Fake news mira Renato Freitas e o Bek’s Bar: quando o pânico veste a pele da mentira —deputado e barzinho tradicional da capital paranaense são mais uma vez alvo de campanha de desinformação
Por Ronald Stresser — Sulpost
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Imagem meramente ilustrativa - gerada por IA - Arquivo/Sulpost |
Há notícias que nascem para curar e outras que nascem para ferir. Na tarde desta sexta-feira, uma corrente de mensagens em aplicativos de conversa tentou costurar as duas coisas ao mesmo tempo: um alerta — verdadeiro na forma do medo que provoca — sustentado por uma mentira. A peça de desinformação acusava clientes do Bek’s Bar e o deputado estadual Renato Freitas de estarem ligados a um suposto caso de intoxicação por metanol em Curitiba. Não é verdade.
A mensagem — e sua anatomia do pânico
O texto viral afirma, em caixa alta e com o imperativo do boato bem afiado, que um “primeiro caso de intoxicação por METANOL” teria ocorrido após um grupo de amigos frequentar o Bek’s Bar e que “minha prima é plantonista” no Hospital de Clínicas teria confirmado o quadro. Em seguida, sem provas, surge a acusação política: o deputado Renato Freitas seria sócio do estabelecimento e estaria tentando “abafar” o caso.“Pessoal, ajudem a repassar, primeiro caso de intoxicação por METANOL confirmado em Curitiba!! (…) Repassem urgente para que todos fiquem atentos pois o problema já chegou aqui!! Esse caso estão abafando pois os donos do Beks Bar tem envolvimento com políticos, aquele deputado Renato Freitas parece ter uma % na sociedade do bar e está tentando abafar o caso!!”
É uma construção clássica: mistura de urgência, autoridade doméstica (a “prima plantonista”) e uma ponta política para inflamar e direcionar ódio. Funciona porque explora um medo real — o de bebidas adulteradas — e o junta a um inimigo fácil para uma sociedade eregida sobre o racismo estrutural, dentre outros tabus e preconceitos.
O que dizem as autoridades (fato)
A Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (Sesa) foi categórica: não há registros de intoxicação por metanol ligada a consumo de bebidas em Curitiba ou em qualquer ponto do estado. A Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba reafirmou a ausência de casos. O próprio mandato do deputado Renato Freitas declarou que ele não possui qualquer relação societária com o Bek’s Bar e classificou a circulação da mensagem como crime e tentativa de difamação.
Contexto nacional — o perigo que existe, longe daqui
É preciso separar o que é local do que é nacional: o Brasil, nos últimos dias, registrou notificações de intoxicação por metanol em estados como São Paulo, Pernambuco e hoje também na Bahia— casos que estão sendo investigados, com desdobramentos graves em alguns episódios em que há confirmação de ingestão adulterada. Investigações em nível federal apuram conexões com redes de contrabando e importação ilegal de metanol. Mas, e isso é crucial, nada disso foi confirmado para Curitiba pelo sistema de saúde do Paraná.
Bek’s Bar e Renato Freitas: alvos recorrentes
O Bek’s é um bar que se tornou referência para uma comunidade que busca ali um espaço de encontro, cultura e debates políticos. Suas posições públicas contrárias ao bolsonarismo tornaram o local um símbolo — para admiradores e para adversários. Renato Freitas, por sua vez, é figura pública que carrega sobre si a contestação política e o assédio midiático que a exposição política traz.
A convergência entre o bar e o deputado em uma mesma narrativa de ódio não é casual: a estratégia de desinformação busca juntar símbolos que inflamam a base adversária e, assim, multiplicar o dano.
Como reagir — humanamente
Desinformação fere pessoas — às vezes com violência real — e corrói a confiança mínima que precisamos ter uns nos outros para viver em sociedade. Quando receber uma mensagem do tipo: pare, respire, verifique. Procure as notas oficiais (secretarias e serviços de saúde, hospitais, mandatos). Não reencaminhe boatos que carregam nomes e risco de vida. Ao invés disso, peça fontes, confirme em canais oficiais e, se possível, oriente quem repassou a mensagem para checar a veracidade.
Defender a verdade é também um ato de cuidado: com as potenciais vítimas do pânico, com os profissionais de saúde que podem ser sobrecarregados por boatos, e com as pessoas injustamente acusadas.
De acordo com a checagem do Sulpost, a mensagem que relaciona casos de intoxicação por metanol a clientes do Bek’s Bar, e acusa o deputado Renato Freitas de ser sócio do estabelecimento, é falsa. As secretarias de saúde estadual e municipal confirmaram que não há casos registrados no Paraná.
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