sábado, 10 de maio de 2025

Itaipu e Embrapa implementam projeto inovador de inventário florestal

Quando a floresta respira com a tecnologia: uma jornada pelo novo olhar de Itaipu e Embrapa sobre o cuidado com a natureza

Por Ronald Stresser*

 
 

Entre as curvas do rio Paraná e o silêncio profundo das matas que margeiam o lago de Itaipu, um outro tipo de movimento tem ganhado espaço. Um zumbido discreto corta o ar. Não é um pássaro. É um drone. Pequeno, preciso, quase invisível diante da grandiosidade da paisagem. Ele sobrevoa a floresta sem tocá-la, disparando feixes de luz que se espalham como faróis silenciosos entre as copas. E, mesmo sem encostar em nada, colhe tudo o que precisa: altura das árvores, densidade da vegetação, quantidade de carbono escondida nos troncos, nos galhos, nas raízes.

O que acontece ali parece coisa de filme — mas é real, cotidiano e brasileiro. E tem nome: é a nova fase do inventário florestal da faixa de proteção do lago de Itaipu. Um projeto que une a potência técnica da Itaipu Binacional e o rigor científico da Embrapa para reinventar a forma como cuidamos da natureza. Um trabalho que começou em 2021 e segue até 2027, costurado com paciência, curiosidade e um profundo respeito pela floresta.

Nos dias 7 e 8 de maio, esse projeto virou experiência viva. No Refúgio Biológico Bela Vista, em Foz do Iguaçu, pesquisadores, técnicos e estudantes de diferentes instituições se encontraram para algo maior que um treinamento: foi uma imersão sensível e prática em uma nova forma de ver e sentir a floresta.

Vieram de vários cantos, mas com um mesmo propósito: aprender, no corpo e na mente, como operar drones equipados com sensores LiDAR — uma tecnologia que dispara pulsos de laser e transforma a floresta em mapas tridimensionais, revelando segredos escondidos sob o dossel, sem que ninguém precise pisar no chão.

“É uma revolução silenciosa”, diz com brilho nos olhos o engenheiro florestal Luís César Rodrigues da Silva, da Divisão de Áreas Protegidas da Itaipu. “Com essa tecnologia, a gente consegue entender a floresta sem invadir, sem perturbar. É mais rápido, mais preciso — e, o mais importante: é mais respeitoso com a vida que está ali.”

A área monitorada é imensa: 1.400 quilômetros de margens entre Foz do Iguaçu e Guaíra, protegendo mais de 24 mil hectares de vegetação. Mas o que se sente ali, no campo, é algo íntimo. É o cuidado com cada árvore, com cada sombra, com cada centímetro de floresta que segue resistindo, respirando e ensinando.

E o mais bonito é que os resultados não vão esperar o fim do projeto para aparecer. “À medida que a gente vai validando os métodos, já começa a aplicar em campo. A floresta não tem tempo a perder”, diz Luís César.

Hericles Barbosa Lopes, também engenheiro florestal da Itaipu, sabe bem o que isso significa. Ele cresceu em meio a medições manuais, trilhas abertas no facão, planilhas cheias de anotações feitas à mão. Hoje, vê a floresta sendo lida por máquinas voadoras e acredita: “Com os drones, a gente trabalha melhor, com mais qualidade e menos impacto. A floresta agradece, e nós também. É menos desgaste, menos pegada, mais inteligência no cuidado.”

Durante dois dias, os participantes passaram por três módulos que alternaram teoria e prática, suor e reflexão: primeiro, o uso do LiDAR aéreo para modelar biomassa e carbono. Depois, a coleta de dados em solo, em pontos fixos de monitoramento. E, por fim, a análise das informações captadas — quando a mata começa a virar números, gráficos, projeções, sem jamais deixar de ser floresta.

Mateus Pinheiro Ferreira, pesquisador da startup Bioflore, que também atua com a Embrapa e a Esalq/USP, conduz parte do processo. E ele não tem dúvidas: “A floresta guarda muito mais do que biodiversidade. Ela guarda carbono, que é essencial para o equilíbrio climático do planeta. Saber quanto carbono temos aqui é um passo gigante para enfrentar a crise ambiental com dados, não só com discursos.”

Os primeiros mapas de carbono devem ser divulgados ainda este ano. Mas o que se constrói vai muito além das estatísticas. “Esse projeto pode inspirar outras regiões, outros biomas, outras instituições”, afirma Maria Augusta Doetzer Rosot, da Embrapa. “Estamos criando um modelo de gestão ambiental baseado em ciência de verdade. E isso é raro, precioso, transformador.”

O que Itaipu e Embrapa estão fazendo não é apenas levantar dados. É devolver à floresta o direito de ser conhecida com delicadeza. De ser compreendida com inteligência. De ser protegida com afeto.

E enquanto os drones seguem seus voos silenciosos, traçando mapas invisíveis sobre um mundo ainda cheio de mistérios, a mata se mantém ali: viva, densa, pulsante. A cada leitura a laser, a cada imagem gerada do alto, a floresta sussurra: ainda dá tempo.

*com informações da Itaipu Binacional.

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