Argentina desafia bases do Mercosul com proposta de flexibilização e expõe tensão nos bastidores - Sob influência dos EUA, Milei tenta minar o bloco e sinaliza a Washington; Brasil resiste
Presidente da Argentina, Javier Milei - Getty Images |
A reunião de hoje (13), do Mercosul, em Buenos Aires, expôs uma fratura no bloco. Sob a presidência de Javier Milei, a Argentina propôs que os países do grupo pudessem negociar acordos comerciais de forma independente, sem precisar do aval dos demais membros. A ideia, que na prática diluiria a coesão do Mercosul, encontrou forte resistência, especialmente do Brasil.
Diplomatas brasileiros e paraguaios não esconderam o desconforto com a iniciativa, que, segundo eles, ameaça a estrutura de um bloco baseado na tomada de decisões por consenso. “O Mercosul não é um clube de negócios avulsos. Se cada país seguir sozinho, não há bloco”, disse um negociador brasileiro sob condição de anonimato. O protocolo de Ouro Preto, que rege a governança do grupo, exige unanimidade para mudanças nas regras comerciais — um obstáculo que Milei tenta contornar.
A proposta argentina já era esperada desde o início do governo Milei, mas ganha força agora em um contexto em que os Estados Unidos voltam a olhar para a América do Sul com mais interesse geopolítico. Washington há tempos busca um alinhamento mais próximo com Buenos Aires, e a ofensiva de Milei pela flexibilização do Mercosul pode ser vista como um aceno à Casa Branca. Ainda assim, não há qualquer proposta concreta de acordo bilateral com os EUA sobre a mesa.
A influência de Trump nos bastidores
Nos corredores da diplomacia internacional, a leitura é clara: a pressão dos Estados Unidos já foi decisiva para convencer o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a adotar uma postura mais pragmática em relação às negociações de paz. Agora, a mesma lógica pode estar sendo aplicada na América do Sul, com Milei como peça-chave na tentativa de remodelar o Mercosul — uma estratégia que favoreceria uma maior penetração dos EUA na economia da região.
E se a Casa Branca teve papel crucial para influenciar Zelensky, as atenções se voltam agora para outro tabuleiro geopolítico: a relação entre Donald Trump e Vladimir Putin. Nos bastidores, diplomatas apostam que, assim como os Estados Unidos pressionaram Kiev, caberá a Trump — caso eleito — convencer Putin a ceder em um possível acordo de paz.
A movimentação argentina, portanto, não é apenas sobre comércio, mas sobre um realinhamento estratégico que coloca o Mercosul no centro de um jogo global mais amplo. Milei aposta no enfraquecimento do bloco como forma de agradar Washington, enquanto Brasil e Paraguai tentam segurar as bases de um projeto que já dura mais de três décadas.
O embate está apenas começando.
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