quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Sexismo no Governo Federal é empecilho para ascensão na carreira

Sexismo no Governo Federal: Barreiras à Igualdade Persistem no Século XXI  

 
© MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL
 

Uma pesquisa recente revelou um retrato alarmante do sexismo e do machismo enraizados no ambiente de trabalho do Executivo federal. O estudo, realizado pelo Movimento Pessoas à Frente e coordenado pela pesquisadora Michelle Fernandez, da Universidade de Brasília (UnB), ouviu 70 servidoras públicas em cargos de chefia para entender os desafios enfrentados pelas mulheres em busca de igualdade de oportunidades.  

Os números falam por si: seis em cada dez mulheres em cargos de liderança na esfera federal apontam o sexismo como um empecilho direto à ascensão profissional. A estrutura machista, o assédio moral e a desvalorização da maternidade aparecem como barreiras estruturais, segundo os dados coletados.  

A Realidade do Sexismo 

Mais da metade das entrevistadas (45,7%) relataram experiências de desrespeito no trato cotidiano, enquanto 71,4% destacaram a dificuldade em conciliar a carreira com os cuidados familiares. Além disso, 72,8% enfrentam cobranças excessivas e expectativas de excelência desproporcionais em relação a seus pares masculinos.  

Jessika Moreira, diretora executiva do Movimento Pessoas à Frente, sublinhou o impacto profundo dessas condições:  

“As mulheres, especialmente as negras, precisam ser infinitamente melhores que os homens para ocupar as mesmas posições. A maternidade, mesmo para aquelas que não são mães, é vista como um impeditivo para cargos de chefia. Isso revela como o sistema ainda desqualifica a mulher enquanto profissional.”  

Desigualdades Estruturais

Embora representem 42% dos cargos de chefia no Executivo federal, as mulheres são minoria absoluta nos postos de maior destaque. Apenas 27% ocupam funções de natureza especial, como secretarias executivas, e as mulheres negras representam um ínfimo 8% nessas posições.  

Essa desigualdade é um reflexo de um cenário mais amplo: o Brasil ocupa o último lugar na América Latina em participação feminina em cargos de liderança, conforme um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).  

Caminhos para a Igualdade 

Entre as soluções apontadas pela pesquisa, destacam-se políticas afirmativas para mulheres, como a reserva de 50% dos cargos de liderança, além de capacitação, mentoria e políticas inclusivas para mães e gestantes.  

Michelle Fernandez, coordenadora do estudo, ressalta que o avanço dessas medidas é essencial para que o funcionalismo público reflita a diversidade da população brasileira:  

“Ambientes de trabalho mais igualitários não apenas corrigem injustiças históricas, mas também promovem decisões mais representativas e eficazes.”  

O documento “Mulheres no Serviço Público – Recomendações para Acesso, Ascensão e Permanência”, lançado durante o Congresso Internacional do CLAD, propõe diretrizes para transformar essa realidade.  

Uma Mudança Urgente e Necessária

O sexismo no governo federal não é apenas uma questão de desigualdade, mas um entrave ao desenvolvimento de um país mais justo. A luta por um ambiente de trabalho equitativo exige o comprometimento de toda a sociedade. Combater o machismo estrutural e promover políticas inclusivas são passos indispensáveis para garantir que as decisões no poder público sejam, de fato, tomadas em benefício de todos.  

Se o Brasil almeja uma administração pública moderna e eficiente, deve começar por erradicar práticas que perpetuam a exclusão e a desigualdade.

Edição: Ronald Stresser

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