segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Apagão em São Paulo expõe falhas da privatização

Apagão em SP expõe falhas da privatização e escancara visão torpe de "estado mínimo"

Por: Ronald Stresser / 14 de outubro de 2024
  
© PAULO PINTO/AGÊNCIA BRASIL

Há três dias, moradores de São Paulo enfrentam as consequências de um apagão que deixou mais de 400 mil imóveis sem energia. O caos, gerado por uma tempestade na última sexta-feira (11), revela mais do que um desastre natural: é um reflexo das falhas estruturais que acompanham a privatização de setores estratégicos como energia elétrica, defendida pela ideologia do "estado mínimo", tão presente nas políticas da direita e extrema direita brasileiras.

Conforme divulgado pela concessionária Enel Distribuição SP, os bairros mais afetados na capital incluem Jabaquara, Santo Amaro e Campo Limpo. Cidades como Cotia e Taboão da Serra também enfrentam dificuldades, com mais de 30 mil imóveis afetados em cada município. O cenário revela a fragilidade das operações da empresa privada, que não conseguiu lidar adequadamente com o impacto da tempestade, mesmo com prazos estabelecidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e reforços vindos de outras concessionárias para tentar restabelecer o serviço.

Em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (14), o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, criticou duramente a Enel, dizendo que o planejamento da empresa "beirou a burrice". Para ele, a falta de uma previsão clara para o restabelecimento da energia mostra uma falha grave de comunicação e compromisso com a população. A realidade que se impõe é que, quando serviços essenciais como energia elétrica ficam nas mãos do setor privado, o foco deixa de ser o bem-estar da sociedade e passa a ser o lucro.

Essa lógica do mercado, que ignora as necessidades básicas dos cidadãos, já vem sendo contestada em diversas partes do mundo. Na Europa e na América do Norte, países como Alemanha, França, Estados Unidos e Reino Unido têm revertido processos de privatização após constatarem que serviços essenciais administrados por empresas privadas resultam em aumento abusivo de tarifas e piora na qualidade do atendimento. Na Alemanha, por exemplo, mais de 90% das remunicipalizações envolvem o setor de energia, com cidades como Hamburgo e Berlim recuperando o controle da distribuição elétrica.

Em São Paulo, a ideologia do "estado mínimo" promovida por políticos locais como o prefeito Ricardo Nunes e o governador do estado, amplamente apoiada pela direita bolsonarista, é parte do problema. A falha da Enel, ao não lidar de forma eficiente com o apagão, e a dificuldade da população em contatar a concessionária para registrar ocorrências, escancaram os riscos de um modelo que reduz o papel do Estado na prestação de serviços essenciais.

Enquanto a Enel promete resolver a crise nos próximos três dias, a população segue sofrendo sem luz e, em muitos casos, sem água, já que a falta de eletricidade também interrompe o abastecimento de água em várias regiões. A privatização de setores estratégicos, como energia e saneamento básico, se mostra cada vez mais incoerente frente aos desafios climáticos e sociais, exigindo uma revisão urgente por parte do poder público e da sociedade brasileira. 

O apagão em São Paulo é um alerta sobre os riscos de deixar serviços essenciais à mercê do mercado. Enquanto o lucro estiver à frente das necessidades da população, a qualidade de vida dos brasileiros continuará em segundo plano.

Veja no vídeo abaixo, da Band News SP (Programa Primeiro Impacto), as consequências do apagão que aconteceu devido a tempestade da última sexta feira (11) e reflita que com a emergência climática, que o mundo atravessa, episódios como este poderão infelizmente acontecer com mais frequência.

 

Veja também imagens de protestos, que circulam nas redes sociais, devido ao apagão e à ineficácia da agência de energia elétrica, privatizada, em prestar atendimento para o pronto restabelecimento da energia nos domicílios afetados. Agradeço ao Luis Celso F. dos Santos, de São Paulo, pela colaboração. 

 




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