Com mais de 6,5 milhões de domicílios, favelas brasileiras ainda enfrentam desafios de saneamento, moradia e acesso a serviços essenciais, segundo dados do Censo 2022
© FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL |
O Censo 2022, que é o mais recente a ser realizado pelo IBGE, revela um quadro de abandono por parte do poder público para com os moradores das favelas brasileiras. São mais de 6,5 milhões de domicílios localizados em comunidades carentes, representando 7,2% dos lares brasileiros. Esses números vão além de estatísticas, trazendo mais uma vez à tona o cotidiano desafiador que milhões de brasileiros enfrentam vivendo em meio a diversas dificuldades, mas sempre mantendo com um forte senso comunitário, resiliência e capacidade de adaptação.
Uma realidade marcante que os dados do Censo 2022 apresentam é que 72,5% das favelas possuem até apenas 500 domicílios. Esses espaços, embora pequenos, são densamente habitados e abrigam em média 2,9 pessoas por casa, um número levemente superior à média nacional. Em 2010, esse índice era mais alto, de 3,5 pessoas por domicílio, mostrando que as famílias podem estar se ajustando ao contexto socioeconômico atual que infortunadamente perdura por décadas no Brasil.
A maior favela do Brasil continua sendo a da Rocinha, com cerca de 30 mil domicílios no Rio de Janeiro também está a maior população de favelas urbanas do país. Sol Nascente, em Brasília, e Paraisópolis, em São Paulo, ocupam a segunda e a terceira posição. No Rio de Janeiro 13,03% da população mora em favelas.
A Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro - © FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL |
Quando se trata de infraestrutura básica, a situação é ainda mais complexa. Cerca de 89,3% dos domicílios nas favelas têm ligação com a rede de abastecimento de água, uma média acima do índice nacional de 87,4%. Entretanto, o saneamento ainda é uma ferida aberta: apenas 61,5% desses lares têm acesso a redes de esgoto, enquanto no restante do país o número é um pouco maior, 65%. Além disso, apenas 76% das casas têm coleta de lixo regular, índice abaixo da média nacional, de 83,1%. A destinação do lixo muitas vezes depende de caçambas, o que compromete as condições sanitárias e aumenta os riscos de saúde.
Um dado que chama atenção é que 96,1% das residências nas favelas são casas — muitas construídas em vilas ou pequenos condomínios, uma forma de acomodar o crescimento das comunidades. O levantamento do IBGE também mostrou a força do comércio local: existem 958 mil estabelecimentos comerciais nas favelas, entre eles mais de 616 mil voltados para o comércio e serviços, e quase 51 mil locais de culto. Além disso, cerca de 280 mil imóveis ainda estão em construção ou reforma, refletindo a expansão constante das favelas e a resiliência dos moradores em busca de melhores condições.
Os números revelados pelo Censo 2022 revela um Brasil onde a luta por moradia e infraestrutura básica ainda é uma realidade cotidiana para milhões. Para muitas famílias, o simples acesso a água, esgoto e coleta de lixo já representa um avanço. A pesquisa do IBGE expõe não só as dificuldades, mas também a resistência e a organização dessas comunidades. O que nos chamou a atenção é que a amostragem expões uma questão curiosa: o índice de desenvolvimento humano das pessoas que moram em favelas é muito próximo ao do restante da população. As favelas estão acabando ou o Brasil está se favelizando?
Enquanto políticas públicas mais eficazes não chegam, a população das favelas segue criando suas próprias formas de sobrevivência, carregando uma história de luta e superação que molda o Brasil urbano de hoje. A verdadeira resistência está nas comunidades carentes, que através dos anos têm sobrevivido a muitas dificuldades e a uma série de intempéries, inclusive ao próprio governo.
43,4% dos moradores de favelas estão na região Sudeste. Arte/Agência Brasil |
Ronald Stresser, com informações da Agência Brasil.
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