sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Lula diz que Brasil não tem pressa em retalhar EUA

Lula, de boné e sem pressa: “O Brasil é dos brasileiros” na resposta ao tarifaço de Trump

Por Ronald Stresser — Sulpost 

 

© Ricardo Stuckert / PR


Na manhã desta sexta-feira, 29 de agosto de 2025, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva posou para fotos com um adereço carregado de simbolismo: um boné estampado com a frase “O Brasil é dos brasileiros”. Uma clara resposta aos estadunidenses e seus associados, que usam o boné vermelho, com as iniciais “MAGA”. Era mais do que um detalhe estético — era uma mensagem política. Entre sorrisos e firmeza, Lula falou sobre soberania, comércio exterior e combate ao crime organizado, traçando um retrato de um país que não aceita ser submisso, mas que também não abre mão do diálogo.

A reciprocidade com os Estados Unidos

O pano de fundo é a escalada tarifária promovida pela administração norte-americana. Desde abril, produtos brasileiros foram alvo de sobretaxas; em 6 de agosto entrou em vigor uma sobretaxa adicional que, na prática, eleva a alíquota sobre parte das exportações brasileiras para até 50%. Frente a isso, o governo brasileiro aprovou e sancionou a Lei da Reciprocidade, que autoriza respostas a medidas unilaterais de parceiros comerciais. A Câmara de Comércio Exterior (Camex) já iniciou o processo, que prevê, entre etapas formais, a notificação dos Estados Unidos.

Eu não tenho pressa de fazer qualquer coisa com a reciprocidade contra os Estados Unidos. Tomei a medida porque eu tenho que andar o processo”, disse Lula em entrevista à Rádio Itatiaia, em Belo Horizonte. Para o presidente, o objetivo é combinar firmeza com abertura ao diálogo: “Se o Trump quiser negociar, o Lulinha paz e amor está de volta”.

Lula explicou que, seguindo estritamente os trâmites da Organização Mundial do Comércio (OMC) e a legislação internacional, o caminho pode se alongar por meses. Por isso, argumentou, é preciso começar agora — notificar, registrar ações e, ao mesmo tempo, tentar acelerar negociações bilaterais que limitem os danos aos produtores e exportadores brasileiros. Especialistas dizem que sobretaxar os produtos americanos poderia gerar inflação.

Paciência estratégica e soberania

O presidente reiterou que o governo busca negociar, mas também deixou claro que não aceitará imposições que coloquem em risco a competitividade e a soberania do país. “Se as autoridades norte-americanas quiserem negociar sério com o Brasil, nós estaremos dispostos a negociar 24 horas por dia”, afirmou.

Lula mencionou a missão liderada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, com participação dos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e das Relações Exteriores, Mauro Vieira, como a linha diplomática para buscar interlocução em Washington — uma interlocução que, até o momento, tem esbarrado em falta de abertura por parte de autoridades americanas, segundo o presidente.

O outro front: o crime organizado

A conversa com a imprensa também tocou em outro tema sensível: as operações que investigam o uso da cadeia de combustíveis para lavagem de dinheiro de facções criminosas. Lula classificou a ação como “a operação mais importante da história” por mirar o chamado “andar de cima” — empresas, fundos e estruturas financeiras que, segundo as investigações, teriam sido usadas para ocultar recursos.

O crime organizado hoje é uma multinacional. Está na política, no futebol, na Justiça, em tudo quanto é lugar”, disse o presidente, apontando para a sofisticação das alianças ilícitas e para a necessidade de investigação que alcance os elos mais altos da cadeia. A Justiça Federal autorizou o sequestro de recursos e bloqueio de bens — somando, até o momento, um montante próximo a R$ 1,2 bilhão, valor correspondente às autuações fiscais realizadas.

Entre a negociação e a firmeza

Num mesmo gesto — boné na cabeça, fala afável e tom firme — Lula tentou sintetizar a estratégia do governo: começar os trâmites legais para se defender internacionalmente, ao mesmo tempo oferecendo a mão estendida para negociações com quem demonstrar disposição real para tratar o Brasil como parceiro e não como plateia.

Em um país que depende do comércio exterior para parcelas importantes de sua economia e enfrenta desafios institucionais internos, o recado ecoa em dois sentidos: é preciso resguardar os interesses nacionais sem abandonar a via diplomática; e, internamente, é urgente fortalecer os mecanismos que impedem o avanço do crime organizado sobre a economia.


Com informações da Agência Brasil - Edição: Ronald Stresser para o Sulpost.

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