quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Mais Médicos, exemplo de parceria que deu certo

Mais que Médicos: por que a ponte Brasil–Cuba desafia o bloqueio e salva vidas no cotidiano do SUS

Por Ronald Stresser | Sulpost

14.08.2025 – Lula inaugura novos blocos da Hemobrás em Goiana (PE). Foto: Ricardo Stuckert / PR

Numa manhã de sol cortante em Goiana, o barulho metálico da fábrica recém-inaugurada disputava espaço com aplausos. Ali, no coração da Hemobrás, não era apenas uma planta industrial que ganhava vida: era a promessa de um Brasil menos dependente, mais soberano e, sobretudo, mais justo com quem espera por um frasco de remédio como quem espera por ar.

Foi nesse cenário que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a mirar o que chama de injustiça histórica: o bloqueio imposto pelos Estados Unidos a Cuba, ilha que há décadas transforma solidariedade em política pública, enviando médicos a lugares onde, muitas vezes, só chega a fé do povo. “A nossa relação com Cuba é de respeito a um povo vítima de um bloqueio. Deixem os cubanos viverem em paz”, afirmou, defendendo também o Programa Mais Médicos, criado em 2013 para preencher vazios assistenciais que o Brasil conhece de cor.

Quando o consultório é um barco, uma estrada de terra, uma aldeia

O Mais Médicos nasceu para responder a uma pergunta simples e dura: quem cuida de quem está longe de tudo? Prefeitos de interior falam da dificuldade de atrair profissionais; mães contam de longas viagens por uma consulta; idosos esperam meses por um clínico geral. Entre 2013 e 2018, a chegada de profissionais cubanos, via OPAS, encurtou distâncias que a geografia brasileira teima em alargar.

Em postos improvisados e unidades básicas, não se tratava apenas de prontuários: eram histórias. A enfermeira que respirou aliviada ao ter, enfim, quem prescrevesse; o ribeirinho que aprendeu a controlar a pressão; a agente comunitária que viu o pré-natal acontecer no tempo certo. A medicina, ali, era presença — e presença, no Brasil profundo, é política pública com nome e sobrenome.

Cuba, a ilha que exporta cuidado (e enfrenta sanções)

Desde os anos 1960, Cuba envia missões médicas para o mundo. Ao longo de seis décadas, centenas de milhares de profissionais atuaram em mais de 160 países, numa política que combina solidariedade e sobrevivência econômica diante das sanções. A cada novo ataque diplomático, outra pergunta volta à mesa: o que pesa mais — um embargo ou a vida salva numa sala de consulta?

Recentemente, a escalada de pressões incluiu a revogação de vistos de servidores e ex-integrantes ligados à cooperação em saúde, repercutindo também no Brasil. Países caribenhos, como São Vicente e Granadinas, Barbados e Trinidad e Tobago, reagiram em defesa dos acordos: quem conhece a ponta sabe o que é ficar sem médico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gostou?
Então contribua com qualquer valor
Use a chave PIX ou o QR Code abaixo
(Stresser Mídias Digitais - CNPJ: 49.755.235/0001-82)

Sulpost é um veículo de mídia independente e nossas publicações podem ser reproduzidas desde que citando a fonte com o link do site: https://sulpost.blogspot.com/. Sua contribuição é essencial para a continuidade do nosso trabalho.