Mercado financeiro reduz previsão da inflação para 4,85% e registra leve alta na expectativa do PIB
Na prática, a queda — ainda que pequena — nas previsões do mercado não evita que famílias e pequenos negócios sintam o aperto dos preços e dos juros
Por Ronald Stresser — SulpostO Boletim Focus do Banco Central trouxe nesta segunda-feira a décima quarta revisão seguida para baixo da expectativa de inflação: a estimativa do IPCA para 2025 passou de 4,86% para 4,85%.
O número e o que ele significa
O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) é a referência oficial para medir a inflação. Apesar da sucessão de quedas nas estimativas, a projeção segue acima do teto da meta perseguida pelo Conselho Monetário Nacional (meta central de 3% com intervalo de tolerância entre 1,5% e 4,5%). Em termos práticos, isso significa que a inflação projetada permanece fora do alvo — com impacto direto sobre o custo de vida.
- Previsão do IPCA para 2025: 4,85% (revisão semanal do Boletim Focus).
- Projeção para 2026: 4,31%; 2027: 3,94%; 2028: 3,8%.
- IPCA acumulado em 12 meses (até julho): 5,23%, acima do teto da meta de 4,5%.
Juros: a ferramenta que tira e devolve fôlego
Para segurar a inflação, o Banco Central usa a taxa básica de juros — a Selic. Depois de sete altas seguidas, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu interromper o ciclo de aumentos em julho, com a Selic em 15% ao ano. O comitê, porém, não descartou a possibilidade de novos aumentos caso choques externos elevem a inflação.
Expectativas do mercado:
- Fim de 2025: 15% a.a.
- Fim de 2026: 12,5% a.a.
- 2027: 10,5% a.a. — 2028: 10% a.a.
“Juros altos encarecem o crédito e pesam no orçamento das famílias, mas são o principal instrumento para controlar a inflação”, diz um economista ouvido pelo Sulpost.
PIB: crescimento tímido e sinais de resistência
A previsão do mercado para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025 subiu levemente: passou de 2,18% para 2,19%. Para 2026, a estimativa é de 1,87%; 2027: 1,89%; 2028: 2%.
No primeiro trimestre de 2025, a agropecuária foi o setor que mais contribuiu para o avanço de 1,4% na economia. Em 2024, o PIB cresceu 3,4%, consolidando quatro anos consecutivos de expansão.
Câmbio e preços
O Boletim Focus também traz projeção para o dólar: R$ 5,56 ao fim de 2025 e R$ 5,62 ao fim de 2026. Oscilações cambiais têm efeito nos custos de insumos e no preço final de muitos bens, o que ajuda a explicar parte da pressão inflacionária sobre itens essenciais.
Entre números e vidas
Os dados do mercado, por mais técnicos que pareçam, se traduzem em escolhas humanas: que contas cortar, que investimento adiar, que alimento substituir. É na ponta do carrinho do supermercado e na reunião do caixa do pequeno comércio que essas decisões ganham rosto.
Enquanto o mercado afina as projeções centesimais da inflação, a pergunta que fica é quando essa melhora passará a ser percebida pelas famílias. Até lá, a narrativa econômica seguirá sendo, como sempre, uma combinação de gráficos e histórias pessoais.
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