terça-feira, 20 de maio de 2025

Entre taças e tradições: os vinhos mais desejados do mundo em 2025 ainda falam francês

Por trás de cada gole, uma história centenária. No topo das buscas de apaixonados por vinho em todo o planeta, Bordeaux mantém sua supremacia. Mas há espaço também para os sabores da Toscana e da Califórnia

Editoria especial gourmet, Sulpost*
 
 

Em um mundo que vive em constante reinvenção, onde modismos nascem e desaparecem com a mesma velocidade de um story no Instagram, há algo que resiste ao tempo com a mesma elegância com que envelhece: o vinho de Bordeaux. Em 2025, essa constatação ganhou respaldo numérico — e simbólico — com a nova lista dos 20 vinhos mais procurados do mundo divulgada pela plataforma internacional Wine Searcher.

A liderança, como era de se esperar para os iniciados, continua francesa. Dos 20 rótulos mais buscados na plataforma ao longo do último ano, 17 vêm da França. A maioria esmagadora pertence à renomada região de Bordeaux, que parece ter encontrado uma forma muito particular de engarrafar prestígio, tradição e desejo.

É ali, entre os vinhedos de Pauillac, Margaux, Pomerol e Saint-Émilion, que nascem nomes que beiram o mítico. Chateau Lafite Rothschild, o mais acessado do mundo, carrega uma aura quase sagrada. Em sua cola, seguem de perto os venerados Chateau Mouton Rothschild, Latour, Margaux e o lendário Petrus, este último frequentemente associado a cifras estratosféricas — e experiências quase transcendentais.

“São vinhos que não se medem apenas pelo sabor, mas pela história que contam. Cada garrafa é como um livro antigo que, ao ser aberto, nos leva por uma viagem no tempo — da época de Napoleão às mesas mais sofisticadas do presente”, descreve Juliana Duarte, sommelière e historiadora apaixonada por contar histórias através do vinho. Juliana não apenas estuda as safras e castas; ela vive cada mudança de tendência como quem acompanha uma ópera em capítulos, com enredos marcados por clima, solo e tradição.

E entre tantos rótulos lendários, há espaço para verdadeiros ícones da delicadeza líquida. É o caso do Chateau d’Yquem, um Sauternes que faz da botritização — o chamado “nobre apodrecimento” das uvas — uma espécie de poesia fermentada. Ao lado dele, o inconfundível Dom Pérignon Brut, espumante nascido na encantadora região de Champagne, continua a simbolizar celebrações memoráveis e instantes em que o tempo parece parar entre borbulhas douradas.

Mas nem só de França vive o ranking

A Itália marca presença com dois gigantes toscanos: Tignanello e SassicaiaO Tignanello, criado pela tradicional Marchesi Antinori, é mais do que um vinho: é um marco de ousadia que mudou para sempre a forma como a Itália faz e pensa sua vinicultura. Desde os anos 1970, quando nasceu da combinação pouco ortodoxa de Sangiovese com Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, ele passou a ser visto como um símbolo da modernidade em um país profundamente enraizado em tradições seculares. Era como se, ao desafiar as regras, abrisse caminho para uma nova geração de vinhos italianos com voz própria.

Já o Sassicaia, nascido em Bolgheri pelas mãos da Tenuta San Guido, é tratado quase como uma lenda entre os amantes do vinho. Considerado o patriarca dos chamados “Super Toscanos”, ele foi um dos primeiros a ignorar as amarras impostas pelas denominações oficiais da Itália — e, ao fazer isso, conquistou paladares exigentes nos quatro cantos do mundo. Um vinho que ousou ser diferente e, por isso mesmo, tornou-se eterno.

“Esses rótulos representam uma Itália que respeita a tradição, mas não tem medo de inovar. E isso toca o coração de uma nova geração de enófilos”, explica Enrico Romano, enólogo italiano radicado no Brasil.

Fora do Velho Mundo, apenas um nome conseguiu furar a bolha: Opus One, da ensolarada Napa Valley, Califórnia. Nascido de uma colaboração entre o ícone americano Robert Mondavi e o aristocrata francês Baron Philippe de Rothschild, o rótulo sintetiza o que se convencionou chamar de "Novo Mundo do vinho" — menos apegado a regras, mas não menos comprometido com a excelência.

A lista da Wine Searcher, baseada nas buscas realizadas por milhões de consumidores, colecionadores e curiosos ao redor do globo, não revela apenas o que se bebe, mas o que se sonha beber. É um termômetro de desejo, status e, por que não, de imaginação.

Veja a lisra dos 20 vinhos mais procurados do mundo neste ano:

1. Chateau Lafite Rothschild – Pauillac (Bordeaux), França

2. Chateau Mouton Rothschild – Pauillac (Bordeaux), França

3. Chateau Latour – Pauillac (Bordeaux), França

4. Chateau Margaux – Margaux (Bordeaux), França

5. Petrus – Pomerol (Bordeaux), França

6. Chateau d’Yquem – Sauternes (Bordeaux), França

7. Dom Pérignon Brut – Champagne, França

8. Chateau Haut-Brion – Pessac-Léognan (Bordeaux), França

9. Sassicaia – Tenuta San Guido (Toscana), Itália

10. Romanée-Conti Grand Cru – Domaine de la Romanée-Conti (Borgonha), França

11. Chateau Pontet-Canet – Pauillac (Bordeaux), França

12. Chateau Cheval Blanc – Saint-Émilion (Bordeaux), França

13. Chateau Lynch-Bages – Pauillac (Bordeaux), França

14. Chateau Montrose – Saint-Estèphe (Bordeaux), França

15. Opus One – Napa Valley (Califórnia), EUA

16. Chateau Cos d’Estournel – Saint-Estèphe (Bordeaux), França

17. Chateau Palmer – Margaux (Bordeaux), França

18. La Tâche Grand Cru Monopole – Domaine de la Romanée-Conti (Borgonha), França

19. Tignanello – Marchesi Antinori (Toscana), Itália

20. Chateau Léoville-Las Cases – Saint-Julien (Bordeaux), França

Enquanto a maooria percorre as prateleiras em busca do rótulo perfeito, para brindar um momento especial, outros veem nessas garrafas verdadeiras máquinas do tempo — onde cada gole carrega séculos de histórias, de safras e de sonhos. Não importa se você já fala de taninos com a naturalidade de quem respira ou se ainda confunde Merlot com Malbec: o universo do vinho é generoso com todos que se permitem embarcar nessa jornada.

Porque, no fim das contas, abrir uma garrafa é mais do que servir uma bebida — é abrir uma porta para paisagens distantes, conversas demoradas e tradições que sobrevivem ao tempo. E nessa viagem que mistura sensações, memórias e terroir, Bordeaux segue firme como aquele velho amigo que, geração após geração, continua sendo o melhor lugar para começar.

*Jornalista responsável: Ronald Stresser.

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