quinta-feira, 14 de novembro de 2024

O “Unabomber” de Brasília e Sua Única Bomba

Lobo solitário: Unabomber à brasileira explode a si mesmo em atentado surreal

Por: Ronald Stresser / Novembro de 2024

 
Fotomontagem: Unabomber/AP e Tiü França/Facebook
 

É, a Praça dos Três Poderes tem histórias de sobra, mas o atentado de ontem trouxe um novo capítulo, no mínimo curioso. Brasília viveu momentos de tensão e perplexidade com o ataque planejado por Francisco Wanderley Luiz, o Tiü França, de 59 anos. Nascido em Rio do Sul, no interior de Santa Catarina, e com um passado, digamos, controverso, Tiü se explodiu enquanto tentava, pasmem, realizar um atentado contra a Justiça – e não apenas metaforicamente.

Na prática, ele tentou explodir a estátua da Justiça em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF). No melhor estilo dos lobos solitários, Tiü França parece ter seguido a trilha de infâmia do Unabomber americano, Ted Kaczynski, com uma diferença crucial e, ironicamente, cômica: seu arsenal de destruição consistia em uma única bomba. Ou, como podemos apelidar, a "una bomba" do Unabomber brasileiro.

Tiü era um terrorista doméstico que, ao contrário do seu “colega” americano, mostrou que seu alcance explosivo era bem limitado. Ele conseguiu apenas acionar o dispositivo, que explodiu... nele mesmo. Foi um ataque no estilo “foi, mas não voltou”. Até tentava passar uma imagem de grandiosidade nas redes sociais, onde publicou um vídeo de si mesmo ao som da música “Unstoppable” de Sia. Só que, ao final, o único jogo que Tiü França ganhou foi o de si mesmo. (Veja o vídeo no rodapé).

Para piorar (ou tornar o episódio ainda mais surreal), a Polícia Federal encontrou hoje seu “esconderijo” em Brasília. Em uma cena digna de filme de ação (ou de comédia de humor negro), os agentes quase caíram em outra armadilha de Tiü. Uma bomba foi descoberta numa gaveta, mas, felizmente, um robô foi encarregado de examinar o local antes que houvesse vítimas adicionais. A Polícia Federal investiga para saber se ele também teria participado dos atos antidemocráticos do 8 de janeiro e se existe alguma conexão destes grupos com o atentado.

Tiü França, que já havia tido uma série de encrencas judiciais, desde violência doméstica até infrações sanitárias, parecia ter encontrado um novo propósito no radicalismo. Ele até criou uma contagem regressiva online, anunciando sua grande “revolução” em 13 de novembro. Para ele, essa data representava uma “nova proclamação da república”, segundo suas postagens agora deletadas.

É claro que o atentado também remete ao episódio trágico de 8 de janeiro de 2023, quando o país viu sua democracia ser atacada por uma horda de fanáticos que transformaram a capital em um cenário de caos e destruição. São novos tempos, com novos desafios de segurança, e Tiü é um exemplo extremo dos lobos solitários que surgem alimentados por ideologias distorcidas e convicções perigosas.

Ao fim, o “Unabomber Tupiniquim” – que cometeu um atentado único e, com ele, encerrou sua jornada explosiva – deixa um lembrete inquietante. Mesmo com todo o absurdo do caso, é mais um episódio que nos desafia a pensar nos perigos da radicalização e na importância de manter nossos olhos bem abertos. Afinal, a democracia é coisa séria, e histórias como a de Tiü nos fazem lembrar que, por mais tragicômicas que possam parecer, são um sinal de alerta para todos nós.

Um comentário:

  1. Excelente texto, Stresser! analítico e ao mesmo tempo irônico.

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