O vaivém do diesel: como a queda no preço da Petrobras mexe com o Brasil que se move
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Na beira da estrada, o caminhoneiro Edvaldo olha o céu cinza do fim de tarde e faz as contas no caderninho. Cada centavo economizado no diesel é uma pequena vitória para quem vive com o pé na estrada e carrega o país nas costas — literalmente. "Diz que vai baixar. Tomara que baixe mesmo pra gente, não só no papel", diz ele, enquanto abastece o tanque de 700 litros do seu bruto.
A esperança de Edvaldo não é isolada. Nesta sexta-feira (18), a Petrobras reduziu, pela segunda vez em abril, o preço médio do diesel nas refinarias. Com queda de 3,4%, o litro vendido às distribuidoras passou a custar R$ 3,43 — um alívio tímido, mas simbólico, que ocorre no rastro da queda do petróleo no mercado internacional.
Nas últimas semanas, o barril do tipo Brent despencou de US$ 75 para US$ 65, puxado por temores de recessão global após a nova ofensiva tarifária de Donald Trump. Com a ameaça de uma guerra comercial entre Estados Unidos e seus adversários, o mundo apertou o freio — e o preço do petróleo seguiu o mesmo caminho.
Apesar disso, a redução ainda é cercada de incertezas. O corte de R$ 0,12 por litro é bem abaixo dos R$ 0,30 que analistas consideravam possíveis. Para Eduardo Oliveira de Melo, sócio-diretor da Raion Consultoria, a decisão da Petrobras foi conservadora. “Ela está no meio do caminho. O petróleo já dá sinais de recuperação, e isso pesou para não aprofundar a redução.”
A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, reforçou que os reajustes seguem critérios técnicos, mas também sociais. “Olhamos para o mercado, mas também para o que é bom para o Brasil”, afirmou, em coletiva na véspera.
Preço na bomba
Mesmo com o corte nas refinarias, o impacto imediato nos postos é incerto. O diesel vendido ao consumidor final, o chamado diesel B, é composto por 86% de diesel A (da Petrobras) e 14% de biodiesel. Com essa mistura, a redução efetiva no preço deve ser de apenas R$ 0,10 por litro na bomba — isso se distribuidores e revendedores repassarem o valor.
E nem sempre repassam. Entram na conta os tributos, os custos logísticos, as margens de lucro. Tudo isso faz com que a queda anunciada com alarde muitas vezes desapareça no caminho até o posto da esquina. “É como se o preço tivesse que enfrentar um pedágio atrás do outro antes de chegar ao consumidor”, brinca um economista do setor.
Impacto no frete e nos preços ao consumidor
Por trás desse valor aparentemente técnico, existe um efeito em cascata que afeta toda a economia. O diesel é o combustível dos caminhões — e, portanto, do frete, da comida que chega no supermercado, do material escolar, das roupas, do gás. Segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT), cada 10 centavos a mais no litro do diesel impactam em até 2% o custo do transporte rodoviário de cargas.
Desde dezembro de 2022, o preço do diesel nas refinarias já caiu R$ 1,06 por litro, uma retração de 23,6%. Quando ajustado pela inflação, a redução real é ainda mais expressiva: 31,7%. Ainda assim, o combustível segue caro para os padrões brasileiros e representa um peso significativo no custo de vida.
Entre acionistas e caminhoneiros
Essa gangorra de preços escancara uma encruzilhada para a Petrobras, que tenta equilibrar o interesse dos acionistas — especialmente os privados — com a função social que exerce no país. No início do ano, investidores chegaram a ameaçar recorrer à Justiça para obrigar a estatal a subir os preços dos combustíveis, por conta da defasagem em relação ao mercado internacional.
Agora, a situação se inverte. Com o preço alinhado ao patamar de importação, como explica o consultor Thiago Vetter, há o risco de o diesel nacional voltar a ficar abaixo do valor externo. Isso pode desestimular importadores e gerar desequilíbrio no abastecimento, já que o Brasil ainda importa cerca de 30% do diesel que consome.
Cenário instável
Em meio à turbulência internacional, Magda Chambriard chegou a declarar que não faria nenhum movimento de preços “enquanto o cenário geopolítico estiver com essa ansiedade”. Mas, dias depois, anunciou o corte. Analistas interpretaram o gesto como um sinal de que a estatal ainda busca um caminho viável entre o pragmatismo técnico e a pressão política.
No fim das contas, quem paga — ou economiza — é o brasileiro comum. O frete mais caro encarece o feijão. O diesel mais barato, se de fato chegar ao bolso do consumidor, pode aliviar o preço da batata e do pão. E para quem vive da estrada, como Edvaldo, é também uma questão de dignidade.
“Só queria ver esse negócio de baixar o diesel ser de verdade. Porque, pra nós, cada centavo faz diferença. É o que bota comida na mesa lá em casa.”
Enquanto isso, o país segue em marcha lenta, torcendo para que o próximo reajuste venha no sentido certo da estrada.
*com informações da Forbes e Petrobras.

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