Visita de Estado em Brasília firma cinco atos bilaterais, cria voo direto São Paulo–Lagos e abre caminho para ampliar a importação de fertilizantes — com impacto direto na competitividade do campo brasileiro
Por Ronald Stresser | Sulpost
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Reunião ampliada entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Nigéria, Bola Tinubu, no Palácio do Planalto - Foto:Ricardo Struckert |
Brasília voltou a respirar diplomacia nesta segunda-feira (25). Entre gestos simbólicos e recados claros ao mundo, o Palácio do Planalto recebeu o presidente nigeriano, Bola Tinubu, em visita de Estado. Ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva, os dois líderes recolocaram Brasil e Nigéria na mesma mesa — com foco em comércio, tecnologia e uma agenda que promete resultados práticos para quem planta, colhe e abastece o país.
O anúncio mais aguardado pelo setor produtivo veio com um aceno concreto: ampliar a importação de fertilizantes nigerianos. Em um momento de custos apertados e margens espremidas, mais oferta e menos barreiras podem se traduzir em preço mais competitivo para o agricultor — da agricultura familiar ao agronegócio exportador.
“Nesse momento, em que ressurgem o protecionismo e o unilateralismo, Nigéria e Brasil reafirmam a sua aposta no livre comércio e na integração produtiva.”
A declaração vem acompanhada de números que revelam a oportunidade: o intercâmbio comercial encolheu de US$ 10 bilhões em 2014 para US$ 2 bilhões no ano passado. Hoje, o Brasil exporta sobretudo açúcares e melaços, enquanto compra da Nigéria principalmente fertilizantes e petróleo e derivados. Reaquecer essa ponte pode reposicionar os dois países no tabuleiro do Atlântico Sul.
Livre mercado no insumo que decide a safra
A matemática é simples: se a logística flui e o mercado abre, o fertilizante chega com mais previsibilidade e tende a custar menos. Isso impacta diretamente o custo por hectare, a tomada de decisão sobre dose e época de aplicação e, por consequência, a produtividade. Ao apostar em livre comércio e integração produtiva, Brasil e Nigéria sinalizam um ambiente mais estável para o insumo que dita o ritmo de safras de milho, soja, café, feijão e hortifruti.
Pontes de tecnologia para pagar uma dívida histórica
Em tom de memória e compromisso, Lula reafirmou que o Brasil tem uma dívida com o continente africano, marcada por 350 anos de escravidão. A resposta, defende o presidente, não se mede em cifras, mas em solidariedade e transferência de conhecimento, sobretudo na agricultura. É também um gesto político: cooperação de iguais, que humaniza a diplomacia e materializa oportunidades.
“O Brasil tem obrigação de ajudar o continente africano a ter o mesmo desenvolvimento que nós tivemos aqui.”
Do lado nigeriano, Tinubu destacou a juventude do país — pronta para trocar ideias e absorver tecnologia. Na pauta, o interesse por medicamentos genéricos e por parcerias com a Petrobras em gás natural. “O Brasil tem os ativos de que precisamos”, resumiu.
Cinco atos e um novo voo ligando histórias
A visita de Estado resultou na assinatura de cinco atos bilaterais, com destaque para o acordo de aviação civil que abre o voo direto São Paulo–Lagos, a ser operado pela Air Peace, maior companhia aérea nigeriana. É um gesto logístico que aproxima mercados, culturas e famílias.
- Memorandos para formação de diplomatas e consultas políticas em temas regionais e globais;
- Parceria entre BNDES e o Banco de Agricultura da Nigéria (BoA) para promoção de comércio e investimentos;
- Cooperação em ciência, tecnologia e inovação — de biotecnologia e bioeconomia à energia e transformação digital;
- Reforço em defesa e segurança, com o Brasil designando um adido da Polícia Federal para Abuja ainda neste semestre.
Retomada em marcha e agenda cheia em Brasília
A Nigéria é parceira de longa data — são 65 anos de relacionamento bilateral. Em 2025, a engrenagem voltou a rodar: em março, o chanceler Mauro Vieira esteve em Abuja; em junho, o vice-presidente Geraldo Alckmin presidiu o Mecanismo de Diálogo Estratégico. Em Brasília, após a reunião no Planalto, as delegações seguiram para almoço no Itamaraty e encontros com os presidentes do Senado, da Câmara e do Supremo Tribunal Federal, além do encerramento do Fórum Empresarial Nigéria–Brasil.
No fim do dia, a promessa é de ponte dupla: fertilizante mais acessível para quem planta do lado de cá; oportunidades de trabalho e tecnologia para a juventude do lado de lá. Quando o comércio se abre e a cooperação se torna concreta, quem ganha é a vida real — a lavoura, a feira, a mesa.
- Com informações da Agência Brasil
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