quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Operação Via PIX, do Gaeco, expõe corrupção Polícia Rodoviária do Paraná

A farda e o PIX: Gaeco desmonta esquema de propinas na PRE em operação que visa resgatar a honra dos policiais rodoviários paranaenses


Imagem: Divulgação/MP PR

Quando um motorista para numa blitz, ele confia. Confia que o policial à sua frente está ali para garantir a segurança de todos — e jamais se aproveitar da farda para extorquir quem transita pelas estradas paranaenses. Nesta terça-feira (07), uma operação do Gaeco e da Corregedoria da Polícia Militar (P2) expôs um esquema que o Ministério Público do Estado batizou como “indústria da propina” na Polícia Rodoviária Estadual (PRE) do Paraná.

O que a investigação revelou

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) deflagrou as operações Rota 466 (fase 2) e Via PIX, que apontam para um complexo esquema de corrupção, concussão, extorsão e lavagem de dinheiro envolvendo agentes da PRE, com indícios de participação de civis e empresas no ocultamento de valores ilícitos.

As apurações, iniciadas em março de 2025 a partir de denúncias de caminhoneiros e motoristas profissionais de Piraí do Sul, demonstraram que, durante fiscalizações nas estradas — em blitz ou em frente a postos policiais — investigados exigiam vantagens indevidas sob os mais diversos pretextos. Sem o pagamento, que podia ser em dinheiro ou por PIX, o veículo não era liberado.

O uso do PIX e o montante apurado

Segundo o MPPR, entre dezembro de 2024 e agosto de 2025 foram identificados pagamentos por PIX que somam, até aqui, aproximadamente R$ 140.000. Parte desse dinheiro passou por contas de “laranjas” — empresas e civis indicados pelos investigados — num esquema que também envolvia lavagem e ocultação de recursos.

Operação, buscas e apreensões

O Núcleo de Ponta Grossa do Gaeco, com o apoio da Corregedoria da PM, cumpriu 19 mandados de busca e apreensão em residências e postos policiais nas cidades de Ponta Grossa, Castro, Piraí do Sul, Telêmaco Borba, Jaguariaíva, Arapoti, Wenceslau Braz e Siqueira Campos. A Vara da Auditoria da Justiça Militar Estadual determinou o afastamento operacional de sete policiais rodoviários estaduais e o bloqueio de contas bancárias.


PMs ofereciam ‘wi-fi’ do posto rodoviário para receber Pix, diz Gaeco - Divulgação/MPPR

A ofensiva resultou em prisões — incluindo a de um ex-comandante em Guarapuava — e apreensões de armas (algumas com numeração raspada), munições, R$ 37 mil em espécie, veículos e celulares. Os investigadores alertam que o valor apreendido pode aumentar conforme novas contas e transações sejam identificadas.

Além da estrada: saqueamento de cargas

As apurações indicam que a atuação criminosa não se limitava às cobranças em blitz. Há indícios de que parte do grupo lucrava com acidentes rodoviários — em tombamentos de cargas, agentes teriam se associado a saqueadores ou facilitado a ação, e em casos mais sofisticados as cargas eram “devolvidas” às transportadoras mediante pagamento.

Ocorrências com esse padrão foram identificadas em diferentes municípios do estado, entre eles Guarapuava, São José dos Pinhais, Prudentópolis, Mauá da Serra, Cascavel, Pinhão, Manoel Ribas e Ponta Grossa — apontando para um modelo de corrupção descentralizado e replicado.

O golpe na confiança pública

A polícia existe para servir, proteger, orientar e garantir o cumprimento das leis. Quando agentes públicos se corrompem, traem não só o Estado, mas a confiança depositada por milhões de cidadãos e por seus colegas de trabalho. Ética policial, responsabilidade e formação de caráter são balizas que deveriam impedir esse tipo de desvio; quando falham, o resultado é devastador para a percepção pública da imagem da corporação.

Para muitos caminhoneiros e motoristas ouvidos ao longo das investigações, houve um sentimento de alívio e descrença: alívio porque as denúncias deram em apuração, descrença por constatar que agentes que deveriam proteger se aproveitaram das estradas e das pessoas que nelas trabalham.

Próximos passos

As investigações seguem em sigilo, com forte respaldo de provas materiais, documentais e testemunhais. O Ministério Público do Paraná informou que pretende formalizar denúncias nas próximas semanas. O processo promete desdobramentos importantes — tanto para a responsabilização criminal quanto para medidas internas de correção e vigilância nas forças de segurança do Estado.

Enquanto isso, nas estradas do Paraná, milhares de motoristas seguem percorrendo rotas eventuais e cotidianas, na esperança de que as instituições responsáveis pelo controle e pela segurança pública reafirmem seu compromisso com a legalidade e o serviço ao cidadão e à cidadã em dia com seus impostos.

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