segunda-feira, 7 de abril de 2025

Chegada do outono deixa Brasil em alerta contra queimadas

CHAMAS QUE NÃO SE APAGAM: O Brasil que ainda queima e a urgência de um basta

Por Ronald Stresser

 
Carl de Souza - AFP
 

No coração do Brasil, onde a natureza deveria pulsar com vida, o que se vê, cada vez com mais frequência, é fumaça, cinzas e devastação. De Roraima ao Pantanal, passando por rodovias de cidades como São Carlos, as queimadas criminosas se espalham como um rastro de pólvora, impulsionadas pela ganância e pela impunidade.

Na última quinta-feira (3), a Polícia Federal deflagrou a operação “Chama Clandestina” em Caracaraí (RR), a 140 quilômetros da capital Boa Vista. O alvo: fazendeiros suspeitos de provocar queimadas ilegais em áreas de vegetação nativa. A motivação? Econômica, ligada à atividade pecuária. Os responsáveis podem responder por crime ambiental — mas até quando vamos apenas investigar, e não punir exemplarmente?

As ações fazem parte do Plano Amazônia: Segurança e Soberania (AMAS), do Ministério da Justiça, que vem usando sistemas aéreos de monitoramento. Apesar do avanço tecnológico, o cenário ainda é alarmante: o fogo segue servindo como ferramenta de expansão agropecuária, sob um discurso antigo de desenvolvimento que ignora os limites da sustentabilidade e da legalidade.

Pantanal em alerta — e em chamas

Se há um retrato claro da irresponsabilidade ambiental no Brasil, ele está no Pantanal. Um levantamento do Ministério Público de Mato Grosso do Sul revela que, nos últimos cinco anos, 33 fazendas foram responsáveis por quase 18% da área devastada por incêndios. Sozinhas, essas propriedades queimaram cerca de 1 milhão de hectares — uma área maior que o território do Distrito Federal.

Mesmo diante desses números gritantes, a responsabilização ainda é tímida. Em 2023, das 147 ignições registradas, apenas 75 foram vistoriadas e, dessas, apenas quatro resultaram em multas. Um número que escancara a fragilidade da fiscalização frente à magnitude do crime.

Luciano Furtado Loubet, diretor do Núcleo Ambiental do MPMS, afirma que o foco das autoridades está na prevenção, com orientações sobre manejo integrado do fogo. Mas diante de propriedades reincidentes, onde o fogo “começa sozinho” três vezes em cinco anos, até quando será possível tratar o problema apenas com diálogo?

Estradas tomadas pelo fogo, visibilidade engolida pela fumaça

Em São Carlos (SP), as queimadas às margens das rodovias SP-215 e SP-310 trouxeram mais que prejuízo ambiental: colocaram vidas em risco. A fumaça espessa comprometeu a visibilidade de motoristas, exigindo interdições e ações emergenciais do Corpo de Bombeiros. A origem? Queima irregular de entulho — prática ainda comum, ainda ignorada, ainda impune.

O contraste com o esforço do poder público é evidente. O Governo de São Paulo investiu R$ 260 milhões em equipamentos e operações contra incêndios em 2024 — um recorde. Só em aeronaves e combustível para combate aéreo foram mais de R$ 18 milhões. O Departamento de Estradas de Rodagem (DER) também ampliou contratos de roçada e capina para conter o avanço do fogo. Mas o investimento perde força se a legislação não acompanhar com o mesmo rigor.

Tolerância zero: a única saída possível

O Brasil não pode mais tolerar o fogo que consome nossas florestas, nossa fauna, nossa segurança e nossa dignidade ambiental. A leniência com os crimes ambientais é um convite para novas tragédias. É hora de endurecer. De aplicar multas pesadas, como as que a nova legislação prevê — R$ 3 mil por hectare atingido, dobrando em casos graves. De responsabilizar quem lucra com a destruição. De entender que não se trata apenas de natureza, mas de vidas humanas em risco, de ecossistemas inteiros à beira do colapso.

O fogo não começa sozinho. E quando criminosamente aceso, precisa ser combatido com rigor, sem acordos ou omissões. O Brasil precisa queimar, sim — mas de indignação. E agir, com urgência, para apagar de vez essa página vergonhosa da nossa história ambiental. 

A floresta não fala, nós sim. É hora de gritar por justiça. Tolerância zero para crimes ambientais já!

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