Pernambuco reduz crimes ambientais em 32%, mas desafio permanece: fiscalização firme e penas mais duras ainda são urgentes
Guga Matos / JC Online |
Em um tempo em que a devastação ambiental avança mais rápido que a regeneração da natureza, qualquer freio à destruição merece destaque — e, principalmente, análise crítica. Pernambuco registrou uma queda significativa de 32% nos crimes ambientais em 2024, de acordo com o boletim “Além da Floresta”, da Rede de Observatórios da Segurança. Mas antes de celebrarmos esse dado, é preciso lembrar: ainda são mais de dois crimes contra o meio ambiente por dia, num total de 770 registros só no último ano.
A redução é reflexo de um esforço real. A Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH), vinculada ao Governo de Pernambuco, firmou cooperação com a Secretaria de Defesa Social e destinou R$ 17,5 milhões para intensificar fiscalizações, equipar forças ambientais e monitorar, via satélite, irregularidades em áreas protegidas. A adesão ao programa federal Brasil M.A.I.S. e a contratação de quase 100 profissionais também reforçam esse compromisso institucional.
Ainda assim, a sensação de avanço vem acompanhada de um alerta: o que está sendo combatido é apenas a ponta do iceberg.
A natureza ainda sangra: os crimes mais comuns
Entre os principais delitos, os maus-tratos a cães e gatos lideram (159 casos), seguidos por posse e comércio ilegal de animais (51) e poluição (17). Esses crimes aconteceram, em sua maioria, dentro de casas, nas ruas e em estabelecimentos comerciais. Recife concentrou mais da metade das ocorrências no estado.
Mas a violência não para nos animais. Os povos indígenas e comunidades tradicionais continuam alvos de ameaças, fraudes e conflitos fundiários. Em 2024, só no Recife, 222 indígenas foram vítimas de algum tipo de violação — e quase 60% dos crimes foram cometidos contra mulheres. O dado é alarmante e evidencia que a destruição ambiental está ligada a um projeto mais amplo de desumanização.
Para além dos números: onde está a justiça ambiental?
A queda nos indicadores é animadora, mas não podemos esquecer que o Brasil ainda carece de estatísticas padronizadas, abrangentes e transparentes. Os números oficiais muitas vezes ignoram o que acontece com comunidades ribeirinhas, quilombolas, indígenas e agricultores familiares. A ausência de dados é, por si só, uma forma de omissão.
Essa invisibilidade também tem raízes na fragilidade da legislação. A atual Lei de Crimes Ambientais (nº 9.605/1998) é limitada: não tipifica como crime ambiental os conflitos agrários e as violações contra povos tradicionais. É preciso reformá-la com urgência.
Defendemos, aqui no Sulpost, que crimes ambientais sejam tratados com a seriedade que merecem. Isso significa penas mais duras, julgamentos mais rápidos e, sobretudo, responsabilização das autoridades que forem omissas. É inaceitável que, em pleno 2025, crimes ambientais ainda sejam tratados como infrações leves — quando na verdade destroem vidas, ecossistemas e legados ancestrais.
O que o futuro exige
A experiência de Pernambuco mostra que a queda dos crimes ambientais não é um milagre, mas o resultado direto de políticas públicas bem implementadas e fiscalização contínua. Ainda assim, esse esforço precisa ser ampliado.
É preciso:
- Revisar a Lei de Crimes Ambientais com urgência;
- Estabelecer crime de responsabilidade ambiental para gestores públicos omissos;
- Criar mecanismos de escuta e denúncia acessíveis às populações tradicionais;
- Ampliar o monitoramento territorial com uso de tecnologia;
- Integrar educação ambiental como prioridade nas escolas e comunidades.
Não basta punir depois. É preciso prevenir antes.
Reduzir não é o suficiente. A natureza, os animais e os povos originários não precisam de alívio temporário — precisam de proteção permanente.
Fonte: Nascimento, Laís. Crimes ambientais em Pernambuco caem 32% em 2024, mas ainda chegam a dois casos por dia. Jornal do Commercio. Publicado em 20/06/2025. Disponível em: jc.uol.com.br - Edição Sulpost, com auxílio do ChatGPT. A preservação das espécies nativas é vida.
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