Quando a tarifa sobe e ninguém grita: o preço do silêncio nas capitais brasileiras. Florianópolis é a capital com a passagem mais cara do Brasil
© Fernando Frazão/Agência Brasil |
Na manhã de 1º de janeiro, enquanto os fogos de artifício ainda ecoavam no céu, os moradores de Florianópolis acordaram com uma notícia que cortava como uma ressaca amarga: a passagem de ônibus havia subido para R$ 6,90. Em silêncio, as catracas giraram, e a capital catarinense se tornou a cidade com a tarifa de transporte coletivo mais cara do Brasil.
O aumento de 15% é o maior registrado entre as capitais no início de 2025. Não houve tempo para assimilar. Anunciado na véspera do Ano-Novo, o reajuste começou a valer no dia seguinte. E assim, entre um brinde e outro, milhares de trabalhadores e estudantes passaram a desembolsar ainda mais por um serviço que muitos consideram caro, precário e excludente.
Mas algo estava diferente desta vez. Não houve gritos nas ruas, nem cartazes erguidos em protesto. Nenhum "vem pra rua" ecoou nas redes sociais. O aumento, como tantos outros, foi aceito com a resignação de quem já não espera nada.
A rotina do aperto
“R$ 6,90 para ir ao trabalho e R$ 6,90 para voltar. São R$ 13,80 por dia, quase R$ 300 no mês. Isso é o que eu ganho em uma semana inteira de trabalho”, calcula Ana Lúcia Mendes, diarista de 43 anos, enquanto espera o ônibus em um ponto no centro da cidade. O salário mínimo, que acaba de ser reajustado para R$ 1.420, não acompanha os custos crescentes de um transporte que, para muitos, deveria ser um direito básico, não um privilégio.
“Não dá pra não ir trabalhar. Então, a gente vai. Deixamos de comprar outra coisa, apertamos daqui e dali. O que mais dá pra fazer?” A pergunta de Ana Lúcia não tem resposta, apenas ecoa no asfalto quente da capital catarinense.
De 2013 a 2025: o silêncio que custa caro
É impossível não lembrar de 2013. Naquele ano, milhões foram às ruas para protestar contra um aumento de R$ 0,20 nas tarifas de ônibus em São Paulo. O grito que começou nos terminais de transporte tomou o país e, por um momento, pareceu que o Brasil havia despertado.
Mas 12 anos depois, o que aconteceu com esse espírito? “As pessoas estão cansadas. A repressão policial, o medo de perder o emprego, a sensação de que nada muda... Tudo isso pesa. Parece que lutar não vale mais a pena”, reflete João Batista Silva, motorista de ônibus há 20 anos.
João já viu muita coisa. Greves, protestos, confrontos. Mas também percebe a mudança. “Hoje em dia, o povo só reclama no celular. Posta no grupo da família, faz meme, e a vida segue. É como se todo mundo tivesse aceitado que as coisas são assim mesmo.”
A normalização do absurdo
O que chama a atenção não é apenas o aumento da tarifa em Florianópolis, mas a naturalidade com que isso foi recebido. Outras capitais também registraram reajustes, como São Paulo, onde a passagem subiu para R$ 5,20. E, no entanto, o que antes seria motivo de indignação coletiva agora é tratado como mais uma notícia que se perde no fluxo do dia.
“A gente está vivendo um momento em que o absurdo virou norma”, diz a socióloga Marisa Andrade, especialista em mobilidade urbana. “Quando uma cidade como Florianópolis, onde o transporte público já é criticado por sua falta de integração e eficiência, aumenta a tarifa para quase R$ 7, e ninguém reage, isso mostra como nos tornamos uma sociedade resignada.”
Marisa acredita que a questão vai além do transporte. “É um reflexo de como estamos lidando com os problemas do país. Não há espaço para indignação porque as pessoas estão sobrecarregadas, endividadas, exaustas. E isso é muito conveniente para quem lucra com essa passividade.”
Até quando?
Enquanto a catraca gira, o silêncio persiste. O que antes era um grito de revolta agora é um suspiro contido. Ana Lúcia, João, Marisa e tantos outros continuam suas rotinas, ajustando o orçamento, sacrificando outras prioridades, aceitando o que parece inevitável.
Mas será que é mesmo? Será que nos tornamos uma sociedade que aceita qualquer preço, não só no transporte, mas em todos os aspectos da vida?
Talvez o maior custo desse aumento não esteja nos bolsos, mas naquilo que estamos perdendo como sociedade: a capacidade de questionar, de lutar, de sonhar com algo diferente. Porque, quando o silêncio custa tão caro, o preço não é só da passagem – é da nossa dignidade.
Sinceramente Florianópolis, sempre foi terra de gente Rica, infelizmente é assim, eles são preconceituoso, não gostam de gente que não seja igual a eles, deixar tudo bem maus caro é uma maneira de selecionar o povo que vai morrer pra la!
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