por: Tabita Said - USP *
Desde a década de 1980, os cientistas acreditam que a coloração de algumas aves está associada a uma dieta rica em carotenoides. Agora, um grupo de pesquisadores confirmou não só de onde vem a cor, mas por onde passam essas substâncias – dentro do organismo dos passarinhos – até chegarem às penas. O estudo contou com uma grande meta-análise, da qual participou Eduardo Santos, professor do Instituto de Biociências – IB / USP.
O grupo de pesquisadores, da Universidade de Auburn e da USP, confirmou que a coloração dos passarinhos está mais associada aos alimentos carotenoides que são metabolizados em seus organismos do que às substâncias que são diretamente “depositadas” nas penas. Nenhum pássaro produz carotenoides endogenamente, mas todos são capazes de converter carotenoides a partir da dieta. Por que, então, alguns animais simplesmente não processam essas substâncias? E mais: qual a diferença na aparência deles?
A coloração com pigmentos carotenoides é uma expressão da seleção sexual. Quanto mais exuberantes são as penas das aves, mais demonstram ser capazes de adquirir alimentos ricos nessas substâncias. E maiores as chances de deixarem mais filhotes.
No vídeo, Santos mostra que os passarinhos mais amarelos tiveram carotenoides adquiridos da dieta, mas que não foram processados. “Esses carotenoides são depositados na pena quando ela está em formação”, conta. Quando são processados, os carotenoides refletem outra “paleta” de cores, que varia entre laranja e vermelho. “E a quantidade de vermelho também varia, seja pelos carotenoides que esses indivíduos conseguiram ingerir ou pelo quanto conseguiram metabolizar”.
Cor e qualidade
Para explicar a relação entre a qualidade da ave e a ingestão de alimentos carotenoides, uma das hipóteses abordadas pelo grupo foi a Demanda Conflitante. Nela, as substâncias seriam divididas entre funções antioxidantes no sistema imune (carotenoides metabolizados) e coloração (não metabolizados). “Se você adquire pouco recurso, tem uma quantidade pequena para alocar entre essas diferentes ‘caixas'”, explica Santos sobre o equilíbrio fino que o organismos dos pássaros tem para direcionar o uso dessas substâncias, dependendo da necessidade.
Já a outra hipótese é a da Rota Compartilhada. Neste caso, o processamento dos carotenoides faria parte da respiração mitocondrial – um importante mecanismo celular, onde ocorre a oxidação (processo fundamental para a produção de energia para a célula). “Nessa hipótese, se o indivíduo está passando por algum tipo de estresse metabólico e as mitocôndrias não estão funcionando, ele não conseguiria produzir tantos pigmentos convertidos para a plumagem”, diz Santos.
Meta-análise
1600 artigos científicos disponíveis online sobre esse mesmo tema foram escolhidos para a meta-análise. Através de ferramentas estatísticas e de cruzamento de dados, os cientistas chegaram a 50 trabalhos. Com os dados extraídos desses trabalhos, Santos e os colegas de Auburn conseguiram demonstrar quais passarinhos utilizam mais os carotenoides metabolizados.
Outro achado do estudo mostra em quais categorias a relação entre a qualidade individual e a riqueza da cor das penas é mais forte. Nos quesitos “resistência a parasitas” e “reprodução”, os carotenoides convertidos apresentaram uma relação mais estreita com condição do que os carotenoides que vêm direto da dieta.
O artigo “Carotenoid metabolism strengthens the link between feather coloration and individual quality” foi publicado na Revista Nature Communications.
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Fonte: * USP - Núcleo de Divulgação Científica | "De onde vem a cor dos passarinhos?" (reprodução)
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