Câmara dos Deputados vai votar projetos contra a “adultização” infantil após denúncias de Felca Bress — Tema expõe falhas nas redes sociais e pressiona por regulamentação urgente para proteger crianças
Por Ronald Stresser | Sulpost![]() |
Algoritmos de redes sociais, que buscam apenas lucro, colocam irresponsavelmente a infância em risco |
O Brasil amanheceu nesta terça-feira (12) com um compromisso político raro: a Câmara dos Deputados vai pautar ainda nesta semana projetos de lei que combatam e restrinjam a presença de conteúdos que promovem a chamada “adultização” de crianças e adolescentes nas redes sociais.
O anúncio foi feito pelo presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos), em meio a uma onda de indignação nacional provocada por um vídeo do influenciador Felca Bress, que denunciou perfis com milhões de seguidores usando menores em situações de cunho sexualizado — roupas curtas, coreografias sensuais e falas explícitas sobre sexo — para gerar visualizações e, sobretudo, dinheiro.
“O vídeo do Felca chocou e mobilizou milhões de brasileiros. Esse é um tema urgente, que toca no coração da nossa sociedade. Na Câmara, há uma série de projetos importantes sobre o assunto. Nesta semana, vamos pautar e enfrentar essa discussão. Obrigado, Felca. Conte com a Câmara para avançar na defesa das crianças”, disse Motta em suas redes.
Felca, que tem se dedicado a expor esses perfis e a chamada “monetização do abuso”, foi direto ao ponto:
“Devemos cobrar em massa uma mudança nas redes sociais para que conteúdos como esses não sejam espalhados, permitidos nem monetizados. Tira o dinheiro dessa galera que tudo que eles fazem perde o sentido.”
O “algoritmo P” e a engrenagem do abuso digital
O que Felca revelou vai além da simples produção de vídeos problemáticos: ele mostrou como os algoritmos das plataformas — programados para entregar ao usuário o que ele mais interage — acabam refinando e potencializando conteúdos de exploração infantil.
O influenciador apelidou o fenômeno de “algoritmo P”, um sistema que, ao perceber interesse por vídeos com crianças em situações sugestivas, passa a recomendar mais do mesmo, criando um ciclo perigoso e altamente lucrativo para quem produz.
Segundo Felca, o problema não está apenas no código, mas na ausência de filtros éticos e na falta de ação das empresas:
“O ‘algoritmo P’ une quem produz e quem consome esse tipo de conteúdo. É descaso ou má intenção. De qualquer forma, é inaceitável.”
Resposta imediata do governo: “Internet não pode ser terra sem lei”
A repercussão foi imediata no Palácio do Planalto. A ministra da Articulação Política, Gleisi Hoffmann, defendeu que as plataformas sejam responsabilizadas diretamente.
“Elas são capazes de identificar praticamente tudo o que fazem seus usuários. Não podem fingir que não é com elas, como normalmente acontece. A internet não pode continuar sendo uma terra sem lei; uma arma poderosa nas mãos de pedófilos, incitadores de mutilações e suicídios, golpistas e criminosos.”
O advogado-geral da União, Jorge Messias, também fez um alerta:
“Regulamentar adequadamente o uso de plataformas digitais é uma necessidade civilizatória dos nossos tempos: algoritmos têm propagado conteúdo criminoso com crianças. Quem confunde combate à pornografia infantil com ‘censura’ age de má-fé.”
Adultização infantil: um dano silencioso
A adultização infantil é definida por especialistas como a exposição precoce de crianças a comportamentos, responsabilidades e expectativas próprias do mundo adulto — no caso, com ênfase na erotização.
Segundo o Instituto Alana, organização que atua na defesa dos direitos das crianças, o impacto vai muito além do que se vê na tela: provoca prejuízos emocionais, psicológicos e sociais que podem acompanhar a vítima pela vida toda.
Ao transformar a infância em produto, o mercado de conteúdo digital coloca a pureza da criança em segundo plano, substituindo-a pela busca por cliques, engajamento e faturamento.
O desafio da hora
A pressão agora está sobre o Congresso e as empresas de tecnologia. As famílias e especialistas esperam que o debate não fique apenas na retórica. Felca conseguiu fazer o que raramente acontece: juntar milhões de vozes em torno de um problema incômodo, mas urgente.
As próximas sessões da Câmara devem mostrar se a comoção e o anseio popular vai se converter em lei — e se as redes sociais serão finalmente obrigadas a responder por cada clique que transforma inocência em mercadoria.
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