sábado, 24 de maio de 2025

Estiagem atinge produção agrícola do Paraná

A terra grita por água: estiagem prolongada castiga o Paraná e acende alerta em todo o estado

Por Ronald Stresser, para o Sulpost*
 
Decreclara situação de emergência devido à estiagem em todo o Paraná – Gilson Abreu/Arquivo AEN
 

Curitiba (PR) – Quando a chuva voltou a cair timidamente sobre o Paraná, nessa quinta-feira passada (22), muitos olharam para o céu com a esperança típica de quem depende da natureza para sobreviver. Mas a trégua foi curta. Desde dezembro do ano passado, o Estado enfrenta um dos períodos mais secos da última década. Com rios em declínio, plantações comprometidas e reservatórios em alerta, a estiagem já afeta diretamente milhares de paranaenses — do campo às cidades.

Diante desse cenário, o governador Ratinho Junior decretou situação de emergência em todo o território estadual. A medida, de caráter preventivo, mobiliza órgãos públicos e garante agilidade na resposta a uma crise que pode se agravar até, pelo menos, outubro. “Esse decreto é de extrema importância. Estamos trabalhando de forma proativa, já prevendo o que pode acontecer”, explica o coronel Fernando Schünig, coordenador da Defesa Civil.

O campo silencioso

No Sudoeste, em Francisco Beltrão, a lavoura de milho do agricultor Luiz Antônio Furlan, de 63 anos, virou sinônimo de frustração. “A terra está rachando. O que a gente planta, a natureza não deixa crescer. Já perdi mais da metade da produção. É duro ver um ano inteiro de trabalho escorrer pelo chão seco”, lamenta.

Casos como o de Luiz se multiplicam em Pato Branco, Foz do Iguaçu e outras regiões afetadas. Segundo o meteorologista Reinaldo Kneib, do Simepar, o Paraná enfrenta uma seca "atípica e localizada". “Diferente de anos sob influência de fenômenos como La Niña, desta vez são fatores locais que interferem. As chuvas estão irregulares, mal distribuídas, e não há previsão de mudança a curto prazo”, analisa.

O Monitor de Secas da Agência Nacional de Águas (ANA) já apontava em abril um avanço da seca moderada em diversas partes do estado. Agora, a preocupação se estende também ao abastecimento urbano.

Água contada

Com os olhos no horizonte e o pé no chão batido, a dona de casa Silmara Nunes, moradora de Cascavel, conta que já passou a usar baldes para reaproveitar água da máquina de lavar. “A gente aprende a economizar do jeito que dá. Não é só por medo de faltar, é por respeito mesmo. A água virou bem precioso”, diz.

A Sanepar confirma a tendência de queda nos mananciais. “Hoje estamos com 91% de capacidade nos reservatórios, mas já vemos uma curva descendente. A projeção é que esse número caia para menos de 80% até setembro”, alerta Julio Cesar Gonchorosky, diretor da companhia.

A empresa já investiu mais de R\$ 2,5 bilhões em infraestrutura hídrica, mas reforça que nada substitui a colaboração popular. “Banhos mais curtos, torneiras fechadas, reaproveitamento da água de chuva — atitudes simples podem fazer toda a diferença”, afirma Gonchorosky.

Emergência silenciosa

O decreto estadual autoriza, entre outras medidas, a dispensa de licitações para aquisição de bens e serviços emergenciais. Também facilita o acesso dos municípios a recursos federais, libera o saque do FGTS para populações atingidas e acelera medidas de socorro à agricultura, como o financiamento de safras.

Na zona rural e nas periferias urbanas, no entanto, a emergência é sentida antes nas mãos calejadas do que nos trâmites oficiais. “A gente sabe que a seca é uma coisa que não respeita limites. Quando vem, castiga tudo e todos. E quem mais sofre é sempre quem tem menos água, menos terra, menos ajuda”, resume o agricultor Luiz.

Prevenção em pauta

O Paraná, referência em agronegócio moderno, agora precisa também ser modelo de resiliência climática. O decreto, segundo o coronel Schünig, é um passo necessário. “Estamos nos antecipando, organizando a resposta antes que o problema vire tragédia”, garante.

Mas além dos dados, dos decretos e dos planos de contingência, há uma urgência maior — a de ouvir a terra, entender seus sinais e mudar, de fato, nossa relação com os recursos naturais. A estiagem no Paraná não é só um fenômeno climático: é um retrato de como a crise ambiental começa, silenciosa, no campo, nos cantos mais remotos do país.

E quando ela bate à porta, não escolhe CEP.

*com informações da agência oficial de notícias do Estado do Paraná (AEN).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gostou?
Então contribua com qualquer valor
Use a chave PIX ou o QR Code abaixo
(Stresser Mídias Digitais - CNPJ: 49.755.235/0001-82)

Sulpost é um veículo de mídia independente e nossas publicações podem ser reproduzidas desde que citando a fonte com o link do site: https://sulpost.blogspot.com/. Sua contribuição é essencial para a continuidade do nosso trabalho.