O preço amargo do café sem açúcar está tirando todo o sabor da mesa dos brasileiros. O que pode ser feito entre medidas artificiais e soluções sustentáveis?
Por Ronald Stresser, de Curitiba, Paraná.Basta uma simples ida ao supermercado para perceber o peso da inflação dos alimentos no Brasil. A conta do mês nunca fecha, e o carrinho de compras, antes cheio, agora se resume ao essencial—e, muitas vezes, nem isso. De acordo com dsdos do IBGE, desde 2020, os alimentos subiram mais de 55%, o que representa um aumento muito superior ao da inflação geral, que foi de 33,4% no período. Para quem é assalariado ou depende de auxílios do governo, a alta dos preços transformou algo básico, como uma refeição digna, em um desafio diário.
Diante desse cenário, o governo Lula tem tentado a frear o avanço dos preços com medidas paliativas, como isenção de tarifas de importação para alguns produtos essenciais. São medidas que podem oferecer uma resposta rápida, mas que, na prática, não atacam a raiz do problema. O mercado responde a oferta e demanda, e uma interferência artificial apenas posterga o reajuste natural dos preços.
O agronegócio, por outro lado, tem apresentado soluções mais eficazes para equilibrar a balança entre produção, custo e acessibilidade. Ao invés de tabelar preços ou interferir na lógica do livre mercado, o setor propõe incentivos à produção, modernização da cadeia produtiva e ampliação de seguros agrícolas para mitigar os impactos da crise climática. Medidas assim garantem não só uma redução sustentável dos preços, mas também a segurança alimentar de milhões de brasileiros e das exportações que sustentam a economia nacional.
A conta não fecha
O problema da alta dos preços não é simples e passa por diversos fatores. A desvalorização da moeda brasileira é um dos maiores vilões da inflação, que recai sobre todos os produtos que tem o preço regulado pelo mercado de commodities. Muitos itens da cesta básica — como trigo, milho e soja — são cotados em dólar, de acordo com seu valor na bolsa de valores. Desde a eleição de Donald Trump como presidente dos EUA, o câmbio tem apresentado fortes oscilações, isso acontece principalmente devido a especulações, pois Trump ainda está em princípio de mandato. Fato é que a variação das commodities nas bolsas de valores ocorre em dólar e isso pressiona ainda mais o custo dos alimentos básicos no Brasil.
Não bastase as variações no bolsa, o clima extremo se tornou um inimigo silencioso da produção agrícola, encarecendo ainda mais a cotação dos produtos advindos do agronegócio. No Sul do país, as chuvas excessivas devastaram safras inteiras. Logo em seguida, no segundo semestre de 2024, veio a seca, que resultou em geandes queimadas e impactou fortemente a oferta de alimentos, inflacionado ainda mais os preços. O tomate é um exemplo do efeito que o clima exerce sobre as lavouras, devido à estiagem o fruto teve sua produção afetada, e, por meses, se tornou artigo de luxo para muitas famílias. Outra produção bastante afetada no ano passado foi a de cana-de-açúcar, acumulando perdas de R$ 1,2 bilhão, fazendo disparar o preço do açúcar e do etanol.
Sobretudo, de acordo com agricultores consultados pelo Sulpost, o que msis tem pesado no custo dos alimentos é a insegurança fiscal. O Brasil segue patinando em um modelo econômico que não incentiva a prosperidade individual. Os impostos elevados sobre a produção e o consumo restringem o poder de compra da população. Em vez de permitir que os brasileiros cresçam financeiramente, e tenham acesso a uma alimentação saudável, de qualidade, o governo insiste em intervenções que ferem a política do livre mercado, impedindo o crescimento real do estado, do empresariado e dos cidadãos.
O futuro preocupa — e a crise climática pode piorar tudo
Se hoje o cenário já é difícil, o que esperar do futuro? Em 2023, cerca de 733 milhões de pessoas passaram fome no mundo, segundo a ONU. A insegurança alimentar cresce especialmente nas regiões mais afetadas pelo clima extremo. No Brasil, onde o agronegócio sustenta a economia e alimenta milhões dentro e fora do país, a ausência de políticas estruturais para enfrentar a crise climática e proteger a produção pode agravar ainda mais essa realidade.
O problema não é apenas de produção, mas de planejamento. Hoje, não há um sistema de seguro agrícola robusto que proteja os produtores contra quebras de safra. E sem esse respaldo, o investimento no campo se torna mais arriscado, reduzindo a oferta de alimentos e encarecendo ainda mais os preços.
No fim das contas, a fome pode se tornar a grande crise global do século XXI. A COP 30 se aproxima, e, com essa cúpula mundial do clima acontecendo no Brasil, a necessidade que se faz emergente é a de alimentar o mundo. Os líderes globais terão uma grande oportunidade para discutir políticas voltadas ao agronegócio. O mundo precisa de uma cadeia produtiva, e políticas econômicas, que torne possível a oferta de produtos agrícolas acessíveis e sustentáveis. Quanto maior for a percepção de insegurança alimentar, maior a possibilidade da ocorrência de conflitos e desestabilizações sociais. O relógio não para e parece ser apenas uma questão de tempo para que a fome leve o mundo a mais uma guerra. O Brasil, como um dos maiores produtores de alimentos do mundo, tem a responsabilidade de liderar soluções inteligentes. Mas isso só será possível com políticas que incentivem a produção e protejam quem põe comida na mesa dos brasileiros.
O maior inimigo do futuro talvez não seja um conflito localizado ou uma pandemia, mas sim a fome. Se não agirmos agora, a conta será impagável e as gerações futuras vão culpar nossa geração por, mesmo sob uma saraivada de alertas, não ter tomado uma atitude. E você, qual atitude pelo clima, qual ação pelo futuro da humanidade você tomou hoje?
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