Dinheiro público movimenta campanhas eleitorais em Curitiba, mas contratações de fora e desigualdade entre candidatos marcam disputa
As eleições municipais de 2024 já movimentam milhões em Curitiba, mas o dinheiro que circula nas campanhas nem sempre permanece na cidade. Com um volume de despesas pagas que ultrapassa os R$ 19 milhões na capital paranaense, a maior parte dos recursos tem sido utilizada para contratar profissionais de marketing, comunicação e produção de conteúdo de fora do estado, especialmente do Rio de Janeiro e São Paulo. Esse fluxo de capital contrasta com a realidade de muitos candidatos locais que, mesmo com recursos do fundo eleitoral, encontram dificuldades para fechar suas contas, terminando as campanhas com dívidas acumuladas.
Dinheiro público em campanhas milionárias
De acordo com dados atualizados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as campanhas em Curitiba já registraram R$ 18,97 milhões em despesas pagas, sendo que a maior parte desse valor, cerca de R$ 15,95 milhões (84,1%), foi financiada por recursos públicos, oriundos do fundo eleitoral. Recursos privados cobriram apenas R$ 3,02 milhões do total (15,9%).
Esses números são parte de uma movimentação financeira muito maior no estado do Paraná. Até o dia 19 de setembro, as campanhas eleitorais para prefeito e vereador no estado já tinham pago R$ 118,53 milhões em despesas, dos quais R$ 96,89 milhões (81,75%) vieram do fundo eleitoral.
Na capital, os candidatos a prefeito lideram os gastos, totalizando R$ 13,45 milhões até agora. Já os candidatos a vereador desembolsaram R$ 4,7 milhões, com a previsão de que esses valores cresçam ainda mais nas próximas semanas.
Contratações externas
Apesar da injeção de dinheiro público nas campanhas, muitos candidatos estão contratando empresas e profissionais de fora de Curitiba, esvaziando a economia local. Serviços de marketing digital, publicidade, produção de materiais impressos e vídeos têm sido fornecidos majoritariamente por empresas de São Paulo e Rio de Janeiro. Isso acontece em uma eleição na qual a maior parte dos recursos poderia beneficiar diretamente os profissionais curitibanos das áreas de comunicação e marketing.
Uma análise das despesas mostra que grandes montantes foram pagos a fornecedores de fora, como o Facebook Serviços Online do Brasil (R$ 2,63 milhões) e a Dlocal Brasil Instituição de Pagamento (R$ 1,18 milhão). Enquanto isso, muitas empresas e profissionais locais, que poderiam estar prestando esses serviços, acabam sendo preteridos.
Desigualdade entre candidatos
Embora as campanhas em Curitiba estejam bem financiadas em termos gerais, a distribuição dos recursos é altamente desigual. Alguns candidatos a vereador, especialmente de partidos maiores, têm recebido quantias substanciais, enquanto outros mal conseguem financiar suas campanhas.
No PSD, por exemplo, cinco candidatos a vereador em Curitiba já receberam mais de R$ 100 mil cada um do fundo eleitoral. Professor Wagner lidera a lista com R$ 158 mil, seguido por Fabiano Lazarino (R$ 152 mil), Jornalista Marcio Barros (R$ 142 mil), Rafaela Lupion (R$ 140 mil) e Tico Kuzma (R$ 102 mil). Esses candidatos, todos do partido que também apoia a candidatura de Eduardo Pimentel à prefeitura, estão entre os mais privilegiados no acesso ao fundo eleitoral.
Na coligação da Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV), a vereadora Giorgia Prates (PT) — conhecida como Mandata Preta — lidera a arrecadação com R$ 313,5 mil. Outros candidatos do PT que receberam valores significativos incluem Salete Bez (R$ 305,5 mil) e Vanda de Assis (R$ 292,9 mil). Entre os candidatos do PCdoB, a Professora Amabile é a mais agraciada, com R$ 200 mil. No PV, a atual vereadora Maria Letícia também recebeu R$ 200 mil para sua campanha de reeleição.
Por outro lado, muitos candidatos a vereador em Curitiba enfrentam dificuldades para conseguir financiamento. Partidos menores, como o PSTU e o PCO, praticamente não têm acesso ao fundo eleitoral. Felipe Bombardelli (PCO), por exemplo, não declarou qualquer gasto até o momento, enquanto Samuel de Mattos (PSTU) registrou apenas R$ 30,7 mil em despesas pagas, uma fração ínfima em comparação aos candidatos de legendas maiores.
Dívidas de campanha: problema recorrente
Mesmo com os valores milionários em circulação, muitas campanhas terminam com dívidas. O histórico das eleições anteriores em Curitiba mostra que não é incomum candidatos ficarem devendo fornecedores, uma situação agravada pela má gestão dos recursos e pelo desequilíbrio na distribuição do fundo eleitoral. Em 2020, por exemplo, diversos candidatos não conseguiram quitar seus compromissos após o término das eleições, especialmente aqueles que tiveram campanhas mais modestas e com menos apoio financeiro.
O cenário de 2024 não parece muito diferente, com candidatos menos favorecidos financeiramente lutando para garantir visibilidade em uma corrida marcada pela concentração de recursos nas mãos de poucos. A tendência é que, ao final do processo eleitoral, muitos deles enfrentem dificuldades para honrar seus compromissos, reforçando a disparidade no acesso aos recursos públicos que deveriam garantir uma disputa mais justa e equilibrada.
Opinião
As campanhas eleitorais em Curitiba têm movimentado milhões de reais, mas a maior parte dos recursos está sendo usada de forma concentrada por poucos candidatos e, muitas vezes, beneficia profissionais e empresas de fora da cidade. O acesso desigual ao fundo eleitoral, somado à má gestão dos recursos, coloca muitos candidatos locais em desvantagem, tanto no alcance de suas campanhas quanto na capacidade de fechar suas contas sem contrair dívidas. Enquanto alguns políticos se destacam pela abundância de recursos, outros mal conseguem financiar suas atividades, em um cenário que reforça as desigualdades na disputa política. Em nossa visão, isto é uma vergonha.
Ronald Stresser, da redação. Com informações do DivulgaCandContas do TSE.
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