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terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Laques, de Platão, uma conversa sobre coragem

Platão, por Raphael (c.1511)
Laques é um diálogo socrático de autoria de Platão. Seus participantes, Laques e Sócrates, apresentam definições concorrentes sobre o conceito de coragem:

“Laques, você acha que a coragem é algo bom ou reprovável?”

“Algo bom, certamente.”

“E quanto à tolice? É também uma coisa boa?”

“De forma alguma, Sócrates. A tolice é reprovável.”

“Imaginemos agora dois homens. Um sabe mergulhar, o outro nunca entrou na água. Ambos são desafiados a fazer um mergulho até o fundo do mar. Ambos aceitam o desafio, com grande perseverança de espírito. Qual dos dois é o mais corajoso?”

“O que não sabe mergulhar, é claro.”

“Contudo, qual dos dois é o mais tolo? O que tem o devido conhecimento técnico das artes do mergulho, ou o que se enfia na água sem mal saber nadar?”

“O mais tolo, nesse caso, é o mergulhador inexperiente.”

“Você havia me dito que a coragem é algo bom, enquanto a tolice é reprovável. Mas agora chegamos à conclusão de que, nesse caso, o mais corajoso não é o mais perseverante, e sim o mais tolo.”

“É fato, Sócrates.”

“Você continua achando que sua definição está correta?”

“De forma alguma. Eu estava errado. Que coisa estranha, Sócrates! Parece que não consigo expressar em palavras o que parecia claro em meu pensamento; sinto que sei o que é a coragem, mas, se tento defini-la, ela me passa a perna e foge de mim.”

“Ora, meu caro Laques, sejamos então como o bom caçador, que jamais desiste de perseguir sua presa. Tenhamos perseverança de espírito. Avante!”

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