sábado, 12 de julho de 2025

Quando a Terra fala: o novo espetáculo do Kīlauea no coração do Havaí

Na madrugada de 9 de julho, o vulcão mais ativo do planeta voltou a estremecer a ilha com jatos de lava que tocaram o céu. Um espetáculo de beleza e poder que reacende reflexões sobre a força ancestral da natureza

Por Ronald Stresser | Sulpost
 
A erupção do Kilawea - Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS)
 

Era madrugada no Havaí quando o céu escurecido ganhou tons de vermelho incandescente. Eram 4h10 da manhã quando o Kīlauea — o vulcão mais ativo do arquipélago e um dos mais monitorados do mundo — entrou novamente em erupção. Como num ritual ancestral, colunas de lava começaram a jorrar da cratera Halemaʻumaʻu, alcançando alturas que beiraram os 365 metros, o equivalente a um arranha-céu de 100 andares.

O evento, apesar da sua magnitude, não representou risco imediato às comunidades. A erupção se concentrou dentro dos limites seguros do Parque Nacional dos Vulcões, e foi acompanhada de perto pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), que monitora cada batida do coração geológico da ilha.

Mas o que se viu ali não foi apenas um fenômeno físico. Foi, para muitos, um momento de comunhão com algo maior. “Parecia que o sol nascia no meio da noite”, disse um visitante emocionado ao ver o espetáculo pela trilha de observação. A erupção durou cerca de nove horas e cessou de forma abrupta às 13h20. O tempo suficiente para gravar na memória — e nos céus — a dança ancestral entre fogo e terra.

Um gigante que nunca dorme

O Kīlauea não é um estranho à atividade. Desde dezembro de 2024, ele tem apresentado episódios recorrentes de erupção. São eventos curtos, mas intensos, que ocorrem a cada poucos dias e costumam durar cerca de um dia — uma espécie de "pulso" constante da Terra. A erupção de 9 de julho foi considerada o episódio número 28 desde o final do ano passado, e um dos mais vigorosos, segundo o USGS.

Cada erupção tem seus próprios sinais: tilímetros registram deflações (quando o magma é expelido), seguidas por inflamações (quando ele volta a se acumular no interior do vulcão). O solo respira junto com o magma.

Durante a erupção mais recente, as fontes de lava começaram com cerca de 45 metros de altura, mas, à medida que a atividade se intensificou, os jatos ultrapassaram 300 metros, iluminando a cratera Halemaʻumaʻu com uma luz laranja e hipnótica. Um show que se repetiu ao longo de nove horas com rara intensidade.

Entre ciência e espiritualidade

No Havaí, cada erupção é também um ritual simbólico. Para o povo nativo, o Kīlauea não é apenas um vulcão — é o lar da deusa Pele, a deusa do fogo e dos vulcões. A lava que escorre não é vista apenas como destruição, mas como criação. É o sopro divino que molda a terra, que transforma o mundo sob nossos pés.

“Testemunhar isso é como ver a origem da Terra diante dos olhos”, disse um vulcanólogo do Observatório de Vulcões do Havaí (HVO), que acompanha a atividade do Kīlauea há anos.

Espetáculo que respira

Ao mesmo tempo em que encanta, o vulcão exige atenção. Durante a erupção, os ventos carregaram partículas de cinzas e “Pele’s hair” — filamentos finos de vidro vulcânico — para áreas próximas, o que levou a alertas de saúde, embora sem impactos significativos até o momento.

Outro risco, apontado pelos cientistas, são os desmoronamentos do cone de lava formado durante a erupção. O USGS alerta que pequenas escorrências podem ocorrer nas próximas 24 a 48 horas, dependendo da pressão interna do vulcão e das chuvas sobre a cratera.

Monitoramento constante

O Kīlauea é hoje um dos vulcões mais monitorados do mundo. Câmeras ao vivo, drones e sensores sísmicos captam em tempo real cada tremor, cada alteração química nos gases expelidos, cada mudança na estrutura da caldeira. E essa vigilância é vital: mesmo que hoje a erupção esteja contida, os sinais do subsolo indicam que o magma continua se movimentando, e novos episódios podem ocorrer a qualquer momento.

Futuro em ebulição

Enquanto o magma sobe e desce sob os pés dos havaianos, a população local vive em harmonia com essa força. O turismo volta a crescer nas áreas seguras do parque, onde visitantes podem observar de perto, mas com segurança, os rastros de fogo e rocha que desenham a nova geografia da ilha.

A Terra ali não é estática. Ela pulsa. E no Kīlauea, essa pulsação é visível, audível, sentida. Um lembrete de que o planeta está vivo. Que por mais que dominemos tecnologia e ciência, há forças que seguem regendo os ciclos da vida — e nos lembrando de onde viemos.

Curiosidades

  • Está em atividade quase contínua desde 1983. 

  • Em 2018, sua erupção destruiu mais de 700 casas. 

  • O nome "Kīlauea" significa “espalhando muito” em havaiano, em referência ao fluxo constante de lava. 

  • É o lar da deusa Pele na mitologia havaiana. 

  • Está situado no Parque Nacional dos Vulcões do Havaí, Patrimônio Mundial da UNESCO.

  • Com informações do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), Observatório de Vulcões do Havaí (HVO), Parque Nacional dos Vulcões do Havaí, MauiNow (portal de notícias locais)

Sulpost — Reportagens que respiram o tempo e revelam o mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gostou?
Então contribua com qualquer valor
Use a chave PIX ou o QR Code abaixo
(Stresser Mídias Digitais - CNPJ: 49.755.235/0001-82)

Sulpost é um veículo de mídia independente e nossas publicações podem ser reproduzidas desde que citando a fonte com o link do site: https://sulpost.blogspot.com/. Sua contribuição é essencial para a continuidade do nosso trabalho.