Relatos de abusos, drogas e sexo forçado marcam o testemunho da cantora contra o rapper. E o caso está longe de acabar
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NYP |
O silêncio que cortou o tribunal — Quando Cassie Ventura atravessou a sala do tribunal federal nesta terça-feira (14), algo mudou no ar. A movimentação parou. O burburinho se calou. Não era só uma testemunha que tomava seu lugar — era uma mulher decidida a romper anos de silêncio. Ex-namorada de Sean “Diddy” Combs, ela descreveu com riqueza de detalhes uma vida marcada por abusos, controle, drogas e sexo sem consentimento.
A audiência ganhou contornos de suspense de tribunal. Um silêncio denso pairava entre os relatos. Uma jurada chorou. A juíza precisou interromper a sessão por alguns minutos. O que começou como uma disputa judicial com cara de tablóide rapidamente se transformou numa denúncia que escancarou o lado mais sombrio da fama.
“Freak offs”, drogas e dominação psicológica
Cassie usou o termo “freak offs” para descrever os eventos sexuais forçados organizados por Diddy. Festas privadas com múltiplos parceiros, substâncias ilícitas e a presença constante de coação psicológica. “Ele dizia que era para meu crescimento espiritual. Mas era só para satisfazer suas fantasias e me manter sob controle”, declarou.
A cantora relatou que vivia como prisioneira em sua própria rotina. Tinha que pedir permissão para sair, escolher roupas aprovadas pelo namorado e aceitar imposições sexuais travestidas de experiências artísticas. “Eu era moldada por ele. E se eu tentava resistir, o castigo vinha.”
Violência física e ciclos de arrependimento
Um dos relatos mais chocantes envolveu uma agressão física ocorrida num quarto de hotel. Após um desentendimento, Cassie diz ter sido espancada por Diddy até perder a consciência. “Acordei e ele estava chorando. Dizia que estava estressado, que não sabia o que tinha acontecido.” O padrão, segundo ela, se repetiu diversas vezes ao longo da relação.
Ela também detalhou momentos em que foi drogada contra sua vontade, levada a situações de extremo desconforto e coagida a interações sexuais com outras pessoas. “Ele me dizia que aquilo era normal, que todo artista de verdade passava por isso. Eu acreditei, por muito tempo.”
20 milhões de dólares por silêncio — mas sem paz
Em 2023, Cassie aceitou um acordo extrajudicial de 20 milhões de dólares para encerrar uma ação civil por abuso. À época, pouco se falou sobre os detalhes. Agora, em pleno tribunal, ela revelou o motivo do silêncio: medo, vergonha e um desejo profundo de escapar da dor.
“Eu aceitei o dinheiro para tentar esquecer, para recomeçar. Mas a paz nunca veio. Eu precisava contar o que vivi”, afirmou diante do júri. A revelação caiu como uma bomba, levando parte da imprensa presente a revisar completamente o tom da cobertura do caso.
Diddy nega tudo — e prepara ataque
Sean Combs permanece firme na cadeira da defesa. Evita reações públicas. Seus advogados, no entanto, já sinalizaram uma estratégia agressiva para o contra-interrogatório, marcado para esta quinta-feira (15). A intenção é pintar Cassie como uma ex ressentida, em busca de vingança e visibilidade.
A defesa também sugere queo relacionamento foi consensual e que os “freak offs” eram eventos privados, fruto de escolhas mútuas. Mas o depoimento de Cassie, entregue com clareza e emoção contida, parece ter tocado profundamente o júri.
O peso das redes e o silêncio da indústria
A repercussão foi imediata. Celebridades começaram a se posicionar. O rapper 50 Cent foi um dos primeiros a se manifestar, cobrando responsabilidade e acusando a indústria de proteger agressores. “Quantas provas mais são necessárias para que alguém aja?”, escreveu ele.
Nos bastidores, fala-se em uma possível reação em cadeia. Antigos colaboradores e pessoas próximas de Diddy estariam sendo contatados por promotores. O julgamento, que começou como um processo civil, pode acabar desaguando em acusações criminais — e na implosão de um império construído ao longo de décadas.
Uma mulher e a coragem de falar
Cassie volta a depor ainda nesta quarta-feira (15). Há expectativa de que novos nomes sejam citados, e que o alcance do caso vá além da relação entre os dois. O tribunal segue como um palco de revelações desconcertantes, onde a celebridade dá lugar à humanidade ferida.
No centro de tudo está a voz de uma mulher que demorou mais de uma década para ser ouvida. Agora, ela fala. E o mundo ouve. O que vem depois disso pode mudar, para sempre, os limites da fama, do poder e da impunidade no universo do entretenimento.
*com informações do The New York Post.
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