sábado, 4 de janeiro de 2025

Entrevista com Ivan Kaingang

Ivan Kaingang: a força de um povo na luta pela justiça

 

Ivan Kaingang em Brasília - Reprodução/Redes Sociais
 

Vivendo de maneira humilde, em Apucaraninha, Paraná, Ivan Bribis Rodrigues, ou simplesmente Ivan Kaingang, falou ao Sulpost um pouco sobre as muitas batalhas que enfrentou com a firmeza de quem não pretende desistir. Hoje com 50 anos, ele é advogado, líder comunitário e um defensor incansável dos direitos dos povos indígenas. Sua trajetória é marcada por uma resistência inabalável, com foco na busca por justiça e no compromisso sagrado que assumiu para manter vivas as tradições de seu povo.

Quem é Ivan Kaingang? 

“Sou filho da Terra Indígena Apucaraninha, no Paraná. Nasci em 1974, em uma família de luta. Cresci aprendendo com meus avós, meus tios, os mais velhos. Eles me ensinaram que liderar não é sobre poder, mas sobre sabedoria e cuidado. Minha mãe, que é professora, sempre dizia: ‘Nunca esqueça quem você é, nunca abandone nossa cultura’. Ela me levava para apresentações de cantos e danças, e eu via ali o que significa resistir.”

Como foi sua infância na aldeia?  

“Era um tempo de descobertas, mas também de desafios. A escola na aldeia só ia até o 4º ano, então, para continuar os estudos, tive que ir para a cidade. Foi lá que conheci o preconceito de perto. O racismo era diário, constante. Muitos parentes desistiam dos estudos, mas eu segui. Minha mãe dizia que estudar era um ato de resistência, e eu acreditei nisso.”

E como foi sua juventude?

“Depois do ensino médio, não tinha muitas perspectivas. Trabalhei na agricultura familiar na aldeia e como bóia-fria fora dela por anos. Foram tempos difíceis. Mas, em 2002, uma porta se abriu: o primeiro vestibular específico para indígenas no Paraná. Foi uma conquista fruto de muita luta de caciques e lideranças. Eu passei e fui estudar Direito na Universidade Estadual de Maringá.”

Por que escolheu Direito?

“Porque sabia que, para lutar pelos nossos direitos, precisávamos entender o sistema. O Direito me deu ferramentas para defender meu povo, para exigir o que é nosso. Mas a universidade não foi fácil. Tive que me adaptar ao mundo dos não indígenas, ao mesmo tempo em que me organizava com outros estudantes indígenas. Criamos a Associação dos Estudantes Universitários Indígenas do Paraná, ampliamos vagas, conquistamos bolsas. Foi um tempo de muita luta, mas também de grandes vitórias.”

E depois da universidade?

“Continuei na luta. Em 2005, fui eleito presidente do Conselho de Caciques do Paraná. No ano seguinte, fundamos a Arpinsul, a Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul. Trabalhamos por terra, compensações, indenizações, principalmente relacionadas às barragens que afetam nossos territórios. Essas batalhas são constantes, mas não podemos desistir.”

Hoje, qual é sua maior luta? 

“Estamos enfrentando uma disputa com a Copel, sobre a Pequena Central Hidrelétrica Apucaraninha, que fica dentro da nossa terra. Após a privatização, tem sido difícil negociar. Queremos uma indenização justa pelos impactos que sofremos. É uma luta árdua, mas necessária.”

Você está escrevendo um livro, certo?

“Sim, é um projeto que nasceu das histórias que minha avó me contava. Meu bisavô teve contato com os Xokleng, um povo quase extinto em Santa Catarina. Quero registrar essas memórias, preservar o que ouvi de forma oral e deixar isso para as próximas gerações. É uma forma de manter nossa história viva.”

O que te motiva a continuar?

“O amor pelo meu povo. Sei que não acumulei riquezas, mas deito minha cabeça no travesseiro tranquilo, porque dei o meu melhor. Defendi minha gente, lutei por justiça. Isso me faz feliz. É difícil, muitas vezes nos sentimos sozinhos, mas seguimos, porque sabemos que estamos construindo algo maior.”

Qual mensagem você deixa para 2025?

“Resistimos há séculos, e vamos continuar. Nossa luta é por nós e pelos que virão. Que 2025 seja um ano de força, união e conquistas para todos os povos indígenas. Não vamos desistir... E para fazermos as lutas precisamos de apoio estamos numa grande luta com a Copel que tem um passivo de uma indenização da PCH Apucaraninha, que é dentro da Terra Indígena e que depois de privatizada estamos com algumas dificuldades para sentarmos e debatermos o assunto sobre os Nossos Direitos."

Ivan Kaingang é mais do que um líder. É um elo entre o passado e o futuro, um exemplo de resistência e determinação. Sua história nos ensina que lutar pela justiça é, acima de tudo, um ato de amor e coragem.

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