O avanço do PL nas eleições municipais de 2024: análise de Lara Mesquita à BBC Brasil
As eleições municipais deste ano revelaram um avanço da centro-direita, um encolhimento dos partidos tradicionais de centro e uma recuperação tímida da esquerda, segundo a cientista política Lara Mesquita, do Centro de Política e Economia do Setor Público da Fundação Getulio Vargas (FGV Cepesp). Em entrevista à BBC News Brasil, Mesquita destacou o desempenho notável do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, nas grandes cidades, indicando uma possível mudança no perfil dos eleitores de baixa renda, tradicionalmente alinhados à esquerda.
Desempenho do PL
O PL conquistou dez prefeituras entre as maiores cidades do país no primeiro turno, incluindo as capitais Maceió (AL) e Rio Branco (AC), e disputará o segundo turno em outras 23 cidades. Segundo Mesquita, o bom desempenho do partido nas grandes cidades, onde a população de baixa renda predomina, sinaliza uma mudança significativa. "Esses eleitores, que antes se alinhavam com a esquerda e a pauta trabalhista, agora estão procurando uma alternativa que não encontram nos partidos de esquerda", observou.
Recuperação lenta da esquerda
A cientista política também comentou sobre o tímido retorno da esquerda, especialmente do PT, que sofreu grande retração desde a operação Lava-jato. O partido conquistou apenas duas grandes cidades no primeiro turno e disputará o segundo turno em 13, sendo Fortaleza a única capital. Mesquita salientou que essa recuperação lenta não necessariamente enfraquece o presidente Lula em uma eventual reeleição em 2026, pois "não há uma relação direta entre os resultados das eleições municipais e o desempenho nas eleições para governador e presidente".
'Não tem nenhum estudo que comprove uma relação direta entre o resultado das eleições municipais e o desempenho dos partidos nas disputas para governador e presidente' - Lara Mesquita
O recuo do centrão
Enquanto o PL mostrou força nas grandes cidades, o PSD e o MDB foram os partidos que mais elegeram prefeitos no primeiro turno, com 877 e 844 prefeituras, respectivamente. No entanto, Mesquita destaca que o "centro puro", representado principalmente por PSDB e MDB, está em declínio. O MDB recuperou parte de seu desempenho em relação a 2020, mas ainda está longe dos resultados que alcançava em eleições anteriores, enquanto o PSDB perdeu prefeituras importantes.
Além disso, a cientista política apontou o crescimento do Republicanos, que dobrou o número de prefeitos eleitos em relação a 2020. Ela sugere que esse crescimento pode consolidar o partido como uma força ideológica conservadora de destaque, diferentemente do PL, que, apesar de se posicionar mais à direita, não tem uma tradição de coerência ideológica.
O PT e o Bolsonarismo
Mesquita acredita que o fraco desempenho do PT nas capitais é preocupante, mas que ainda é cedo para afirmar se isso comprometerá o futuro do partido pós-Lula. O PT, embora no controle da Presidência, enfrenta um cenário político mais fragmentado, com uma direita mais ideológica e menos disposta a negociar com o governo.
Sobre o papel de Bolsonaro como cabo eleitoral, Mesquita afirmou que sua influência variou conforme o nível de envolvimento nas campanhas locais. Em cidades como Fortaleza e Belo Horizonte, candidatos apoiados por Bolsonaro chegaram ao segundo turno, enquanto, em São Paulo, o ex-presidente preferiu adotar uma postura mais distante, especialmente em relação ao prefeito Ricardo Nunes (MDB), que também evitou um vínculo forte com o bolsonarismo.
Cenário em mutação
O desempenho eleitoral deste ano reflete mudanças importantes no cenário político brasileiro, com um avanço claro da centro-direita e uma reconfiguração das forças partidárias. O PL, embora tenha conquistado menos prefeituras que PSD e MDB, mostrou força nas grandes cidades, sinalizando um realinhamento de eleitores de baixa renda. Já a esquerda, principalmente o PT, enfrenta uma recuperação lenta, e o centro tradicional continua a perder espaço. Essas transformações serão cruciais para definir as próximas eleições, tanto para o Congresso quanto para a presidência em 2026.
Edição: Ronald Stresser
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