O colapso que se esconde atrás das manchetes: o alerta de Richard Wolff sobre um império à beira do abismo
Por Ronald Stresser | Editorial, para o SulpostAlgo não fecha. A economia dos números parece sorrir, mas o rosto das ruas expressa desalento. Os lucros das grandes corporações se multiplicam enquanto o trabalhador comum, esse que carrega nas costas o peso do sistema, mal consegue pagar as contas no fim do mês. E nessa dissonância desconcertante, o economista Richard Wolff lança um alerta: o colapso não é uma falha — é parte do plano.
Em um vídeo recente, Wolff não faz rodeios. Ele olha nos olhos do sistema e revela: a crise que estamos vivendo — e a que ainda está por vir — não é um desvio de rota, mas o destino natural de um modelo desenhado para concentrar riqueza e poder nas mãos de poucos. Segundo ele, a guerra comercial entre Estados Unidos e China é apenas a superfície de uma batalha muito mais profunda: a guerra de classes.
A encruzilhada histórica que o Ocidente não quer enxergar
Enquanto Europa e Estados Unidos parecem presos ao passado, a China avança com uma velocidade que assusta — não pelo autoritarismo, como muitos gostam de argumentar, mas pela eficiência de um modelo híbrido que une planejamento estatal com força de mercado. E isso, diz Wolff, desestabiliza o imaginário ocidental que sempre vendeu o capitalismo liberal como a única via possível para o progresso.
Mais desconcertante ainda: a China não seguiu cegamente o Ocidente. Ela observou, adaptou e criou um caminho próprio. E nesse caminho, milhões saíram da pobreza. Cidades foram erguidas em meses. A inovação floresceu, sem depender do aval de Wall Street ou do FMI.
O fantasma da desindustrialização e a classe média traída
Wolff toca num ponto nevrálgico: a transferência da produção industrial para países de mão de obra barata destruiu a espinha dorsal da classe média americana. O pai que trabalhava numa fábrica agora dirige Uber. A mãe que montava peças virou entregadora de aplicativo. O sonho foi terceirizado — e com ele, a dignidade.
Enquanto isso, uma elite financeira corre em círculos, tentando manter o controle de uma narrativa que já não convence. O sistema se alimenta de quem produz e engorda quem especula. Quando o colapso não vem com explosões, ele vem com silêncio. Um silêncio que apodrece por dentro.
Trump, tarifas e a “economia performática”
E então aparece Donald Trump. Para Wolff, a política econômica do ex-presidente não passa de um “Hail Mary” — aquela jogada desesperada no fim do jogo. As tarifas contra a China foram mais barulho do que estratégia, mais marketing do que solução. Elas aumentaram o custo de vida, precarizaram cadeias produtivas e serviram, no fundo, para esconder a falência de um modelo.
A classe trabalhadora, que esperava a volta dos empregos, recebeu apenas slogans e uma conta mais alta no mercado. “Trump reinventou o imposto”, diz Wolff, “mas o disfarçou de patriotismo.”
O império balança — e a máscara cai
As tarifas, porém, são só uma das engrenagens de uma máquina muito maior. Wolff afirma que o verdadeiro poder está nas mãos de quem financia a dívida pública americana: bilionários, bancos e fundos que emprestam ao Estado e recebem de volta com juros generosos, pagos com o sacrifício dos que menos têm. A desigualdade não é um efeito colateral — é o motor.
A crise, afirma o economista, é um projeto político. Um plano bem gerido que transforma o Estado num refém da elite econômica. A democracia vira fachada. E o cidadão comum, aquele que vota e paga impostos, vira apenas um detalhe estatístico.
O que vem depois?
O que vem depois, talvez nem Wolff saiba. Mas ele deixa pistas. O modelo chinês, com todos os seus defeitos, ainda parece tentar administrar suas contradições. Já os Estados Unidos preferem maquiar suas rachaduras com discursos vazios sobre liberdade e empreendedorismo.
Enquanto isso, uma geração inteira descobre que o esforço individual não basta. Que o mérito, num sistema viciado, é privilégio de poucos. E que, no fim, a luta de classes não está nos livros de história — ela está nas ruas, nas greves, nas contas atrasadas e na ansiedade coletiva que não tem nome, mas tem causa.
Conclusão: o império grita no escuro
Na visão de Richard Wolff, os Estados Unidos já não são uma potência em ascensão. São um império que grita no escuro, fingindo força enquanto perde o controle. A guerra comercial com a China é só o pano de fundo de um espetáculo onde a plateia já começou a sair da sala. A peça, ao que parece, está perto do fim.
Mas a história ainda está sendo escrita. E talvez, no intervalo entre o colapso e a reconstrução, resida a chance de imaginar um novo futuro — um em que a vida valha mais do que o lucro, e a dignidade não seja um luxo para poucos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário