Corações e redes unidos pela natureza: pescadores e Itaipu retiram mais de 12 toneladas de lixo do lago da usina
Por Ronald Stresser*A canoa de madeira desliza suavemente sobre as águas turvas do reservatório. Dentro dela, ao lado das redes de pesca, um saco preto vai se enchendo — não de peixes, mas de lixo. Garrafas plásticas, pedaços de isopor, pneus, embalagens de todo tipo. O pescador Antônio Silva, 62 anos, sabe que aquele esforço não lhe renderá dinheiro no mercado, mas oferece algo ainda mais valioso: dignidade.
“Se a gente não cuidar do que tem, quem vai cuidar por nós?”, pergunta Antônio, nascido e criado à beira do lago de Itaipu. “Esse lago dá o nosso sustento. Mas também é nosso espelho. O que a gente joga nele, uma hora volta.”
Ele é um dos mais de 300 pescadores de 12 colônias que se uniram à Itaipu Binacional na 12ª Campanha de Limpeza do Lago, realizada em dez municípios lindeiros no Paraná e no Mato Grosso do Sul. O resultado foi impressionante: 12.270 quilos de lixo removidos — 6.270 kg recicláveis e outras 6 toneladas de rejeitos.
Da subsistência ao protagonismo ambiental
A ação é parte do convênio Linha Ecológica, firmado entre a Itaipu e o Conselho dos Municípios Lindeiros, que fornece equipamentos de proteção (camisetas, bonés, luvas), alimentação e apoio logístico aos pescadores. Mas vai muito além de uma simples operação de coleta.
“Nosso objetivo é valorizar o pescador como um verdadeiro agente ambiental”, explica Enio Verri, diretor-geral brasileiro de Itaipu. “Eles conhecem cada canto do lago. São guardiões silenciosos desse ecossistema.”
Os municípios envolvidos — entre eles Foz do Iguaçu, Santa Helena, Marechal Cândido Rondon e Guaíra — foram palco de cenas que misturam esforço físico e consciência coletiva. Em algumas margens, as embarcações pequenas formavam uma espécie de procissão ecológica. Crianças acenavam das barrancas, orgulhosas de ver pais, tios e avôs fazendo história com as próprias mãos.
Transformando realidades
A campanha de limpeza é só uma das ações de um pacote robusto de apoio da Itaipu à pesca artesanal. Os investimentos da usina já ultrapassam R$ 46 milhões, destinados a convênios, capacitações, editais e doações de equipamentos como tanques, redes, máquinas de gelo e descamadeiras.
A meta é clara: fortalecer a pesca profissional e a aquicultura familiar de forma sustentável, gerando renda e preservando o ambiente.
“Hoje não pescamos só peixe, pescamos futuro”, diz emocionada Maria das Dores, presidente de uma associação de pescadores em Santa Terezinha de Itaipu. “Antes, nossos filhos não queriam seguir na pesca. Agora veem que tem valor, que dá para viver com dignidade.”
Regularizar para preservar
Outro eixo fundamental do programa é a regularização dos pontos de pesca. Desde que foram criadas as Normas de Gestão de Usos Múltiplos do Reservatório e Áreas Protegidas, 18 locais já foram regularizados e comodatados, e outros 7 estão em processo. A meta é harmonizar o uso econômico do lago com a proteção ambiental.
“Tem lugar que virou lixão a céu aberto. Agora estamos virando esse jogo”, relata Jairo Gonçalves, pescador de Guaíra, enquanto segura com orgulho uma fotografia antiga de seu pai, também pescador, em um tempo em que o lago ainda era limpo.
Lago limpo, consciência renovada
No fim da jornada, os sacos de lixo empilhados nas margens revelam mais que resíduos: são testemunhos de uma transformação em curso. São os vestígios de uma nova forma de ver o mundo — onde quem vive da natureza passa a ser também seu defensor mais ativo.
“Cuidar do lago é cuidar da nossa alma”, resume Antônio, antes de voltar a remar.
E, por trás de cada remada, uma certeza: quando pescadores e natureza remam juntos, quem ganha é o futuro.
Fotos: William Brisida / Itaipu Binacional - Informações: Comunicação Itaipu Binacional
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