sábado, 21 de junho de 2025

O fim do "sonho americano" para mais 120 brasileiros

Repatriados pelo silêncio: a dor invisível dos brasileiros deportados dos Estados Unidos

Por Ronald Stresser | Sulpost

 
Avião da Global X, que trouxe os 120 deportados - Ricardo Morgan/Aeoroin

O relógio marcava 12h46 quando a aeronave da Global X, vinda dos Estados Unidos, tocou o solo quente do Aeroporto Internacional de Fortaleza. A bordo, 120 brasileiros desembarcavam não apenas de um voo, mas de um ciclo de vida que terminou sem despedidas — muitos deles com as mãos vazias, os corações partidos e a dignidade retida na fronteira de um país que um dia sonharam chamar de lar.

Esse foi o décimo voo de repatriação compulsória registrado entre fevereiro e junho de 2025. Desde o início do ano, já são 892 vidas obrigadas a retornar ao Brasil pela política de deportações em massa implementada pelo governo Donald Trump — uma retomada dura de um modelo migratório que insiste em tratar seres humanos como números ou ameaças, e não como pessoas em busca de recomeços.

O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) tem tentado oferecer algum alento nesse retorno abrupto. No pátio do aeroporto, uma força-tarefa foi montada para acolher essas pessoas com o mínimo de humanidade: alimentação, kits de higiene, apoio psicossocial. Mas o que pode ser feito diante da desorientação de famílias desfeitas, sonhos interrompidos e futuros ainda mais incertos?

Entre os repatriados, há mães que foram separadas de seus filhos pequenos, trabalhadores que investiram tudo para fugir da fome e da violência, jovens LGBTQIA+ que encontraram abrigo temporário nos Estados Unidos e agora retornam ao Brasil sem saber se estarão seguros. A cada rosto, uma história de resistência. A cada lágrima, o peso de uma política que os reduziu à condição de “ilegais”.

“Essas pessoas foram criminalizadas por sonhar”, diz uma das assistentes sociais que participou do acolhimento. “Elas não voltam apenas com malas, voltam com traumas.”

Sem o apoio da Força Aérea Brasileira, os repatriados agora seguem em ônibus para seus estados de origem. O governo brasileiro também tem acionado a Defensoria Pública da União, o Ministério das Relações Exteriores e os sistemas de saúde e assistência social para tentar garantir algum suporte após a chegada. Em casos mais delicados — como idosos, pessoas com deficiência e indivíduos da comunidade LGBTQIA+ — o atendimento é feito por equipes especializadas do próprio MDHC.

Mas nada disso apaga o silêncio da travessia, a angústia do exílio forçado e a violência simbólica de ser expulso sem direito a defesa.

Os voos que hoje chegam ao Brasil carregam mais do que repatriados: carregam os destroços de uma política migratória que falhou em enxergar o ser humano. E deixam em nosso chão o desafio de reconstruir vidas, restaurar dignidades e, sobretudo, ouvir histórias que nunca deveriam ter sido interrompidas.

  • Com informações do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) e Agência Brasil (Luciano Nascimento).

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