Alívio no bolso: inflação desacelera em março para todas as faixas de renda, mas o peso da comida ainda aperta os mais pobres
Por Ronald Stresser*| Marcelo Casal / Agência Brasil |
No fim do mês, quando o salário mal dá conta de esticar até o mercado, qualquer respiro no preço dos produtos é bem-vindo. Em março, esse respiro chegou – ainda que tímido. A inflação pisou no freio para todas as faixas de renda, segundo os dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Mas como toda boa notícia no Brasil, ela vem acompanhada de um “mas”: para quem tem menos, o alívio foi desigual, especialmente na hora de encher o carrinho do supermercado.
Para as famílias de renda mais baixa, a inflação caiu de 1,59% em fevereiro para 0,56% em março. Um recuo expressivo, impulsionado principalmente por tarifas mais comportadas de energia elétrica – que saltaram 16,8% no mês anterior e, agora, subiram apenas 0,12% mas assombradas pelo fantasma da bdndeira tarifária que pode voltar em breve. Além disso, as passagens de ônibus urbano e metrô também ficaram mais baratas, com quedas de 1,1% e 1,7%, respectivamente. São pequenas vitórias em gastos que pesam no dia a dia de quem depende do transporte público e vive com orçamento contado.
Na outra ponta, entre os mais ricos, a desaceleração também apareceu, embora de forma mais discreta: de 0,9% para 0,6%. O que puxou esse alívio foi o grupo educação, que havia sofrido um baque em fevereiro com os reajustes das mensalidades escolares. Com esse efeito passando, o índice esfriou.
No acumulado de 12 meses, o retrato segue parecido: inflação de 5,24% para a faixa de renda muito baixa e 5,61% para a alta. Em termos percentuais, parece pouco. Mas quem vai ao mercado sente a diferença no detalhe: um centavo a mais no café, outro no leite, e, de repente, a conta ficou R$ 30 mais cara.
Comida pesa mais para quem tem menos
É justamente na alimentação que a desigualdade do índice se escancara. Em março, produtos essenciais da cesta básica subiram forte. Ovos ficaram 13,1% mais caros, o tomate disparou 22,6%, e o café – vício nacional – subiu 8,1%. O leite também seguiu em alta, com 3,3%.
Em contrapartida, itens como arroz (-1,8%), feijão-preto (-3,9%), carnes (-1,6%) e óleo de soja (-2%) aliviaram um pouco. Ainda assim, o grupo de alimentos e bebidas apresentou alta, pressionado pelos produtos que mais pesam no prato de quem vive com menos.
“É aquela velha história: a inflação pode até cair, mas a comida continua cara”, resume Dona Neide, 64 anos, aposentada, que mora em São Gonçalo (RJ) com duas netas. “O tomate eu já desisti. Agora a gente compra menos e tenta aproveitar até o talo”, conta, rindo com leveza, mas sem esconder a preocupação.
Impactos diferentes, bolsos diferentes
Enquanto os mais pobres lidam com a instabilidade dos alimentos, os mais ricos sentiram maior pressão em áreas como transporte e lazer. As passagens aéreas subiram 6,9%, e os serviços ligados à recreação e lazer tiveram alta de 1,2%. No acumulado dos últimos 12 meses, os vilões são conhecidos: carnes (21,2%), óleo de soja (24,4%), leite (11,9%) e o campeão da inflação, o café, com impressionantes 77,8%.
Em saúde e cuidados pessoais, outro setor que atinge todas as camadas da sociedade, os reajustes também não deram trégua: produtos farmacêuticos e itens de higiene subiram 4,8%, enquanto planos de saúde ficaram 7,3% mais caros.
Perspectiva cautelosa
Apesar da desaceleração em março, a tendência ainda exige cautela. Os preços continuam sensíveis a variações climáticas, choques internacionais e políticas de reajuste. Para as famílias brasileiras, a inflação é mais que um número – é o que determina se o carrinho vai cheio ou pela metade, se o mês termina com feijão ou só esperança no prato.
Enquanto isso, o alívio que veio em março é comemorado com pés no chão. Porque, no Brasil, a economia costuma andar como as filas de mercado em dia de promoção: devagar, aos trancos – mas quando melhora um pouco, já vale a celebração. Mesmo que seja só com um cafezinho… mais caro.
*com informações da Agência Brasil.

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