Europa sinaliza acordo de “tarifa zero” com os EUA para bens industriais: “Estamos prontos para um bom acordo”
Por Ronald Stresser*Operadores trabalham no pregão da Bolsa de Nova York, em 07/04/25 - AFP |
No cerne de um cenário global pressionado por uma severa tensão econômica, a União Europeia estendeu um ramo de oliveira aos Estados Unidos, propondo um ousado acordo de “tarifa zero” para bens industriais. A iniciativa surge como resposta direta à imposição de tarifas de 20% por parte do governo Donald Trump, anunciado semana passada, reacendendo as preocupações sobre uma nova escalada protecionista dos EUA.
“Oferecemos tarifas zero para bens industriais, como já fizemos com sucesso com muitos outros parceiros comerciais”, declarou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, nesta segunda-feira, ao lado do primeiro-ministro norueguês Jonas Gahr Støre. Em tom firme, mas conciliador, completou: “A Europa está sempre pronta para um bom acordo. Então, mantemos essa proposta sobre a mesa.”
Von der Leyen foi além: “Estamos prontos para negociar com os Estados Unidos. Mas também estamos preparados para responder com contramedidas e defender nossos interesses.”
A proposta europeia visa eliminar tarifas sobre setores como produtos químicos, farmacêuticos, borracha, plásticos, máquinas industriais e automóveis. O comissário de Comércio da UE, Maroš Šefčovič, da Eslováquia, confirmou que o objetivo é abrir caminho para um comércio mais fluido, especialmente diante do impacto das novas medidas tarifárias anunciadas por Donald Trump.
Na semana passada, o ex-presidente norte-americano — e agora novamente figura central na política comercial dos EUA — surpreendeu o mundo com o anúncio de uma tarifa global base de 10%, apelidada por ele de “Dia da Libertação”. A medida, que entra em vigor oficialmente em 9 de abril, inclui também um aumento de 25% nas tarifas sobre carros fabricados fora dos EUA.
A reação nos mercados foi imediata. O índice pan-europeu STOXX Europe 600 despencou 6% logo na abertura desta segunda-feira, refletindo o nervosismo dos investidores. No entanto, os comentários de von der Leyen ajudaram a conter a sangria, encerrando o dia com uma perda menos drástica, de 2,9%.
A proposta da UE surge como tentativa de evitar um confronto comercial mais amplo, especialmente após as tarifas anteriores impostas por Trump sobre o aço e o alumínio — que continuam sem uma resposta definitiva por parte dos europeus.
Entre os que enxergam uma luz no fim do túnel está Elon Musk. Em tom otimista, o bilionário responsável pela Tesla e SpaceX — e agora à frente do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) — declarou estar “esperançoso” quanto à possibilidade de um acordo. “Espero que os Estados Unidos e a Europa possam estabelecer uma parceria muito próxima”, disse. “Na prática, isso criaria uma zona de livre comércio entre a Europa e a América do Norte.”
Esse sonho já esteve mais próximo de virar realidade durante o segundo mandato de Barack Obama, quando as negociações do Acordo Transatlântico de Comércio e Investimento (TTIP) avançavam bem. Mas tudo ruiu em 2016, após o vazamento de documentos pelo Greenpeace, que gerou forte reação pública. Diferenças entre regulamentações alimentares dos dois lados do Atlântico também emperraram os diálogos.
As tratativas do TTIP foram oficialmente encerradas durante o primeiro mandato de Trump, em 2019. Agora, com os ventos mudando — e os mercados em alerta —, resta saber se Washington e Bruxelas conseguirão transformar a tensão em oportunidade e reabrir as portas para um novo pacto comercial.
O mundo assiste. E espera.
*Com informações do New York Post
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