“A Lava Jato foi usada para entregar o pré-sal”: a denúncia de um pesquisador americano que desmonta a farsa da soberania vendida
Por Ronald Stresser | SulpostNick Cleland Stout tem um sotaque carregado, mas fala com firmeza e propriedade sobre um dos episódios mais sensíveis da história recente do Brasil. Pesquisador do Quincy Institute, um think tank sediado na capital dos Estados Unidos e voltado à diplomacia e ao antimilitarismo, Nick revela algo que muitos já desconfiavam — mas que, vindo de um americano, ganha contornos de denúncia internacional: a Operação Lava Jato foi usada como instrumento geopolítico para desmantelar a Petrobras e abrir caminho para petroleiras estrangeiras explorarem o pré-sal brasileiro.
"Foi uma oportunidade de negócios", diz, sem rodeios. Para ele, o caminho para essa entrega foi pavimentado por lobbies internacionais, think tanks norte-americanos, alianças com setores internos da elite política brasileira e uma narrativa que, travestida de combate à corrupção, mascarou interesses econômicos e estratégicos de grandes corporações.
O papel oculto dos think tanks
Na entrevista, Nick detalha o funcionamento dos chamados think tanks, centros de formulação de políticas públicas e produção de conhecimento que influenciam diretamente decisões do governo norte-americano. Muitos desses institutos, segundo ele, são financiados por empresas da indústria bélica e petroleira, além de governos estrangeiros do Oriente Médio — e suas análises e "recomendações" têm, muitas vezes, um viés tão evidente quanto invisível.
Atlantic Council, Wilson Center, RAND Corporation, Council on Foreign Relations. Todos nomes respeitados — e todos com interesses no Brasil. Alguns, inclusive, chegaram a comissionar relatórios sobre a Petrobras, sugerindo caminhos que convergiam com o enfraquecimento da empresa e a retirada do papel protagonista do Estado na exploração do pré-sal.
“Dilma era um obstáculo. Precisava ser removida”
O recorte que Nick faz da política brasileira é devastador. Para ele, a derrubada de Dilma Rousseff — primeira mulher presidente do Brasil — não foi apenas um jogo político interno, mas resultado direto de pressões externas.
"Dilma era vista como um obstáculo para a abertura do setor do petróleo às multinacionais. Os relatórios dos think tanks diziam isso abertamente: ela precisava sair."
Empresas como Chevron, Shell e ExxonMobil viam com maus olhos a política adotada por Lula em seu primeiro mandato, que obrigava a Petrobras a deter pelo menos 30% de cada campo do pré-sal. Era uma forma de garantir a soberania energética e os lucros para o país. Mas para os interesses privados, essa proteção era inaceitável.
Segundo documentos revelados pelo WikiLeaks, o consulado dos EUA no Rio de Janeiro já monitorava com atenção os movimentos do governo brasileiro. E-mails internos de executivos da Chevron mostravam clara insatisfação com a legislação — e apoio velado à candidatura de José Serra, que prometia rever as regras em favor do "mercado".
Lava Jato: o cavalo de Troia
"A Lava Jato foi a grande oportunidade", afirma Nick. A operação, conduzida por Sérgio Moro e equipe, com colaboração informal e até ilegal de agentes dos Estados Unidos, abriu caminho para a desvalorização da Petrobras e a criminalização de lideranças políticas ligadas ao projeto nacional de desenvolvimento.
A participação do Departamento de Justiça dos EUA (DoJ) e do FBI foi até anunciada em eventos públicos de think tanks, como o Atlantic Council. Lá, um agente do FBI, Kenneth Blanco, revelou publicamente que havia uma cooperação direta com procuradores brasileiros — sem passar pelos trâmites legais exigidos, como os tratados de cooperação internacional.
Com isso, provas e documentos circulavam por canais "informais", e a narrativa de combate à corrupção servia de pano de fundo para o verdadeiro objetivo: fragilizar a soberania nacional e reconfigurar o setor energético do Brasil.
Porta giratória: de think tank ao Planalto
Outro ponto levantado por Nick é o uso do que ele chama de "porta giratória" — a prática de executivos de empresas privadas migrarem para cargos públicos estratégicos. Foi o caso, segundo ele, de Odessio Odone, que escreveu relatórios defendendo a abertura do pré-sal e depois assumiu diretoria na Agência Nacional de Petróleo (ANP) durante o governo Temer.
Ou de Pedro Parente, que assumiu a presidência da Petrobras após participar de eventos do Wilson Center — e promoveu um plano de desinvestimento, vendendo ativos da empresa e abrindo ainda mais o setor ao capital estrangeiro.
Ao final de 2016, o governo Temer revogou a lei que garantia à Petrobras o controle mínimo sobre os campos do pré-sal. Hoje, empresas como Shell, Equinor e ExxonMobil controlam campos inteiros — em alguns casos, com 100% de domínio.
A militarização da política externa
Para Nick, o problema vai além do petróleo. Ele aponta que esses think tanks, alimentados por bilhões de dólares — muitos vindos de governos estrangeiros e da indústria armamentista, como Lockheed Martin e Raytheon — ajudam a militarizar a política externa dos EUA.
"Esses especialistas influenciam decisões que levam à guerra. Foi assim no Iraque. Pode ser assim em qualquer parte do mundo. E, no caso do Brasil, a guerra foi silenciosa, mas letal: uma guerra contra a soberania."
“Eles não querem roubar. Só querem pegar e vender”
A frase dita em um dos painéis de think tanks, segundo Nick, é a síntese cruel da lógica extrativista: "Não querem roubar. Só querem pegar e vender". Como se a pilhagem só fosse criminosa quando feita com armas na mão — e não com canetas, relatórios, lobby e acordos de bastidores.
A entrevista termina com uma reflexão sobre transparência. “Os think tanks não têm obrigação legal de dizer quem os financia. Isso é gravíssimo. Estamos falando de pessoas que moldam políticas públicas, influenciam governos e definem o destino de nações — sem que saibamos quem está pagando suas ideias.”
Alerta que vem de fora
A denúncia de Nick Cleland Stout ecoa como um sinal de alerta para o Brasil. Em tempos de reconstrução nacional e retomada da soberania, é essencial compreender como as engrenagens do poder global atuam com suavidade e precisão para subtrair riquezas, minar governos populares e reposicionar os lucros.
A Lava Jato não foi só uma operação policial. Foi uma operação geopolítica — e quem diz isso é um americano. A história precisa ser recontada. E o povo brasileiro merece saber quem lucrou com seu sofrimento.
📌 Fonte: Entrevista com Nick Cleland Stout (Quincy Institute), do vídeo: “Petroleiras usaram a Lava Jato para tomar o pré-sal do Brasil”
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