O custo ambiental da guerra em Gaza: ocidente silencia diante da destruição ecológica
Enquanto o mundo assiste ao genocídio promovido por Israel em Gaza, um desastre ambiental sem precedentes está sendo ignorado pelos governos ocidentais. Apoiar essa guerra, além de significar uma tragédia humana, implica também em devastação irreversível para o meio ambiente — algo que deveria ser parte central das discussões sobre as mudanças climáticas.
Para se ter uma ideia da gravidade, um dos episódios mais simbólicos do impacto ambiental da guerra aconteceu na Primeira Guerra do Golfo, quando 700 campos de petróleo no Kuwait foram incendiados. Na época, 11 milhões de barris de petróleo vazaram no Golfo Pérsico, formando uma coluna de fumaça que se estendia por 800 quilômetros. Hoje, em Gaza, estamos diante de um novo capítulo dessa história de destruição, mas em uma escala ainda mais devastadora e negligenciada pela comunidade internacional.
Um relatório preliminar do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) aponta que o impacto ambiental da guerra em Gaza é sem precedentes, com poluição crescente do solo, da água e do ar. Especialistas alertam para os riscos de danos irreversíveis aos ecossistemas naturais da região.
Mais alarmante ainda é um estudo recente que mostra que as emissões de carbono durante os primeiros dois meses do conflito superaram a pegada de carbono anual de mais de 20 dos países mais vulneráveis às mudanças climáticas. A cada bomba lançada, o futuro ambiental de Gaza e do planeta fica ainda mais comprometido.
O grande problema é que, enquanto o Ocidente continua a financiar e apoiar a ofensiva israelense, a hipocrisia de suas políticas climáticas fica escancarada. Em conferências globais, líderes mundiais fazem discursos sobre a crise do clima, mas fecham os olhos para os impactos devastadores das guerras que apoiam. Falam da importância de combater o aquecimento global, mas falham em reconhecer o papel das guerras na intensificação dessa catástrofe.
A reconstrução de Gaza, por exemplo, será um desafio monumental e, paradoxalmente, representará um novo golpe ambiental. Estima-se que o processo de reconstrução gerará cerca de 60 milhões de toneladas de CO2, ultrapassando as emissões anuais de mais de 135 países, comparável às da Suécia e Portugal.
E, enquanto isso, o povo palestino continua a sofrer. Além da violência direta da guerra e da ocupação, a população de Gaza enfrenta as consequências climáticas de um território que já é árido e onde a escassez de água e a insegurança alimentar se agravam a cada dia. A mudança climática torna esse cenário ainda mais desesperador, aumentando o número de eventos climáticos extremos e exacerbando a crise humanitária que se aprofunda.
Este conflito é apenas uma amostra do impacto ambiental generalizado das guerras e do complexo industrial militar. Dados recentes mostram que as emissões globais de CO2 em 2022 foram 182 vezes maiores do que em 1850. E o que mais surpreende é que, mesmo com essa realidade, o debate climático continua a deixar de fora um dos maiores culpados: o setor militar.
Vejamos o exemplo da guerra na Ucrânia. Um estudo da EcoAction revelou que, desde o início da invasão, 175 milhões de toneladas de CO2 foram lançadas na atmosfera. Em lugares como Iêmen, Somália e Sudão, a combinação de guerra e mudança climática está criando uma tempestade perfeita para crises humanitárias ainda maiores.
E o que dizer das nações mais poderosas? Os Estados Unidos, em 2023, investiram impressionantes 916 bilhões de dólares em despesas militares, mas prometeram apenas 17,5 bilhões para o fundo de perdas e danos da COP28. Israel, Rússia e Ucrânia — responsáveis por grande parte da destruição ambiental causada pelas guerras — não se comprometeram com absolutamente nada.
A verdade é clara: as guerras, a OTAN e o complexo industrial militar são três dos maiores contribuintes para a crise climática global. Mas, enquanto os governos continuarem a desviar o olhar, sem reformar suas políticas de defesa e política externa, a devastação ambiental e humana persistirá. A única forma de reverter esse cenário é construindo um forte movimento anti-guerra que coloque a destruição ambiental do militarismo no centro da pauta.
Ronald Stresser, da redação.
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