quarta-feira, 24 de setembro de 2025

“Ficamos no escuro — e no prejuízo”: Paraná ainda sofre com apagão severo após tempestades

"Ficamos no escuro e no prejuízo": tempestades deixam mais de 12 mil paranaenses sem energia — e a privatização da Copel levanta dúvidas sobre quem realmente protege a população

Paraná, 24 de setembro de 2025 — Enquanto famílias aguardam religação, pequenos negócios contabilizam perdas e aparelhos danificados; crise reabre o debate sobre serviços essenciais privatizados.

Por Ronald Stresser — Sulpost

Ilustração/Sulpost

Há dias que a escuridão vem acompanhada de um som que dói: o zumbido do freezer que morreu, o clique seco de uma geladeira que não responde, ou o pranto de quem depende de um aparelho médico e já viu a bateria se esvaziar. Entre domingo e segunda-feira uma tempestade — com ventos que chegaram a cerca de 80 km/h — rasgou a rotina de milhares de paranaenses. No pico, cerca de 1,1 milhão de imóveis ficaram sem energia. À medida que a crise avançou, foram-se as certezas: luz nem sempre significa segurança.

Na manhã desta quarta-feira, mais de 12 mil famílias ainda continuavam no escuro. Alguns relatos falam em quase três dias sem eletricidade; outros em protocolos abertos sem retorno, telefones que tocam e não são atendidos — e eletrodomésticos que deixam de funcionar para sempre. "Abri um protocolo, disseram que vinham arrumar, mas agora aparece como se fosse só o início", resume um morador que, como tantos outros, prefere não se identificar e relata a sensação de abandono.

Vidas interrompidas

É fácil quantificar postes e cabos quebrados — menos fácil mensurar os micro-caos que essas quedas provocam: a dona de um pequeno restaurante que perde estoque e clientes; o trabalho remoto interrompido de professores e trabalhadores; idosos que passam horas sem assistência; famílias com bebês que não têm aquecimento; ambulâncias e serviços de saúde que precisam improvisar.

Em bairros onde a infraestrutura já era frágil, o estrago foi maior; em estradas rurais, o acesso às equipes de reparo exige logística que atrasa ainda mais a religação. Para muitos, não há apenas a falta de luz: há perdas financeiras e, acima de tudo, uma sensação de desproteção.

A privatização no centro do debate

Nos últimos anos a Companhia Paranaense de Energia — Copel — deixou de ser majoritariamente pública e transformou-se em sociedade anônima com capital aberto. Para críticos, a mudança alterou a relação entre a empresa e a população: o que antes era gerido com foco no serviço público, hoje convive com metas de rentabilidade que pautam decisões sobre investimento, manutenção e quadro técnico.

O argumento é conhecido: empresas privadas tendem a priorizar o lucro, e quando choques climáticos acontecem — como o que atingiu o estado — a resposta imediata e a capacidade de mobilização podem ficar comprometidas por escolhas administrativas. Para moradores que perdem aparelhos e refrigeração de remédios que dependem de refrigeração, essa discussão é menos ideológica do que prática: querem soluções, explicações e ressarcimento.

A quem recorrer quando a luz não volta?

Mesmo diante de eventos naturais, existem direitos do consumidor. A jurisprudência costuma reconhecer a responsabilidade da prestadora quando a demora é excessiva ou a reparação é inadequada — e isso inclui possibilidade de indenização por danos materiais (aparelhos queimados, perdas de estoque) e, em alguns casos, por dano moral (o sofrimento que a interrupção prolongada causa).

As recomendações práticas para quem foi afetado são simples e urgentes: registre tudo — fotos, vídeos, notas fiscais de equipamentos danificados, protocolos de atendimento. Procure a ouvidoria da empresa, acione órgãos de defesa do consumidor, e, se houver danos, avalie um pedido de reparação nos Juizados Especiais ou com apoio jurídico coletivo. Denúncias e ações coletivas fortalecem a voz da comunidade.

O problema que expõe escolhas

Além da infraestrutura física — postes partidos, torres comprometidas, cabos arrebentados — há um nó político: se a gestão pública se afasta, quem garante que os investimentos preventivos e emergenciais acontecerão? A tempestade expôs um risco que não é meteorológico, mas institucional: como garantir continuidade e proteção quando um serviço essencial é moldado por lógica de mercado?

Para muitos, a resposta passa por fiscalização mais rigorosa, transparência nas prioridades de atendimento e a garantia de que contratos com empresas privadas contemplem obrigações claras de restabelecimento, atendimento e indenização quando houver falha. Enquanto isso não se resolve, ficam as histórias: famílias que perderam renda, gestantes que passaram horas sem energia, idosos que enfrentaram noites de tensão.

O que o poder público e as empresas precisam fazer agora

  • Transparência imediata sobre número de clientes afetados e previsão realista de religação;
  • Priorizar casos que envolvam riscos à saúde e atendimento médico domiciliar;
  • Criação de pontos de apoio com refrigeração e carregamento de dispositivos em áreas mais afetadas;
  • Fiscalização rigorosa pelas agências reguladoras e órgãos de defesa do consumidor;
  • Programas de ressarcimento acessíveis e ágeis para danos materiais comprovados.

Histórias que não cabem em números

“Perdi tudo do restaurante”, diz um comerciante de cidade do interior; “o aparelho de pressão do meu pai parou de funcionar e passamos uma noite sem conseguir socorro”, conta outra moradora. São relatos que empurram para além das estatísticas e lembram que, em cada número, há uma rotina — uma vida — que foi interrompida.

Enquanto isso, a conta chega: de um lado, a fatura do consumidor; do outro, a conta coletiva de um país que precisa decidir como quer gerenciar seus bens essenciais.

Se você foi afetado por esta interrupção e tem relatos ou documentos, envie para a redação do Sulpost — seu testemunho ajuda a construir processos coletivos e a cobrar respostas. 📧 sulpost@outlook.com.br ou 📲 (41) 99281-4340 WhatsApp e chave Pix.

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