Igreja Universal assume papel de ressocialização que Estado não consegue cumprir
A UNP fazendo seu trabalho de ressocialização carcerária em um presídio de Alagoas - IURD/Divulgação |
Em um cenário onde o sistema carcerário brasileiro está à beira do colapso, com superlotação, violência e a falta de oportunidades para reabilitação, a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), liderada pelo bispo Edir Macedo, tem se destacado por um trabalho de ressocialização que, em teoria, seria responsabilidade do Estado. Através do programa Universal nos Presídios (UNP), a instituição religiosa tem realizado atividades espirituais e sociais em diversas penitenciárias, buscando oferecer aos detentos uma chance de reconstrução moral e espiritual, um trabalho que vem somando muito na ressocialização dos detentos após o cumprimento da pena.
A situação das prisões brasileiras é uma questão de constante debate. O Brasil enfrenta uma população carcerária crescente, em grande parte devido à lentidão da justiça e à ausência de um sistema eficaz de progressão de regime e reintegração social. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o país está longe de alcançar uma situação de pleno emprego, com muitos trabalhadores presos no mercado informal ou em subempregos de baixa remuneração, fatores que contribuem para o aumento da criminalidade. Aqueles que são levados para o sistema prisional muitas vezes encontram um ambiente de violência, abandono e falta de assistência, sem oportunidades reais de reabilitação.
A obra da Universal
Em meio a essa realidade, a Igreja Universal tem se posicionado como uma força de apoio para os presos, assumindo um papel que deveria ser desempenhado pelo Estado. Recentemente, no Presídio de Segurança Máxima de Maceió (PSM2), voluntários do UNP realizaram uma ação significativa, levando a Palavra de Deus aos detentos e promovendo a transformação de suas vidas espirituais. Durante o evento, vários presos aceitaram a fé cristã e participaram da Santa Ceia, um ato simbólico de aliança e renovação espiritual.
O Pastor Antônio Barreto, responsável pelo trabalho no local, afirmou que a verdadeira liberdade só pode ser encontrada através de Jesus Cristo. “Através da Palavra de Deus, eles tiveram a oportunidade de começar uma nova vida com Jesus”, destacou o pastor Felipe Lacerda, coordenador do UNP em Alagoas. Walter Reginaldo, voluntário do UNP, compartilhou sua experiência ao participar da Santa Ceia com os detentos. “Foi algo maravilhoso ver aqueles que estão cativos da sua liberdade, mas livres dos seus cativeiros espirituais. Que trabalho glorioso! Agradeço a Deus por fazer parte dessa obra e poder ajudar os mais necessitados”, afirmou ele.
Ressocialização
O Estado brasileiro, apesar de suas obrigações legais estabelecidas pela Lei de Execução Penal (LEP), falha em cumprir seu papel de ressocializar os detentos. A legislação prevê trabalho, educação e progressão de regime para aqueles que demonstram bom comportamento, mas, na prática, as condições desumanas nas prisões brasileiras frequentemente transformam os presos em especialistas no crime, ao invés de proporcionar uma segunda chance.
O UNP busca preencher essa lacuna, oferecendo mais do que apenas palavras de conforto espiritual. O programa oferece um caminho de reintegração social baseado na fé, ensinando valores morais e promovendo a transformação da mente dos presos. Mesmo diante de um sistema carcerário falido, a Igreja Universal acredita que a mudança é possível, e que, através da religião, os detentos podem encontrar a força para recomeçar.
Desafio
Embora o trabalho da Igreja Universal seja louvável, ele também destaca as deficiências do sistema estatal. De acordo com o artigo 10 da LEP, o Estado é obrigado a prevenir o crime e reintegrar os presos à sociedade. No entanto, a realidade é que os detentos brasileiros enfrentam condições degradantes, falta de infraestrutura e um sistema judicial lento que frequentemente os mantém encarcerados por mais tempo do que o necessário.
O resultado é um ciclo de violência e reincidência criminal, onde a ressocialização parece impossível. A superlotação, a falta de trabalho e a ausência de assistência médica e psicológica nas prisões tornam quase inviável que os detentos retornem à sociedade como cidadãos produtivos.
União pela paz social
A atuação da Igreja Universal nos presídios brasileiros é uma resposta direta às falhas do sistema penitenciário. O trabalho espiritual oferecido pelo UNP tem impactado positivamente a vida de muitos detentos, dando-lhes esperança e uma nova perspectiva de vida. No entanto, essa intervenção religiosa, embora valiosa, não pode ser vista como substituta para o papel que o Estado deveria desempenhar.
O Brasil precisa urgentemente de uma reforma no sistema carcerário que vá além da punição e priorize a reabilitação e a reintegração social dos apenados. Enquanto isso não acontece, iniciativas como a da Igreja Universal continuam a desempenhar um papel fundamental na transformação de vidas dentro de um sistema que, muitas vezes, apenas perpetua a exclusão e a violência. Num país polarizado por ideologias políticas é importante que todos lancemos um olhar amigável para o trabalho da IURD.
Diferenças ideológicas e religiosas devem ser deixadas de lado quando o objetivo é a reconstrução de uma sociedade saudável. Os internos do sistema penitenciário brasileiro, assim como toda e qualquer pessoa, merecem uma segunda chance. O Estado é laico e por isso mesmo existe a oportunidade da reunião de religiosos, sejam eles cristãos ou não, em nome da paz social e daquele que é o maior patrimônio do país, o seu próprio povo.
Ronald Stresser, com informações do IPEA e da Folha Universal.
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