba celebra São Jorge todo dia 23 de abril com tradicional venda de bolos e festa - Foto: Raphael Pereira/Tribuna do Paraná
 

A mais de oitocentos quilômetros dali, no bairro Portão, em Curitiba, o ritmo é diferente, mas o espírito é o mesmo. A Paróquia São Jorge abriu as portas às 7h da manhã, acolhendo devotos para missas, bênçãos de carros e o tradicional bolo do padroeiro. Sete mil pedaços preparados com esmero, recheados de doce de leite, abacaxi com coco ou ameixa. Escondidas em 2.500 fatias, medalhinhas de São Jorge prometiam um pouco mais de sorte a quem as encontrasse.

“É uma tradição que atravessa gerações. As pessoas vêm com fé, mas também para se sentir parte de uma comunidade”, contou dona Cidinha, 68 anos, voluntária há mais de duas décadas na paróquia. “Este ano, com a morte do Papa Francisco, montamos também um espaço especial em homenagem a ele. A fé é assim: um elo que se renova, que acolhe.”

No sábado (26), a festa continua em Curitiba com pastel, música e confraternização. No Rio, o que fica é o cheiro da arruda, os cânticos misturados e a certeza de que, para milhões de brasileiros, São Jorge – ou Ogum – é mais que um santo. É escudo, espada e esperança.

“Ogum iê, meu pai!” ou “Salve Jorge!” – seja qual for a saudação, o Brasil responde com fé.

*com informações da Agência Brasil e Tribuna do Paraná.

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