Mesmo após audiência no Ministério Público do Trabalho e votação histórica na fábrica, grupo suíço bilionário oferece reajuste considerado insuficiente; Nelsão da Força não descarta levar o caso à OIT
A mobilização dos trabalhadores e trabalhadoras da Neodent e ClearCorrect, em São José dos Pinhais (PR), começou a produzir efeitos concretos. Após a denúncia protocolada no Ministério Público do Trabalho (MPT) pelo dirigente sindical Nelson Silva de Souza, o Nelsão da Força, e diante da pressão organizada da base, a empresa anunciou um pequeno reajuste salarial. O avanço, no entanto, está longe de atender às reivindicações aprovadas de forma soberana pela categoria.
As empresas pertencem ao grupo suíço Straumann, um dos gigantes globais do setor odontológico, que faturou mais de R$ 17 bilhões em 2024 e que, no Paraná, goza de isenções fiscais milionárias. Ainda assim, a política salarial aplicada nas plantas de Curitiba e Região Metropolitana segue sendo alvo de críticas, indignação e denúncias formais.
Audiência no MPT confirma impasse e mantém denúncia ativa
Os desdobramentos da denúncia foram discutidos em audiência realizada no Ministério Público do Trabalho em 15 de dezembro de 2025. No encontro, foram apresentados os fatos que motivaram a ação sindical: o desrespeito à decisão coletiva dos trabalhadores, a tentativa de impor um acordo rejeitado em assembleia e a condução de processos de votação interna sem garantias mínimas de liberdade, sigilo e debate.
Segundo Nelsão da Força, a denúncia segue em curso e novas medidas poderão ser adotadas caso a empresa continue ignorando a vontade expressa da maioria.
“A empresa sentiu a pressão, mas respondeu com muito pouco. Aqui não se trata apenas de percentual. Trata-se de respeito. Respeito à democracia sindical e ao trabalhador que produz a riqueza desse grupo todos os dias”, afirma o dirigente.
Reajuste antecipado: reconhecimento tardio e insuficiente
Em comunicado interno, a Neodent e ClearCorrect informou que, em novembro, antecipou 4% de reajuste salarial, referente à data-base prevista na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT). A empresa também anunciou que, em dezembro, fará o pagamento de um aumento real, mesmo com as negociações coletivas ainda em andamento.
Para os trabalhadores, o gesto é resultado direto da mobilização e da denúncia no MPT, mas não recompõe as perdas acumuladas nem atende às deliberações da base, que aprovou uma pauta clara: 100% do INPC acumulado, acrescido de 2% de aumento real, além de garantias de liberdade sindical e modernização dos mecanismos de participação.
Consciência coletiva enfrenta um gigante global
A força do movimento ficou evidente na votação histórica realizada na fábrica, quando 99,26% dos trabalhadores participaram do processo e mais de 74% rejeitaram o acordo, autorizando formalmente a reabertura das negociações.
Mesmo sob pressão interna, fiscalização de chefias e ausência de condições ideais de votação, a categoria reafirmou sua posição. Para o sindicato, o contraste entre os números revela uma desigualdade estrutural difícil de justificar.
“Estamos falando de um grupo bilionário, com sede na Suíça, que recebe incentivos públicos no Paraná, mas oferece migalhas a quem sustenta esse lucro dentro da fábrica”, critica Nelsão.
Denúncia pode chegar à Organização Internacional do Trabalho
Caso as irregularidades persistam, o dirigente sindical afirma que está disposto a internacionalizar a denúncia, levando o caso à Organização Internacional do Trabalho (OIT).
“Se for preciso, vamos denunciar as empresas de Curitiba até a OIT. O que está acontecendo aqui fere princípios básicos de liberdade sindical reconhecidos no mundo inteiro”, reforça.
Enquanto isso, os trabalhadores e trabalhadoras da Neodent e ClearCorrect seguem mobilizados, atentos aos próximos passos das negociações e conscientes de que nenhum avanço veio por concessão espontânea, mas sim pela organização coletiva, pela denúncia e pela luta.
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