Silenciar a alma, calar o corpo no abismo da angústia—e, ainda assim, os olhos insistem em buscar uma fresta, um fio de horizonte onde o pasto se estenda sem o amargor das ervas ruminadas.
Lá fora, o mundo segue em sua estridência. Ouça—o tilintar das matilhas soltas, demarcando o que é seu, a espuma salpicando as calhas tingidas de cal. Sinta—o peso das bandeiras rasgadas, pendendo a meio mastro, enlutadas pelo que foi e pelo que nunca será.
A cidade arde sob a luz rubra da noite. Janelas cerradas, sombras trêmulas atrás do vidro, o lambe-lambe arrastando-se em retirada, deixando ao vento retratos desbotados que um dia foram memória.
Mas veja além da cegueira: há bandeiras que ainda tremulam, frágeis como promessas ao amanhecer, mas vivas. Há fôlego no último lampejo do que ainda pulsa.
Erga-se antes que os lobos desçam da montanha, antes que o uivo do vento anuncie a tempestade.
Se tens nas mãos algum S.O.S., que seja tua fé. Segue. Sem medo. Sem perdão. Acredita e alcança, tudo que justamente alcançar, por direito, é teu.
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